Quem acompanha este Diário já está prevenido há muito tempo em relação à figura de Guilherme Boulos. Apesar de sua trajetória de uma década do atual psolista, sempre se aliando à direita contra o PT em momentos críticos, existem setores da esquerda que ainda se encontram iludidos com ele. Infelizmente, o próprio Lula acaba dando cartaz para esse “amigo da onça”.
Essa semana, diante de um virulento ataque da direita sionista contra o presidente, Boulos optou por tirar o time de campo e isolar Lula. Perguntado sobre a comparação feita entre o Holocausto judeu na Alemanha Nazista e o genocídio ocorrendo atualmente na Palestina, ele disse: “eu não sou comentarista das falas do presidente da República”.
A comparação entre o fascismo alemão e o fascismo israelense não é uma sacada original de Lula, pois isso vem sendo denunciado há muitos anos, inclusive por judeus que se opõem ao sionismo. O assassinato de civis desarmados, incluindo idosos e crianças, é realmente uma coisa que choca qualquer pessoa normal. A afirmação de Lula, em entrevista a jornalistas na Etiópia, foi a seguinte: “o que está acontecendo na Faixa de Gaza não existe em nenhum outro momento histórico… aliás, existiu, quando Hitler resolver matar os judeus“. Tirando o fato de que esse tipo de barbaridade não aconteceu apenas duas vezes na história, a comparação está correta e é positivo que o presidente tenha se posicionado desta forma.
Por conta disso, Lula passou a sofrer uma série de ataques dos sionistas e seus aliados. Assim como qualquer crítico dos crimes sionistas, Lula recebeu o rótulo de antissemita.
Boulos, que conseguiu sabotar o PT pela segunda eleição seguida para a prefeitura de São Paulo e se declara solidário à causa palestina, tirou o corpo fora quando entrevistado pela BandNews. Mostrando o tipo de “crackeiro eleitoral” que é, afirmou cinicamente não ser candidato a prefeito de Telavive, mas de São Paulo: “eu quero discutir os temas da cidade de São Paulo”.
Acontece que São Paulo é justamente onde se concentra a maioria dos sionistas, judeus ou não, no País. Oportunista como é, tendo sido exposto que chegou até a negociar uma chapa com o jornalista anti-pobre José Luiz Datena, Boulos pesa em primeiro lugar a sua campanha para a prefeitura. Lula que se vire. Quer denunciar um crime monstruoso, que o mundo inteiro assiste? Problema dele. Afinal, ele não é “comentarista” das falas de Lula.
No entanto, há 15 dias o mesmo Boulos apareceu no X combatendo o “antissemitismo” na Bahia. Mesmo não sendo candidato a prefeito de Arraial d’Ajuda, o psolista declarou solidariedade a uma comerciante judia: “antissemitismo não pode ser tolerado”. Boulos abraçou, sem qualquer esforço para apurar os fatos, a versão de Herta Berslauer. E mesmo com o registro em vídeo divulgado pela própria Herta mostrando que a chilena Ana Maria Leiva Blanco havia apenas derrubado alguns itens das prateleiras, reproduziu a versão de que Herta “teve sua loja destruída devido ao antissemitismo”. Segundo Boulos, Alckmin e Silvio Almeida, a comerciante teria sido atacada pelo simples fato de ser judia.
No entanto, não era difícil apurar que as duas mulheres se conheciam, pois seus filhos eram amigos. Também não precisava de uma pesquisa profunda para saber que elas já haviam discutido por causa do genocídio palestino. O jornalista Breno Altman, outro odiado pelos sionistas, chegou a apurar que antes de ser chamada de “sionista assassina”, Herta chamou Ana Maria de “terrorista”, algo bem típico de uma sionista, cabe pontuar.
Ou seja, nada além de uma confusão entre pessoas que se conhecem e que divergem radicalmente sobre o massacre do povo palestino. Herta não é simplesmente uma mulher judia, pelo que tudo indica ela defende as ações de “Israel” na Faixa de Gaza, ou seja, é sim uma “maldita sionista, assassina de crianças”. O assassinato de milhares de crianças palestinas é acobertado por uma campanha de propaganda sionista que pessoas como a comerciante Herta ajudam a espalhar.
Nesse caso, Boulos não hesitou em disparar sua opinião. Certamente agradou aos sionistas da capital paulista. Mas agora que seu principal cabo eleitoral, a pessoa responsável em grande parte pela própria candidatura de Boulos em São Paulo, precisa de todo o apoio da esquerda, ele se faz de desentendido.
Boulos não defende o povo palestino, não defende Lula contra a direita. Estamos diante de um político que dança conforme a música para garantir um cargo público. Conhecendo o histórico de relações de Boulos com a direita, não estamos diante de nenhuma surpresa.