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Cláudio Corbo

Professor, Geógrafo, Mestre em Ciência Política e colunista do Diário Causa Operária (DCO)

Coluna

Brasil Caranguejo

Mais de 50 milhões de brasileiros passam fome no país pós golpe de 2016.

O título do texto faz referência ao crustáceo que anda para trás, perpetrei a analogia do caranguejo com nosso país ao ler a Síntese de Indicadores Sociais (SIS), divulgada no último dia 5 de dezembro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O estudo aponta que o total de pessoas em situação de pobreza no Brasil foi de 54,8 milhões no ano 2017.

Segundo a ONU, é considerada em condição de extrema pobreza quem dispõe de menos de US$ 1,90 por dia, o que equivale a aproximadamente R$ 140 por mês. E a linha de pobreza é de rendimento inferior a US$ 5,5 por dia, o que corresponde acerca de R$ 406 por mês.

Houve uma ampliação de 2 milhões de pessoas que passaram a viver em situação de pobreza a partir de 2017, em comparação a 2016. Esses quase 55 milhões de brasileiros vivem em média com menos de 14 reais por dia, R$ 406 mensais. Esse aumento é de 4%.

Já a população que sobrevive em situação de extrema pobreza aumentou 13% no período 2016-2017, isso significa 15,3 milhões de brasileiros em condição de miséria, sem o direito social e constitucional mínimo da alimentação.

Também, em 2017, o trabalho informal alcançou 37,3 milhões de pessoas, o que representava 40,8% da população ocupada no país.

O Brasil não foge a regra do mundo atual, de acordo com a ONU, nos dias atuais mais de 1 bilhão de pessoas são extremamente pobres, em uma população global de 7 bilhões de pessoas.

Muitos problemas sociais enfrentados por toda população são produzidos exclusivamente pela pobreza, a violência é um exemplo disso. Josué de Castro em sua obra “Geografia da Fome” (1946) faz essa correlação ao afirmar que: “metade da humanidade não come; e a outra metade não dorme, com medo da que não come”.

As consequências que sofrem as pessoas que não têm as necessidades básicas atendidas pelo Estado são distanciadas de uma vida humana digna.

Os atuais índices de pobreza e extrema pobreza comprovam um grave retrocesso socioeconômico, pois, o número de pessoas que vivia em situação de extrema pobreza no Brasil havia diminuído de 9% no ano de 2001 para menos de 4% até o final de 2014. Entre 2004 e 2015 houve uma redução de 28% do número de pessoas extremamente pobres nos Estados brasileiros (IPEA, 2015).

Ora, é impossível não relacionar o problema da pobreza e a volta da fome no Brasil com o processo de derrubada da Presidente Dilma Rousseff, em 2016. A minoria da população brasileira que historicamente tem acesso aos recursos materiais e imateriais existentes, jamais se conformou em observar qualquer tentativa de promoção de direitos constitucionais à maioria da população como acesso a alimentação, moradia, saúde etc.

Talvez o ato mais terrível de governos progressistas neste país tenha sido a tentativa de aumentar significativamente o número de jovens pobres nas universidades, isso “despertou os instintos mais primitivos” da classe média brasileira, que se não possui o grosso do capital financeiro, concentrado em 1% da população, possui o privilégio de sentar nos bancos da universidade, adquirindo educação formal e consequentemente tendo mais acesso a alguns tipos de cultura conceituados como superiores a outras pela sociedade.

A relação do embate entre esses grupos e a volta da miséria, é que uma pessoa oriunda das camadas mais pobres da população quando tem acesso ao mundo acadêmico, por exemplo, pode dedicar seu trabalho a compreender as causas da desigualdade social entre nós e ter a “petulância” de fazer esforços em diferentes áreas para combatê-las.

Como grande parte dos brasileiros estão na miséria se somos uma das maiores economias do mundo?

Simples, somos um dos países com maior concentração de renda no mundo. Uma pesquisa concluída em 2015, liderada pelo economista Thomas Piketty, comprovou que 30% de todas as riquezas nacionais “pertencem” a menos de 1% dos habitantes. E com recorte dos 10% mais abonados financeiramente, ficam, 55% das riquezas.

Ou seja, 11% dos brasileiros possuem 85% de todas as riquezas, enquanto para 89% da população restam 15%. Mesmo esses 15% da maioria não são repartidos de forma igualitária. Isso é causa de um histórico de escravidão, latifúndios, subserviência a países imperialistas, sistemas de proteção sociais ineficazes e principalmente a convivência acomodada por parte de muitos com todas essas mazelas, como se elas fossem naturais como a lua ou o oceano.

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