Na última quinta-feira, dia 9 de maio, centenas de estudantes, professores e técnicos administrativos das instituições federais de ensino se reuniram no centro do Recife para protestar por suas revindicações. Naquela data, várias outras cidades também registraram manifestações das mesmas categorias, que se encontram em greve.
O protesto na capital pernambucana teve início às 15h, nos arredores do prédio da Faculdade de Direito do Recife. Além daqueles que residem e trabalham em Recife, compareceram em peso ao ato professores, técnicos e estudantes de vários outros lugares, por meio dos ônibus disponibilizados por seus respectivos campi. Por volta das 17h, o ato saiu em passeata, rumo à Praça do Diário.
“Além do próprio pessoal da Educação, havia alguns setores de apoio”, destacou Soraia de Carvalho, do Comando Local de Greve dos Docentes da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em declaração à nossa equipe. “Vieram algumas representações do MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra], uma pequena delegação do MUST [Movimento Urbano dos Trabalhadores Sem Teto], algumas pessoas do MTST [Movimento dos Trabalhadores Sem Teto] e uma delegação do Comitê de Solidariedade Palestina-Pernambuco”.
Portando uma faixa em que prestava apoio à greve das instituições federais de ensino, à mobilização dos estudantes norte-americanos e à resistência armada palestina, o Comitê de Solidariedade Palestina-Pernambuco, em sua fala durante o ato, aproveitou para convidar todos os presentes para a manifestação que ocorrerá no dia 15 de maio, na Praça do Derby. Neste dia, a Nakba, a catástrofe palestina, completará 76 anos. Por isso, o Comitê decidiu convocar um ato de apoio aos palestinos e também em apoio aos povos que estão diretamente envolvidos na luta contra a entidade sionista.
Em sua avaliação, Carvalho considerou que a greve ainda estava em fase de expansão e que ainda havia vários campi, de diferentes instituições, aderindo ao movimento paredista.
“É uma greve bastante forte, porque, de 69 universidades no Brasil, apenas uma ainda não está em greve, considerando as greves de professor ou de técnico. E é uma greve que tem diferentes momentos. A FASUBRA [Federação de Sindicatos de trabalhadores técnico-administrativos em Educação das instituições de ensino superior públicas do Brasil] já tem 60 dias [de greve], o SINASEFE [Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica], 36 dias, e o ANDES [Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior], 25.
Conforme ressaltado pela docente, a primeira categoria a deflagrar a paralisação das atividades foram os servidores. Sobre isso, Ênio Arimatéria, integrante do Comando Local de Greve do Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Federai (SINTUFEPE)/Seção UFPE, contou que: “a greve decorre de um conjunto de pautas, mas, fundamentalmente, pela reestruturação de nossa carreira”. Arimatéia explicou que os técnicos administrativos em Educação são regulados por uma lei de 2005, que instituiu seus cargos e seu plano de carreira. “Essa carreira foi instituída já com alguns problemas e tem uma defasagem grande não só salarial, mas de algumas questões que precisam ser revistas”.
Entre as reivindicações centrais, está também a do reajuste salarial. “Existe uma proposta de reestruturação de pouco mais de 30% em três anos, e o governo ofereceu inicialmente 0% esse ano, 9% em 2025 e 3,5 em 2026. A gente não acha essa proposta razoável e entrou em greve também por isso”.
O técnico-administrativo da Educação também destacou que, entre as reivindicações, consta a restruturação do orçamento da UFPE, que hoje é inferior ao orçamento nominal de 2014. Por fim, assinalou uma reivindicação que foi parcialmente atendida pelo governo, que é a equiparação de benefício entre os poderes.
Diante das constantes calúnias sobre a greve das instituições de ensino federais, Arimatéia considerou que seria necessário explicar detalhadamente como aconteceu o processo de deflagração da greve.
“Essa greve não vem do nada. A gente está em mesa com o governo desde outubro, mas, em uma segunda rodada, que a gente teve em fevereiro, o governo demonstrou uma total falta de conhecimento de nossa carreira e de falta de perspectiva de atendimento de qualquer pauta que a gente estivesse levando para a mesa. Então, a gente entendeu isso como um esgotamento da negociação, por isso deflagrou o processo de greve. A gente está na mesa desde outubro, mas já estava mobilizado havia mais de um ano”.
Embora docentes e discentes tenham as suas próprias reivindicações, a luta contra pressão neoliberal dos capitalistas unifica todas as categorias. “É uma greve que está se contrapondo a essa política econômica do governo, de favorecer o capital financeiro; é isso que está por trás do arrocho salarial e do estrangulamento orçamentário”, afirmou Soraia de Carvalho.
Para os estudantes, a reivindicação central era a revogação do Novo Ensino Médio, instituído pela lei federal 13.415 de 2017, durante o governo golpista de Michel Temer (MDB). Na época, a mobilização contra a medida, que fora implementada por decreto em 2016, bem como contra o teto de gastos, levaram a uma onda de ocupações em escolas e universidades. Segundo Zeca, do Comando Local de Greve Estudantil da UFPE, o Novo Ensino Médio “é o maior ataque da história à Educação pública em nosso País, que retira conteúdos científicos, esvazia a Educação, aumenta as desigualdades entre os estudantes mais pobres e os estudantes que podem pagar uma escola privada, que esfacela completamente o ensino básico em nosso país”.
Para os representantes das três categorias, o ato foi considerado vitorioso. Para Carvalho, “foi um ato com uma presença combativa, com o pessoal panfletando ativamente, dialogando com a população, puxando palavras de ordem, cobrando que o governo atenda às reivindicações, contra a precarização, a privatização, pela revogação das contrarreformas, contra o Novo Ensino Médio”. A docente ainda destacou que o ato unificado mostrou “a importância da importância da unidade para conseguir conquistar essas reivindicações de reajuste salarial, de reposição salarial, de recomposição do orçamento e de todas as outras reivindicações”, em contraste com as negociações em separado que foram propostas pelo governo federal.
Zeca, por sua vez, destacou que o ato contou “com a participação de muitos estudantes, com grande participação da juventude”. Para o representante da luta estudantil, “a mobilização que aconteceu também foi muito vitoriosa por ter superado as amarras do imobilismo que muitas vezes predomina, inclusive no movimento estudantil, mas também no movimento sindical, de não fazer manifestação, de ficar em casa, de fazer greve de pijama… A gente conseguiu demonstrar que greve de fato é para lutar, lutar inclusive pelos interesses de todos os estudantes, de todos os professores da Educação púbica de nosso país, e inclusive rejeitar as medidas reacionárias que vêm sendo aplicadas”.