A imprensa burguesa está tentando salvar o neoliberalismo da culpa pela catástrofe no Rio Grande do Sul, a Folha de São Paulo publicou um artigo exaltando o ‘liberalismo’ e também a BBC publicou uma matéria na quinta-feira (16), intitulada “Inundações no Rio Grande do Sul: o que causou a enchente de 1941 em Porto Alegre – e por que ela não é argumento para negar mudanças climáticas”.
Qual é a questão com a enchente de 1941? Ela simplesmente desmonta a tese de que as ‘mudanças climáticas’, de causa natural, ou pela ação humana no desmatamento e queima de combustíveis fósseis, não são a causa dos desastres, mas sim a falta de investimento na prevenção.
Ficou óbvio, para todas as pessoas, que se já havia ocorrido uma enchente de grandes proporções em 1941, quando não havia ‘queima extensiva’ de combustíveis fósseis e muito menos um grande desmatamento, a enchente atual não tem relação direta com a propaganda imperialista das ‘mudanças climáticas’. Ficou óbvio também que o mínimo que se deveria fazer seria erguer um sistema de contenção de águas.
O clima muda, essa é a sua principal característica, pois se trata de um evento natural. O que não é aceitável é que os governos não se omitam quando há evidências de que determinada catástrofe pode ocorrer.
Em outubro de 2023, por exemplo, com a baixa do Rio Amazonas, apareceram rostos humanos esculpidos há cerca de 2 mil anos. De onde se conclui que há dois milênios o Rio Amazonas já esteve muito baixo, e não cabe dizer que “os níveis da água caíram para níveis recordes”. No máximo, podemos afirmar que desde que começaram as medições o rio atingiu um de seus níveis mais baixos. E temos que perguntar: o que justifica as alterações milenares?
Os ‘especialistas’
A BBC começa a falsificar os fatos para contestar que “os acontecimentos de 1941 são frequentemente usados nas redes sociais como argumento para enfraquecer ou desbancar análises e projeções que apontam as mudanças climáticas como um fator decisivo para a crise atual”. Ocorre que as algumas das opiniões nas redes estão corretas.
O jornal burguês diz ainda que “segundo essa linha de raciocínio, catástrofes climáticas acontecem naturalmente de tempos em tempos — e não estão relacionadas à ação humana”. Os achados arqueológicos no Amazonas reafirmam essa tese. Continua em discussão a tese de que é a ação humana que está provocando catástrofes cada vez mais frequentes. O que não significa dizer que não haja impactos.
Para dar sustentação à sua falácia, a BBC recorre aos famosos ‘especialistas’ para dizer que “a enchente de 1941 pode ser considerada um evento composto, porque ela foi causada por dois fatores: a precipitação [chuva] e os ventos”. E que “ambos tiveram um papel importante no aumento do nível do Guaíba durante as cheias daquele ano”.
A matéria traz uma montanha de números: a altura que o rio Guaíba atingiu, o número de afetados, a quantidade de casas, o número de dias que permaneceram chovendo, o volume de água acumulado etc. Tudo isso para afirmar que, segundo a especialista “em 2024, observamos altos volumes de chuva durante um período curto. Em algumas regiões, tivemos 200 mm de precipitação em apenas três dias”. Bem como a direção e intensidade dos ventos, compõem a tentativa de explicação.
Também não faltaram os meteorologistas dizendo que as chuvas foram uma “conjunção de fatores por trás das tempestades”: frente fria; onda de calor no Centro-Oeste e Sudeste; seca na Amazônia e deslocamento de “rios voadores”. Tem explicação para todos os gostos.
O problema
Por mais que a BBC tente tapar o sol com a peneira, os fatos são os fatos: em 1941 houve uma grande enchente na região, de onde se deve deduzir que existe aí uma tendência. Com qual frequência? É impossível saber, mas é possível prevenir.
A evidência é tão grande, que o jornal burguês foi obrigado a ouvir outro especialista, que diz “ainda é muito cedo para fazer uma ligação direta e afirmar categoricamente que as atuais inundações no Rio Grande do Sul estão relacionadas ao aquecimento global provocado pela ação humana”. Que completa: “com a extensão de dados que nós temos hoje, não é possível cravar com 100% de certeza que as cheias das últimas semanas foram causadas pelas mudanças climáticas. Nós podemos estar diante de um período anômalo, que daqui a pouco volta ao normal”.
Para evidenciar qual é realmente o problema, hidrólogos afirmaram que “das quatro maiores cheias já registradas em Porto Alegre, três ocorreram nos últimos nove meses”. O que nos leva à pergunta: por que nada foi feito?
Para apagar o que foi dito pelo especialista que acabara de apresentar, a BBC traz ainda uma ‘segunda opinião’: “Nós atribuímos o aumento da precipitação que produziu as inundações no sul do Brasil às mudanças climáticas provocadas pelo homem. A variabilidade climática natural provavelmente desempenhou um papel modesto no evento”. É um truque bem conhecido, a última opinião é que mais fica em nossa memória. Sublinhando que foram duas contra uma.
A BBC quer esconder que o problema é o neoliberalismo, a conclusão óbvia que chegaram as pessoas nas redes sociais. O golpe de 2016 instituiu o corte de gastos públicos, a tal “responsabilidade fiscal”, pois o dinheiro do Estado são sugados pelos bancos, que querem cada vez mais.
Em vez de aplicar dinheiro em obras públicas, os governos neoliberais, especialmente o de Eduardo Leite, desviam os recursos para os bolsos dos banqueiros. Esse é todo o problema, não as ‘mudanças climáticas’.
Esquerda “ongueira”
Não bastasse a ação da grande imprensa para ocultar a verdade dos fatos, a esquerda pequeno-burguesa, muitas vezes financiadas por ONGs, que recebem dinheiro do imperialismo, não apresenta um plano de lutas, não pede o “Fora, Eduardo Leite”, mas propõe ações de solidariedade e entra na histeria das ‘mudanças climáticas’, ‘racismo ambiental’ e outras loucuras.
Nesse sentido, devemos denunciar que essa esquerda faz uma frente com o imperialismo, pois ataca de maneira superficial o real problema que a classe trabalhadora deve enfrentar: se livrar da direita “democrática”, que sem o fazer o barulho do bolsonarismo, está entregando todas as riquezas públicas para os capitalistas e nos expondo a catástrofes plenamente evitáveis.
Uma direita que, até outro dia, essa mesma esquerda apoiava e dizia ser um ‘mal menor’.