Algumas poucas centenas de manifestantes bolsonaristas se agruparam em frente ao MASP, na Avenida Paulista, na tarde de domingo (9), em um protesto contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que há poucos dias deixou a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Compareceram os deputados federais Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL), Marcel Van Hattem (Novo) e Carla Zambelli (PL). Não houve a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), tampouco dos seus principais aliados políticos, como o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
O ato foi convocado pelo Movimento Liberdade, criando no ano passado – segundo seus organizadores- e “registrado sob a tutela do Space Liberdade, um canal de mídia social do Twitter/X, fundado por Keven Oliveira e Samantha Pozzer, levou adiante a manifestação com o apoio de Guilherme Sampaio, o idealizador, organizador e financiador do evento“, conforme aponta o Fato360.
Os principais discursos e gritos na manifestação foram a favor do impeachment de Lula e de Moraes.
Vídeos exibidos nas redes mostram o evento esvaziado e muitos internautas, principalmente da esquerda, trataram de classificar a manifestação como um “fiasco”. Comparando, inclusive, com o ato bolsonarista que há pouco mais de três meses reuniu dezenas de milhares de pessoas na mesma Paulista.
Obviamente que a comparação não faz sentido, uma vez que, desta vez, a atividade foi convocada por setores do bolsonarismo que não tem, neste momento, um papel de liderança no aparato bolsonarista e nos órgãos de estados e prefeituras, tampouco no Parlamento, que eles conquistaram e de onde vêm se articulando com o conjunto da direita para impor derrotas e uma sistemática pressão sobre o governo Lula, contra os interesses do povo brasileiro.
A ultra reacionária deputada Carla Zambelli procurou reduzir a importância da pequena participação. Zabelli está, por hora, visivelmente isolada nas hastes bolsonaristas devido aos processos de que é alvo e ao evidente acordo que os chefes do bolsonarismo vem estabelecendo com a direita golpista tradicional, tendo como perspectiva uma frente contra Lula e toda a esquerda.
Sobre a participação de Zambelli na manifestação, a Folha de S.Paulo afirmou que “a deputada também lembrou o histórico dos protestos contra Dilma Rousseff (PT), que começaram pequenos e depois tomaram grandes dimensões. ‘Existe um pedido de impeachment dele [Lula] assinado por 144 deputados federais’“.
Infelizmente, não é só isso. O cerco contra o governo e a sabotagem da parte de setores da direita que o integram vêm levando-o a várias derrotas no reacionário Congresso Nacional, a uma intensa campanha contra os aspectos progressistas limitados na área do desenvolvimento nacional e de oposição à ação criminosa do imperialismo no cenário internacional, como no caso da Palestina.
Esta situação é refletia de forma distorcida nas pesquisas de opinião, que mostram uma perda do apoio do presidente Lula diante da falta de medidas efetivas que mudem a vida do povo, depois de anos de pesados ataques dos governos golpistas de Temer e Bolsonaro.
Depois da grande manifestação de fevereiro, o bolsonarismo viu recuar o ataque que a direita tradicional vinha lhe impondo. Agora, são crescentes as declarações desses setores a favor de um entendimento (que, de certa forma, já existe) para se opor ao governo Lula e derrotá-lo e a todo povo nas próximas eleições
Esta política vem sendo facilitada, de sobremaneira, pela posição “retranqueira” da esquerda parlamentar que abandou – quase que por completo – qualquer perspectiva de mobilização e de enfrentamento com a direita que não fosse pela via judicial, encabeçada e sob os propósitos da direita golpista, da “terceira via”, que está se acertando – de novo – com o bolsonarismo. Essa mesma esquerda, inclusive, se prepara para entregar para a direita golpista o comando da disputa eleitoral com o bolsonarismo, levando o PT – o maior partido da esquerda nacional – a um recuo, enquanto o bolsonarismo e seus aliados da direita tendem a se fortalecer também no terreno das eleições municipais. O que fará crescer a “conta” que a direita (incluindo os aliados da “frente ampla”) vai apresentar depois das eleições para o próprio governo Lula.
Mais do que zombar do protesto da direita reacionária e do seu programa que, nesse momento imediato, não é abraçado pela maioria da burguesia golpista, é necessário que a esquerda, as organizações dos trabalhadores debatam o seu próprio programa, superem a paralisia atual e saiam à luta, às ruas na defesa dos seus próprios interesses.
Que não assista passivamente, como fez no passado, à articulação e à iniciativa da direita, mas tome as suas próprias iniciativas diante da crise, na luta por uma saída própria dos trabalhadores diante da situação.