A esquerda pequeno-burguesa apresenta um dos piores defeitos possíveis para o movimento operário, uma confiança total nas instituições o que se desenvolve em atuar apenas dentro do jogo institucional o que se transforma em uma política totalmente voltada para as eleições. É o caso do último texto de Alex Solnik, publicado no Brasil 247, “Se Lula não atrair o centrão, o centrão fecha com Bolsonaro”. A conclusão da política eleitoral é sempre a mesma, é preciso ir mais à direita para vencer. É uma tese absurda em todos os sentidos, o principal deles é que esse é o caminho para a derrota da esquerda.
Solnik começa o texto: “ninguém precisa ensinar a Lula como ganhar eleições, ele sabe melhor do que ninguém, por isso já percebeu que o Brasil é um país dividido, metade o ama e detesta Bolsonaro e vice-versa”. Lula disputou eleições em 1989, 1994, 1998, 2002, 2006, 2018 e 2022, destas ele ganhou apenas 3, a primeira em um acordo geral com setores da direita que não existe mais. A tese inicial por si só já é absurda, Lula já era a figura mais popular do Brasil em 1989. O problema aqui é justamente a crença nas instituições, a eleição não é relacionado a popularidade real dos candidatos, é uma gigantesca luta política e sem essa luta não há vitória.
Ele segue: “ninguém precisa dizer a Lula que ele, sozinho, não ganha eleição. Nem Bolsonaro. Ou o preposto de Bolsonaro. Um contra o outro dá empate. Esta é a consequência da polarização na prática. Lulistas batem nos bolsonaristas e vice-versa vinte e quatro horas por dia, bolsonaristas e lulistas se odeiam até a medula, apontam o dedo uns para os outros, e assim ficam ambos no centro do palco, mas sem maioria”. Aqui ele já começa a traçar a clássica estratégia eleitoral que leva derrota. Supostamente Lula e Bolsonaro levariam a empate. Mas a realidade não é tão simples.
Fazendo uma análise geral do figura de Lula está claro que ele é mais popular que Bolsonaro, assim como era mais popular que Color e que FHC, mas ainda assim disputando contra esses candidatos ele perdeu. O bolsonarismo por sua vez é um movimento em ascenção, e não só no Brasil, é um fenômeno internacional. Trump venceu nos EUA, Le Pen é a preferida para vencer na França, na Alemanha a AFD cresce, na Itália a extrema direita é governo. Isso é um sinal de que 2026 não será igual a 2022 e que é muito provável que com o fortalecimento do bolsonarismo ele vença as eleições.
Diante desse risco de perder as eleições, que o próprio Solnik reconhece, ele só ve uma saída institucional. Se aliar a direita tradicional, chamado centrão. Ele afirma: “vai ganhar as próximas eleições quem atrair os partidos de centro, os campeões da última disputa. Lula tem muito mais condições para isso, porque tem a caneta na mão para convencê-los de que seu projeto é melhor para eles e para o país”. Aqui a sua tese já fica ultra direitista. Lula venceria da forma mais reacionária possivel, comprando o centrão por ter a caneta na mão. Mas todo o argumento está incorreto.
Primeiro, não foi o centrão quem venceu a última disputa. O centrão teve o ganho numérico em prefeituras e vereadores, mas os dados importantes não são esse. O bolsonarismo teve o maior crescimento em número de votos e ganhou em cidades muito importantes, principalmente São Paulo. Na prática o que aconteceu foi que os votos do centrão migraram para o bolsonarismo enquanto o PT ficou estagnado. Isso é uma demonstração de que o centrão está se esgotando e se transformando em bolsonarismo. Além de que boa parte desse chamado centrão já é bolsonarista.
Basta ver o caso do Rio de Janeiro, Paes, que seria do centrão, venceu as eleições apoiado pelo PT. Mas seu partido, o PSD, dirigido por Kassab, tende cada vez mais ao bolsonarismo. O próprio Kassab é um aliado de Bolsonaro no estado de São Paulo, o mais importante do país. Ou seja, toda a ideia do chamado centrão é absurda. Esse é o balaio de gato da direita e ele segue a vontade da burguesia e não a vontade do presidente. Neste momento a burguesia no mundo inteiro tende para a extrema direita. No Brasil isso fica claro com os elogios constantes a Javier Milei e a possível candidatura de Tarcísio de Freitas.
Ele então afirma: “para abrir mais espaço no governo para PSD, MDB, PP, União e Republicanos, que já têm ministérios, Lula terá de cortar na carne, ou seja, no PT do qual é o fundador e presidente de honra, o que fará com lágrimas nos olhos, só que não tem como não fazer, em nome de um objetivo maior, a reeleição”. Aqui Solnik já mostra que o seu argumento está totalmente errado. Lula já segue a política que ele defende, aliança com o centrão, dar ministérios para a direita etc. Qual o resultado? O bolsonarismo cresce, e a direita tradicional continua insatisfeita com o governo Lula.
Basicamente o que o autor defende é a política de Lula que já está se mostrando desastrosa. Mais uma vez vale levar em conta o caso do Rio de Janeiro. A prefeitura foi dada para o direitista Eduardo Paes, isso enfraqueceu o bolsonarismo para a próxima eleição presidencial? Não. Paes tera o aparato, as a disputa essencial, pelos trabalhadores, não avançou em nada. Além disso os bolsonaristas poderão criticar todos os ataques de Paes aos trabalhadores e colocá-los na conta de Lula. Isso vale para as alianças em todo o Brasil.
Ele então conclui: “ou os petistas aceitam perder algumas posições no governo ou os partidos de centro aderem ao projeto Bolsonaro, com ele ou sem ele, e Lula corre o risco de não se reeleger e o PT perder as posições que teria com Lula reeleito”. Qual é a questão central do problema? O Partido dos Trabalhadores, que elegeu um presidente operário metalúrgico, em nenhum momento levaria os trabalhadores em conta na luta política. Basicamente para Solnik o PT deve agir como um partido burguês, e ignorar que o que fez Lula ser eleito foi a mobilização popular, a luta dos trabalhadores nas ruas.
E ai aparece a contradição. Para Lula se aproximar dos trabalhadores, ele se afastará do centrão, se afastará na política institucional. Mas esse é o único caminho para vencer eleições. O bolsonarismo inclusive cresce por ser uma suposta oposição a essas instituições. Um governo de esquerda seria a oposição real, e esse é o caminho que Lula deve trilhar. Ele se tornou o maior líder do Brasil ao liderar os protestos que derrubaram a ditadura, não fazendo aliança com o MDB, um dos partidos da ditadura.