Boulota era uma cadelinha poodle que morava num apartamento no edifício Telavive, na rua Estados Unidos, com seus donos, Joe e Harrys, dois gringos simpaticíssimos.
Boulota tinha uma amiga na vizinhança, a Boricha, que também adorava Joe e Harrys.
A diversão principal de Boulota e Boricha era balançar o rabinho e lamber os seus donos.
Eram cadelinhas muito obedientes.
Boulota e Boricha andavam com um lacinho vermelho nas duas orelhas, combinando.
Boulota só ficava pistola mesmo quando aparecia na portaria do prédio o carteiro chamado Nícolas. Esses cachorros criados em apartamento não suportam uniformes de trabalhador.
Nas calçadas, quando ia passear, Boulota ficava enfezada sempre que via alguém que não estava vestido elegantemente como seus donos. Quando passava por uma obra, Boulota parecia que ia avançar no pedreiro. Quando passava um motoqueiro, Boulota desatava a latir e rosnar.
Certo dia, magicamente, Boulota deu para falar. Entre um latido e outro, soltava algumas palavras. Os donos estranharam no começo: “como pode uma cadela falar?” Depois se acostumaram e até ficaram orgulhosos. Aquele abanar de rabinho era irresistível.
Boulota começou, então, a prestar atenção no noticiário da TV Globo. Um belo dia, abanando o rabinho na direção de seus donos, Boulota falou: “Au! Au! Nós temos indícios bastante suficientes para dizer que houve fraude na eleição da Venezuela. Au! Au! Au! Se permanecer um presidente que foi eleito numa eleição sem transparência, ele não é legítimo”. Abanou o rabo, lambeu os donos e sorriu para eles.
Os donos ficaram muito impressionados com a opinião da cadelinha. Tão impressionados que decidiram, na próxima eleição, lançar Boulota candidata a síndica do edifício Telavive, numa chapa com Boricha.
PS: essa é uma história fictícia, cachorros não falam, embora alguns se aventurem a dar opiniões políticas.