Guilherme Boulos, que é candidato à prefeitura de São Paulo, não à prefeitura de Tel Aviv, como já explicitou, agora cobra de Nicolás Maduro as atas da eleição venezuelana. Para bom entendedor, um pingo é letra, mas o psolista também avisou que a Venezuela “não é seu modelo de democracia”. Talvez o sejam a “democracia israelense”, que não merece repúdio mesmo tentando perpetrar uma limpeza étnica em Gaza, ou a “democracia ucraniana”, que se esqueceu de convocar eleições após o término do mandato do ex-palhaço Zelenski.
Mesmo com posições políticas claramente direitistas e pró-imperialistas, o candidato se apresenta como nome da esquerda. Vamos lembrar, no entanto, que, mesmo ostentando morar na periferia de São Paulo, no bairro do Capão Redondo, e propagandeando circular pela cidade em um carro popular, Boulos tem seu eleitorado na faixa da pequena burguesia identitária que vai da PUC da rua Monte Alegre, em Perdizes, onde ele dá aulas, à Vila Madalena, esticando até o Largo da Batata, que fica, a bem da verdade, na famosa avenida Faria Lima. Dali até os Jardins, onde fica o escritório de Walfrido Warde/IREE, mais um pulinho.
As eleições passadas mostraram que Boulos teve baixíssima votação no Capão Redondo, onde mantém sua residência. Mesmo assim, seu principal adversário na eleição que se avizinha, o atual prefeito de São Paulo, tenta associá-lo a “invasões”, empurrando-o para o lado esquerdo do espectro político.
Recentemente, Boulos, inclusive, moveu um processo contra Ricardo Nunes, que o teria chamado de “invasor”, “vagabundo” e “sem-vergonha” durante a convenção do PL, em que foi oficializado o nome do coronel bolsonarista Ricardo Mello Araújo como vice na chapa. A defesa de Boulos acusou o prefeito de ter proferido “ofensas e xingamentos, com discurso de ódio e mentiras”.
Segundo Nunes, Boulos não foi citado nominalmente e “teria vestido a carapuça”. O fato é que o juiz arquivou a ação por considerar inadequado o pedido da defesa de Boulos, que exigia de Nunes, além de retratação pública, a publicação em suas redes sociais do Currículo Lattes de Boulos. O juiz não viu correlação entre os termos ofensivos e o Lattes.
Então, vamos tentar entender a argumentação dos advogados de Boulos: o sujeito que tem Currículo Lattes, ou seja, currículo acadêmico, com título de mestrado ou doutorado, não pode ser chamado de “invasor”, “vagabundo” e “sem-vergonha”. Traduzindo em popular, Boulos tentou dar uma carteirada na Justiça.
O Lattes, aliás, é público. Quem quiser poderá consultar a vida acadêmica do candidato Boulos e verá que ele, embora tenha feito graduação em filosofia (quando teria conhecido o amigo Warde), fez pós-graduação na Faculdade de Medicina da USP, onde seu pai ministra aulas e já foi diretor. Obteve, assim, o grau de mestre em ciências com a dissertação “Estudo sobre a variação de sintomas depressivos relacionada à participação coletiva em ocupações de sem-teto em São Paulo”.
De fato, para o eleitorado do triângulo Perdizes-Batata-Jardins, o estudo sobre sintomas depressivos dos sem-teto deve ser o máximo. Para o trabalhador da periferia, talvez não signifique muita coisa. De todo modo, Boulos parece deixar cada vez mais claro que se importa mesmo é com o eleitorado da direita dita “civilizada”. Sendo assim, a esquerda deveria pular fora desse barco furado e apostar em novas lideranças realmente de esquerda.