Nesta terça-feira, dia 11 de junho, o Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto, anunciou anulação do leilão para importação de arroz. A licitação realizada na quinta-feira, dia 6 de junho, pretendia adquirir 263 mil toneladas de arros importado, no valor estimado de R$ 1,3 bilhões.
O cancelamento acontece supostamente devido à incapacidade técnica e financeira de algumas das empresas ganhadoras da aquisição. Segundo o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar Paulo Teixeira, o cancelamento teria o endosso de Lula, do presidente da Conab, Edegar Pretto e o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro.
“Pretendemos fazer um novo leilão, quem sabe em outros modelos, para que a gente possa ter as garantias de que vamos contratar empresas que tenham capacidade técnica e financeira […]. A decisão é anular este leilão e proceder um novo mais ajustado, vendo todos os mecanismos possíveis para a gente contratar empresas com capacidade de entregar arroz com qualidade, a preço barato para os consumidores”. Anunciou Pretto do Palácio do Planalto.
Fávaro declarou: “hoje [terça-feira], pela manhã, o secretário Neri Geller me comunicou, fez ponderação, quando filho dele estabeleceu sociedade com esta corretora do Mato Grosso, ele não era secretário de político agrícola. Não há fato que desabone ou que gere qualquer tipo de suspeita, mas que de fato gerou transtorno, e por isso colocou cargo a disposição”.
Qual o era o objetivo do leilão?
Considerando ainda a situação de calamidade pública no Rio Grande do Sul, que produz mais de 70% dos grãos do país e teve ao menos 15% de suas lavouras destruídas pela inundação, sendo desconhecida a situação dos grãos estocados com umidade extrema, que poderiam ocasionar desabastecimento.
Face à extinção dos estoques da Conab pelo governo Bolsonaro, utilizados apara regular o abastecimento e preços no mercado interno através da demanda, ocasionando uma fragilidade estratégica. O leilão serviria como uma alternativa aos estoques desmontados no governo Bolsonaro, que ainda não foi possível reestabelecer.
O governo compraria os grãos a aproximadamente R$ 5 o quilo e revenderia por R$4, garantido o abastecimento interno e estabilidade nos preços.
Pretto explanou sobre o tema em entrevista a CNN Brasil: “temos no Brasil uma produção muito ajustada com o consumo. Conab está prevendo que nessa safra será pouco mais de 10,3, 10, milhões de tonelada de grãos, mas já estamos consumindo anualmente 11 milhões de grãos”. “ Essa safra será um pouco maior que no ano passado, mas a safra do ano passado foi a menor em 33 anos”. Completou Pretto
“Não há informações precisas sobre o armazenamento do arroz, dado o grau elevado de umidade”, reconhecem o trio de ministros. “Além disso, em outras regiões, mesmo com a safra terminada, pode não ser possível escoar o arroz, em decorrência de dificuldades logísticas”.
Lucro, mesmo com fome
Em relação à licitação, o presidente da Federação de Agricultores do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira, foi taxativo. “Nós somos absolutamente contra a importação de arroz por uma razão muito simples. Nós temos este arroz. O produto já foi praticamente todo colhido no Rio Grande do Sul. Creio que faltaria ao redor de 15%, que estaria relacionado às lavouras que ficaram debaixo d’água”.
Sobre o tema também se pronunciou o presidente da Conab, durante o governo Bolsonaro, em 2020, Guilherme Bastos: “O que você vê que agora é que se gasta 1,3 bilhão para uma ação dessa que não tem um respaldo técnico evidente, poderia estar usando isso é de forma melhor em outras políticas públicas como o seguro rural, por exemplo”.
“Fazer compra é de produto para deixar estocado é um pouco aquela visão ainda antiga de que você controla preços tirando e colocando o produto no mercado com a mão do Estado” complementou. “Então isso daí pode fazer um sentido, mas, na verdade, o que a gente viu ao longo do tempo foi um grande desperdício de dinheiro público”.
A questão é que as importações já são praticadas pela iniciativa privada, mas visando apenas o lucro não garantem o abastecimento interno, promovendo a fome e pressão inflacionária.
Qual o caminho?
O governo deveria sari da posição defensiva, ignorar os rumores de fraude e fazer com as necessidades da população sejam atendidas. A burguesia está pressionando para que o governo recue da iniciativa e permita a superfaturamento, mesmo que ocasione fome e hiperinflação.
Faz-se necessário o imediato restabelecimento dos estoques da Conab, mesmo que para isso os produtos sejam importados no primeiro momento. Garantir a segurança alimentar de sua população é uma questão estratégica e soberania.