Uma das piores consequências do ato de Bolsonaro na Avenida Paulista no último domingo (25) é que ele não foi apenas uma derrota para a esquerda. Foi, também, uma derrota para o povo mais esmagado do planeta, o povo palestino. Mesmo não tendo sido a questão principal, essa foi a maior manifestação em defesa de “Israel” no Brasil desde o início da guerra. Ou seja, foi uma das maiores manifestações de defesa de “Israel” em todo o mundo. Fruto, tal qual o ato em si, de uma política completamente falida de quase a totalidade da esquerda.
Como, em meio ao maior massacre do século XXI, ao genocídio que é publicado todos os dias nas redes sociais, ao assassinato de mais de 30 mil pessoas, mais de 12 mil crianças, acontece uma manifestação em defesa do morticínio? A única explicação é a gigantesca imobilidade daqueles que deveria defender os palestinos. Essa deveria ser a campanha mais fácil de ser realizada na história, uma campanha em defesa de crianças que estão sendo assassinadas. Mas ela não está acontecendo.
Nos últimos quatro meses, um pequeno setor da esquerda, cuja principal força política foi o PCO, saiu às ruas para lutar contra o sionismo e o bolsonarismo. Já a esmagadora maioria, que inclui as grandes organizações de massa no entorno do PT, capitulou ante o sionismo. E não é só isso, jogaram fora uma gigantesca oportunidade de combater o bolsonarismo.
O que melhor para combater o bolsonarismo, a força política que mais defende “Israel” no Brasil, do que a campanha em defesa da Palestina? Em todos os bairros onde há trabalhadores influenciados pelo bolsonarismo seria possível atuar com uma política extremamente popular. As igrejas evangélicas, grande base do bolsonarismo, poderiam ser enquadradas. Bastaria perguntar: você é cristão e defende um genocídio?
Mas a luta não foi feita e a direita segue se reagrupando. Após a maior manifestação de defesa de “Israel” do mundo no tempo recente, o próprio governo Netaniahu veio agradecer. O Ministro das Relações Exteriores publicou uma foto do ato e o texto em português: “muito obrigado ao povo brasileiro por apoiar Israel. Nem Lula conseguirá nos separar”. O ato de Bolsonaro fortaleceu diretamente o governo do genocídio. É algo lastimável.
O ato sionista de Bolsonaro deveria servir de aviso a toda a esquerda. Apesar de mobilizar, o bolsonarismo continua na defensiva. Ao mesmo tempo, a guerra em Gaza continua. Isso significa que ainda há tempo para mudar a rota política e consertar os erros. No entanto, se a esquerda seguir capitulando ante o bolsonarismo e o sionismo, isso terá um impacto direto no massacre das crianças palestinas. Por outro lado, a recíproca é verdadeira, basta lembrar a repercussão da declaração do presidente Lula que compara “Israel” com a Alemanha Nazista.
Mas o que de fato pode alterar o jogo, no Brasil e na Palestina, é a mobilização dos trabalhadores nas ruas.