Após os intensos bombardeios israelenses sobre as tendas da cidade de Rafá, onde mais de um milhão de palestinos se espremem para tentar fugir das atrocidades praticadas por “Israel”, a Casa Branca – isto é, o governo dos Estados Unidos – concedeu uma entrevista coletiva sobre os acontecimentos. E foi, como esperado, um desastre.
Segundo o porta-voz da Casa Branca, John Kirby, a operação monstruosa em Rafá não “cruzou a linha vermelha que havíamos estabelecido”. Isto é, que 45 pessoas mortas, no momento do pronunciamento, dentre elas, 23 crianças, mulheres e idosos, tenham sido brutalmente assassinadas estaria dentro dos “limites” considerados razoáveis para qualquer conflito.
A fala de Kirby, ainda que criminosa, não causou surpresa. Pelo contrário: ela apenas complementou aquilo que já havia sido dito em nota oficial do próprio governo dos Estados Unidos. No texto, os Estados Unidos reconheceram o “direito” de “Israel” realizar uma operação para, supostamente, assassinar integrantes do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas, na sigla em árabe). Segundo o próprio governo israelense, toda essa matança, que, até o fechamento desta edição, já havia resultado em mais de 75 cadáveres, teria sido justificada pela morte de dois supostos integrantes do grupo islâmico.
Que os Estados Unidos não se sintam minimamente constrangidos em repudiar a ação criminosa de “Israel”, não é bem uma novidade. Trata-se, afinal, do país que mais causou mortes e sofrimento humano na história da humanidade. Do único país na história a jogar uma bomba atômica em uma região habitada por civis, resultando no assassinato de dezenas de milhares de pessoas. Contudo, a posição dos Estados Unidos é ainda mais revoltante quando levado em consideração que esse foi o único país, além de “Israel”, a defender abertamente a operação genocida em Rafá. Até mesmo os países imperialistas europeus condenaram os acontecimentos.
Uma eventual condenação dos Estados Unidos, a essa altura dos acontecimentos, teria uma importância decisiva porque é o imperialismo norte-americano quem sustenta “Israel”. Sem esse apoio, não há como a entidade se sustentar. É por isso, inclusive, que estudantes de dezenas de universidades norte-americanas estão, neste momento, mobilizados exigindo o fim do apoio a “Israel”, como programa necessário para o fim do genocídio na Faixa de Gaza. Os Estados Unidos não apenas suprem “Israel” com dinheiro e armamentos, como exercem toda a sua influência diplomática para impedir que haja um cessar-fogo. Mesmo controlando os principais organismos internacionais, o governo Biden permitiu que “Israel” descumprisse a recente resolução da Corte Internacional de Justiça (CIJ), sediada em Haia, que exigia a suspensão das atividades israelenses em Rafá.
Diante de tamanha cumplicidade com o genocídio na Faixa de Gaza, as principais forças de resistência da Palestina culparam abertamente o imperialismo norte-americano pelos massacres em Rafá. As Forças Nacionais e Islâmicas declararam que “o governo norte-americano é cúmplice do assassinato de crianças em Rafá, pois é quem insiste em impedir o fim da guerra“. A mesma posição foi adotada pelo Hamas, que não apenas disse que o governo de Joe Biden era “inteiramente responsável” pelos assassinatos ocorridos em Rafá, como criticou o pronunciamento de Kirby, afirmando que “condena veementemente a insistência do governo Biden em olhar para o outro lado e negar a existência dos horríveis massacres cometidos pelo Exército de ocupação criminoso contra palestinianos deslocados em Rafá“.