O artigo É contra extrema-direita, estúpido!, escrito pelo ex-presidente da Fenametro (Federação Nacional dos Metroviários) Paulo Pasin para o portal psolista Esquerda Online faz um esforço para apresentar o correligionário postulante à prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos como um candidato que estaria em oposição à classe dominante. “Debatendo o conteúdo e não a forma, a rejeição ao Boulos se deve a sua postura firme contra o sistema, nas ocupações, na defesa dos sem-teto nas ações de reintegração (Pinheirinho em São José dos Campos), nas mobilizações mais contundentes contra Bolsonaro e das posições corretas do PSOL”, diz o autor.
Qualquer um que conheça minimamente a história de Guilherme Boulos saberá que o psolista nada tem de “postura firme contra o sistema” – na verdade, ele é um brinquedinho do tal “sistema”. Antes de demonstrar isso, no entanto, convém também desmascarar a farsa das tais “mobilizações” das quais Boulos teria participado.
Boulos surgiu no cenário nacional durante a campanha golpista do “Não vai ter Copa”. A campanha, que nada tinha de popular, só ganhou projeção porque foi estimulada pela imprensa burguesa – isto é, pela própria burguesia. Afinal, a campanha contra a Copa do Mundo, naquele momento, correspondia a uma campanha de desestabilização do governo de Dilma Rousseff (PT), que teria muita dificuldade para ser reeleita em 2014 e acabaria sendo derrubada em 2016. A luta popular verdadeira que se abriu naquele período foi a luta contra o golpe, luta esta que foi levada adiante por organizações como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o Partido da Causa Operária (PCO) e a base do Partido dos Trabalhadores (PT). Boulos, por sua vez, ingressou em uma frente golpista, a Frente Povo sem Medo, cujo objetivo era aumentar o desgaste contra o governo petista.
A defesa dos sem teto também é uma farsa. De fato, Boulos, sabe-se lá como, conseguiu chegar à burocracia do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Mas o que se sabe é que o seu papel ali, além de ser o de se aproveitar do movimento para se promover, era o de conter as tendências mais radicais. Em entrevista recente, seu pai, Marcos Boulos, afirmou que
“Meu filho nunca teve radicalismo. No movimento social, ele era, inclusive, referência da Polícia Militar, porque evitava haver violência durante os despejos, era chamado pela PM para negociar para que as pessoas saíssem sem violência”.
Em relação às mobilizações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), outra farsa. Durante a pandemia, quando havia uma forte tendência à mobilização contra o governo, Boulos encabeçou um acordo para entregar a Avenida Paulista à extrema direita. Futuramente, quando os atos de rua se tornaram impossíveis de serem contidos, Boulos atuou com o objetivo de submeter o movimento à “Terceira Via”.
Agora, vejamos o seu suposto “enfrentamento ao sistema”. O auto não se dá ao trabalho de lembrar que a campanha do psolista foi a mais cara do País, com mais de R$65,7 milhões, superando o concorrente bolsonarista Ricardo Nunes (MDB) em mais de R$20 milhões. Em defesa de Boulos, Pasin diz ainda:
“A Faria Lima e a especulação imobiliária encabeçaram uma frente ampla que unificou o centro, a direita, o bolsonarismo e até o crime organizado contra o candidato do PSOL. Nenhum setor burguês ou do aparato do Estado, incluindo o judiciário que nada fez contra os desmandos do Marçal, ficou de fora.”
Ora, se a chamada “Faria Lima”, isto é, os banqueiros, não apoiam Boulos, de onde vem as dezenas de milhões de reais angariados para sua campanha? Ainda, como explicar a vitória expressiva do psolista no distrito da avenida, em Pinheiros, onde teve nove pontos percentuais acima de Nunes, o segundo colocado com 27% dos votos? Boulos pode não ter ganho a prefeitura da cidade por uma questão de confiança da burguesia no trabalho de Nunes, sobretudo o setor imperialista, porém é falso dizer que o psolista não é apoiado pela “Faria Lima”.
O apoio dos banqueiros a um candidato do PSOL sequer é uma novidade. Nas eleições municipais anteriores, em 2020, Wesley Teixeira, então candidato psolista ao cargo de vereador da cidade fluminense de Duque de Caixias, recebeu publicamente o apoio de ninguém menos que Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central de FHC (PSDB) e famoso por ter elevado a taxa básica de juros a inacreditáveis 45% ao ano durante seu mandato. Outros banqueiros como João Moreira Salles (conselheiro do Grupo Itaú Unibanco) e Beatriz Bracher (herdeira do mesmo banco) também fizeram doações para o psolista, em um movimento que serviu para dar o aval público da “Faria Lima” ao partido pequeno-burguês. Pasin, no entanto, prefere apostar no esquecimento e critica quem lembra a substância social da candidatura de Boulos:
“Muitos camaradas de esquerda preferem se omitir do processo eleitoral de São Paulo ou, pior ainda, se somar à campanha que tenta desmoralizar Boulos. Não pensam no contexto geral da luta contra a extrema-direita, preferem fortalecer suas posições na disputa interna da esquerda.”
O autor não se dá ao trabalho, porém, de dizer como exatamente uma candidatura como a de Boulos “luta contra a extrema direita”, uma vez que a grande proposta do psolista para o comando da principal cidade do País é aumentar a repressão. Seu vídeo promocional, por exemplo, tem ponto central o seguinte questionamento ao cidadão paulistano: “você se sente seguro com o celular na mão?”
Quem se deu ao trabalho de assistir ao debate contra o bolsonarista Nunes viu o festival de horrores, como a disputa entre ambos para ver quem era mais amigo da máquina da GCM, com o acréscimo do candidato psolista reforçando a defesa do armamento à “mini-PM”.