Nessa quarta-feira (26), a Bolívia foi palco de um golpe fracassado. Por volta das 14h, um grupo de militares fortemente armados, com tanques e blindados, cercou a sede do governo, invadindo-a em seguida. Pouco mais de três horas depois, os militares já estavam fugindo da Praça Murillo, onde fica a sede dos poderes Executivo e Legislativo.
O golpe fracassado foi organizado pelo general Juan José Zúñiga, do Exército. Após a retirada dos militares da praça, a Procuradoria-Geral boliviana determinou a sua prisão. A imprensa local afirma que ele foi capturado e conduzido a um veículo policial nas proximidades de um quartel militar.
O Ministério Público anunciou a abertura de uma investigação criminal e um alerta migratório contra o general. Ele está sendo acusado de terrorismo e de atentado armado contra a segurança e a soberania do Estado.
Tal decisão foi divulgada pelo diretor de comunicação da Procuradoria-Geral da República, José Luis Tarquino, na cidade de Sucre, em comunicado oficial. Tarquino também anunciou a “imposição da sanção máxima aos responsáveis”.
“[Foi também ordenado] o desenvolvimento de todos os esforços necessários à obtenção dos elementos de condenação, bem como a expedição dos requerimentos, ordens de citação, despachos e resoluções […] que correspondam ao esclarecimento do fato investigado e à imposição da sanção máxima aos responsáveis”, informou a Procuradoria-Geral.
Enquanto estava sendo preso, Zúñiga afirmou que suas ações foram orientadas pelo próprio presidente no último domingo (23). “O presidente me disse que a situação está muito crítica, que era preciso algo para levantar sua popularidade”, afirmou. Ele ainda disse que a decisão de colocar blindados na rua teria sido de Arce.
“Vou falar em detalhes. No domingo, na escola La Salle, encontrei-me com o presidente e ele me disse que a situação estava muito complicada e que esta semana seria crítica. ‘É necessário preparar algo para aumentar minha popularidade’, ele me disse. ‘Devemos retirar os veículos blindados?’ perguntei a ele. E a partir desse dia os veículos blindados começaram a cair”, disse Zúñiga.
Segundo o jornal boliviano Correo del Sur, antes de continuar com sua declaração acerca do suposto plano de Arce, ele começou a ser movido pelos soldados da Força Especial Anticrime (Felcc, na sigla em espanhol) e pelo vice-ministro de Segurança Cidadã, Jhonny Aguilera, para ser detido.
A oposição acusou Arce de ter orquestrado um autogolpe. Luisa Nayar (CC), parlamentar da Assembleia Legislativa, afirmou que “os bolivianos viveram um show político” armado pelo Executivo. Ela afirmou que o governo foi “irresponsável, incapaz e corrupto”.
“Começamos a suspeitar que tudo era uma farsa, quando vimos dois ministros exibindo-se diante dos tanques, batendo nas janelas e repreendendo ruidosamente os soldados fortemente armados, sem mover um fio de cabelo e ostentando ‘coragem’ e ‘imprudência’”, afirmou a deputada.
O militar golpista ocupava o cargo de comandante do Exército até a terça-feira (25). Ele foi destituído após afirmar que Evo Morales “não pode mais ser presidente desse país” durante uma entrevista na segunda-feira (24). “Caso cheguemos a isso, não permitirei que ele pisoteie a Constituição, que desobedeça o mandato do povo”, disse, ressaltando, ainda, que “as Forças Armadas são o braço armado do povo, o braço armado da pátria”.
A exoneração de Zúñiga ocorreu após Morales destacar que sua declaração deveria ser rechaçada pelo presidente boliviano e pelo ministro da Defesa:
“O tipo de ameaças feitas pelo Comandante Geral do Exército, Juan José Zúñiga, nunca ocorreu em democracia. Se não forem desmentidos pelo Comandante-em-Chefe das Forças Armadas, Ministro da Defesa, Presidente e Capitão General das Forças Armadas, ficará provado que o que estão realmente a organizar é um autogolpe”, afirmou o ex-presidente por meio de sua conta oficial no X (antigo Twitter).