A Cisjordânia ocupada é um dos principais alvos da brutalidade sionista. A resistência nessa região se torna cada vez mais forte e “Israel” agora amplia as suas formas de reprimir os palestinos. O principal desenvolvimento no último mês foi a utilização da força policial da Autoridade Palestina, dirigida pelo Fatá, para reprimir a população, principalmente na cidade de Jenin, epicentro da resistência na Cisjordânia. A crise gerada dentro da AP por essa absurda ação de subserviência ao sionismo é gigantesca. Em conjunto aos ataques da AP, “Israel” também amplia sua ofensiva.
Um ataque de drone israelense atingiu Tulcarém, na Cisjordânia ocupada, em 24 de dezembro. Pelo menos uma pessoa foi assassinada no ataque aéreo no bairro de Al-Hamam, um dos principais campos de refugiados da cidade.
A resistência anunciou: “desde as primeiras horas da madrugada, nossos combatentes continuam enfrentando as forças de ocupação nas frentes de combate no campo de Tulcarém, atacando as forças inimigas e veículos militares com rajadas pesadas de balas, causando baixas confirmadas”. O comunicado foi feito pelas Brigadas de Al-Quds do movimento Jiade Islâmica Palestina.
Mais cedo, as Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa informaram que seus combatentes descobriram uma força especial sionista infiltrada no bairro de Hadaida, no campo de Tulcarém, e “entraram em confrontos intensos com ela, utilizando metralhadoras e dispositivos explosivos”.
Os embates também persistiram no campo de refugiados de Jenin, onde as forças da Autoridade Palestina (AP) atacam violentamente a resistência. Mas a repressão se tornou ainda pior, pois o partido Fatá anunciou, nesta terça-feira (24), que está acabando com a operação da emissora catarense Al Jazeera na Cisjordânia, acusando-a de ser contra o governo palestino. Ou seja, o Fatá assume a mesma política do Estado de “Israel” de censurar a Al Jazeera.
“A todos os funcionários da Al Jazeera que trabalham nos territórios palestinos, esperamos que reflitam sobre suas ações e renunciem a esse canal tendencioso, que destruiu e continua a destruir o mundo árabe”, declarou o Fatá. E seguiu: “a Al Jazeera inunda a imprensa com mentiras, especialmente na Palestina, apoiando um grupo de mercenários hostis no campo de Jenin e tentando apresentá-los como heróis que resistem à ocupação”.
Observando o quadro geral, fica claro que a ocupação sionista e a Autoridade Palestina são cada vez mais a mesma instituição. Em relação à resistência do povo palestino, a brutalidade é a mesma. Estão assassinado e sequestrando membros da resistência palestina enquanto impedem o mundo de ver as brutalidades que acontecem. Tudo em nome da defesa do Estado de apartheid que é “Israel”.
Outra demonstração de que a AP se torna cada vez mais apenas um apêndice da ocupação sionista foi que ela acusou as brigadas da resistência de serem “gangues iranianas” e mercenários. É exatamente o mesmo vocabulário usado pela propaganda dos sionistas. Em resposta, a Jiade Islâmica Palestina hasteou bandeiras da palestina nos campos de refugiados de Jenin.
Dentre as arbitrariedades realizadas pela AP em Jenin se destacam o assassinato de Mohammad Abu Labda em frente de sua esposa enquanto atravessava a rua. Ele foi atingido por dois disparos de um atirador de elite das forças de repressão da AP, um no peito e outro na cabeça. Mais de 82 prisões foram realizadas pelas forças de segurança da AP desde o início de sua operação. Essa repressão está sendo tão violenta que já levou a diversos dias de greve geral na cidade.
Uma operação dos EUA e de ‘Israel’
Um membro da Força de Segurança Preventiva da AP, falando anonimamente ao The Cradle, revelou que os EUA e “Israel” estavam por trás da operação em Jenin, pressionando a Autoridade Palestina a agir. Ele declarou: “não é apenas a AP atacando os palestinos. Isso é os EUA e a ocupação trabalhando juntos para forçar a AP a essa situação”. Também afirmou que, embora algumas ações iniciais da AP tenham buscado proteger os combatentes, conexões com o Hamas foram consideradas um limite intransponível.
“Quando Abu Mazen [Mahmoud Abbas] ordenou a operação, a maioria dos oficiais discordou e, embora muitos de nós que trabalhamos com a autoridade também discordássemos, a ordem foi dada mesmo assim“, continuou a fonte. “Isso é o que os EUA queriam de nós há dois anos, e quando ‘Israel’ começou a atacar Jenin, preste atenção em quem eles mataram e como isso mudou a conexão entre a AP e os grupos armados. Eles queriam dividir o povo”.
A unidade de elite 101ª da AP, que foi treinada por forças dos EUA e do Canadá, é a principal na repressão em Jenin. Segundo o portal Axios, autoridades dos EUA forneceram apoio logístico, incluindo “munição, capacetes, coletes à prova de balas, rádios, equipamentos de visão noturna, trajes de eliminação de explosivos e carros blindados”.
Mahmoud Mardaui, membro do birô político do Hamas na Cisjordânia, disse ao The Cradle: “o que a [Autoridade] Palestina está fazendo na cidade de Jenin é condenável e inaceitável. Esse ataque ocorreu porque a cidade e seu campo se tornaram um centro de resistência na Cisjordânia. Apoiamos os apelos dos sábios de todas as organizações, forças políticas e líderes da cidade de Jenin, que tentaram com todas as suas forças conter a escalada”.
Ele ainda afirmou que: “o que está acontecendo em Jenin não é um evento passageiro ou uma resposta a uma transgressão cometida pelos membros do Batalhão de Jenin contra a Autoridade, mas sim uma convicção política da liderança da Autoridade de acabar com o estado de resistência, visto como uma extensão do Eixo da Resistência e do Irã. Esse diagnóstico converge amplamente com a propaganda ‘israelense’ contra a resistência na cidade de Jenin”.
As declarações do dirigente do Hamas deixam claro que a crise com a Autoridade Palestina está se tornando cada vez maior e pode levar a sua desintegração. Caso a AP continue servindo como uma força de repressão do Estado de “Israel” contra a resistência, ela pode começar a cair em todas as cidades da Cisjordânia. Ou seja, a aposta do sionismo pode se tornar o seu maior pesadelo: uma nova Faixa de Gaza na Cisjordânia.