Militantes do partido fascista argentino La Libertad Avanza (LLA, A Liberdade Avança, em português), agremiação do atual presidente golpista Javier Milei, lançaram, na última segunda-feira (18), a milícia Las Fuerzas del Cielo (As Forças do Céu, em português), dedicadas a serem o “braço armado” e a “guarda pretoriana” para defender o governo golpista de Milei “até a morte”, segundo as palavras de seus fundadores. O responsável pela organização do evento foi o youtuber e streamer Daniel Parisini, mais conhecido como “Gordo Dan”, que apresentou a iniciativa como um instrumento para “defender o governo de Javier Milei com lealdade até o fim”. Além de Parisini, o evento de criação da milícia fascista teve a participação de intelectuais ligados ao presidente argentino, como o presidente do think tank Fundação Faro Agustín Laje.
Em seu perfil no X, “Gordo” ostenta uma capa com a mensagem “todo aquele que questionar o mínimo detalhe do que faz ou não faz Javier Milei, é um idiota e, fundamentalmente, um filho da puta”. Trechos do evento foram divulgados pelo perfil oficial da milícia no X e podem ser consultados por meio deste link.
Com clara inspiração no fascismo italiano, a publicação é endossada por uma série comentários trazendo os dizeres “Ave Miller”. “Miller” é um nome usado pelos fascistas argentinos para se referirem a Javier Milei.
Também estavam entre os participantes figuras influentes do governo e aliados próximos, incluindo o secretário de Culto e Civilização Nahuel Sotelo, o deputado Agustín Romo e o subsecretário de Políticas Universitárias, Alejandro Álvarez. As falas tiveram como alvos principais a esquerda, o “feminismo”, a chamada “Agenda 2030” e as políticas ambientais. Sotelo, por exemplo, declarou a necessidade de vencer a “batalha cultural” e de erradicar as “discussões da esquerda”.
A formação da milícia foi anunciada como parte de uma estratégia maior para fortalecer o governo golpista de Milei. A convocação para novos membros já está em andamento, exigindo afiliação ao partido LLA. O sítio oficial da organização indica que centros de formação estão operando em cidades-chave como Buenos Aires, Córdoba e Santa Fé. O treinamento, conforme anunciado, busca alinhar os membros com a visão ultraliberal e conservadora promovida pelo governo, criando uma rede de mobilização para sustentar politicamente Milei.
Parisini, um ex-médico que se tornou figura de destaque no meio digital da direita argentina, enfatizou a lealdade incondicional ao presidente. Em seu discurso, Parisini afirmou: “somos os soldados que estiveram desde o início e estaremos até o fim”. Essa postura de servidão total é reforçada por outros líderes do grupo, que destacam a conexão com o chamado “triângulo de ferro” formado por Milei, sua irmã Karina e o estrategista Santiago Caputo.
A propaganda fascista do grupo não poupou ataques à oposição. Agustín Laje, presidente do think tank Fundação Faro, acusou seus adversários de serem “a encarnação do mal”, enquanto exaltava Milei como o líder que “defende a vida e a dignidade humana”. Laje destacou que a Argentina, sob Milei, será “um farol que iluminará o mundo”, ecoando um dos lemas estampados nas bandeiras exibidas no palco.
A oposição reagiu com forte repúdio ao surgimento da milícia. Deputados da esquerda argentina entraram com denúncias na Justiça, acusando os organizadores de “incitação ao ódio” e “intimidação pública”. Esteban Paulón e Mónica Fein, do bloco socialista, pediram que os principais líderes da milícia, incluindo Parisini, Laje e Sotelo, sejam convocados a depor.
A exaltação a Milei e os ataques à oposição não são as únicas bandeiras da nova organização. No evento, Sotelo clamou por lealdade incondicional, enquanto Alejandro Álvarez, o “Profe”, sugeriu que a única forma de garantir a continuidade do projeto de Milei seria “fechar escudos com o presidente”. Em paralelo, Laje reiterou a importância da “guerra cultural”, posicionando o governo como a última barreira contra o “globalismo” e outras supostas ameaças à “civilização ocidental”.
Tendo se destacado por seu papel na propaganda e pela criação do canal oficialista “Carajo”, Parisini defendeu publicamente a nomeação de aliados “leais” para cargos-chave, em detrimento de tecnocratas e funcionários sem conexão com a ideologia “mileísta”. “É preciso colocar os nossos. Isso significa confiança e alinhamento ideológico”, afirmou.
Além disso, segundo os organizadores, o foco da nova milícia é criar um espaço de “militância pura”, onde jovens podem expressar seu apoio a Milei sem se envolver diretamente na vida orgânica do partido. Essa “militância light” foi descrita por Parisini como “ir a atos, gritar contra os kirchneristas e apoiar o presidente, sem o peso da política tradicional”. Ou seja, criar uma verdadeira tropa de choque em defesa de Milei.