Este sábado, dia 13 de julho, o portal InfoMoney, do capital financeiro, publicou uma coluna intitulada “Lula, se não fosse o senhor, o dólar estaria R$ 5,04″, diz Sr. Mercado, assinada pelo especulador Lucas Collazo. O artigo é um misticismo econômico, que visa ocultar o conteúdo político na flutuação do dólar em torno de colocações políticas do presidente Lula.
Fato é, em linhas gerais, que a força de uma moeda se dá pela força de uma economia, ou seja, sua capacidade produtiva. O autor, no entanto, de modo a mascarar seu objetivo, inicia com uma colocação quase etérea seu argumento sobre a questão do dólar:
“De maneira geral, são duas grandes forças que definem o patamar do câmbio: a dinâmica doméstica e a global. […]
“A dinâmica externa é ditada especialmente pela economia dos Estados Unidos, e o patamar de juros e o aquecimento (ou não) da economia são determinantes. A doméstica inclui a situação das contas externas brasileiras, a balança comercial, a condução da política monetária, o fluxo de recursos para o país (ou para fora dele), a economia local e os ruídos políticos, que também pressionam a moeda.”
É claro, o estado geral da economia é o que define o valor da moeda, mas e a questão dos ruídos políticos? Aqui, se espera que o aceno para medidas que fortaleçam ou não a economia de um país incidam sobre o valor de sua moeda, em função da especulação financeira. O que ocorre no Brasil, porém, não é isso. O redator do InfoMoney então ilustra sua posição com um gráfico a respeito da influência interna e externa sobre o valor do real frente ao dólar, o que pouco significa em si, mas vamos aos dados:
“Se excluíssemos os fatores domésticos, que aparentemente estão pesando de forma negativa, o dólar estaria a R$ 5,04 – não a R$ 5,39. Praticamente toda a deterioração no câmbio é explicada por fatores locais, e destaco o cume do gráfico, momento recente em que a moeda americana quase atingiu R$ 6,00.
“[…] 25% da melhora do real vem de fora do Brasil, e o restante acontece após declarações do governo recentes que foram consideradas positivas pelo ‘Sr. Mercado’.
“Claro que, o gráfico não indica que a formação do preço do lado externo venha 100% de ruído político, mas podemos enxergar um indicador claro do mercado de uma percepção de piora em relação à condução econômica local. Esses sinais, que não são ruídos, não podem ser ignorados – a história está aí para mostrar.
“Essa melhora recente veio da mudança de curto prazo nas indicações do governo, boa parte delas advindas da equipe econômica liderada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). Mas será que isso é suficiente para o ‘Sr. Mercado’?” (grifos no original).
Bom, para que faça qualquer sentido a colocação de Collazo, é preciso ver concretamente o que são as tais declarações e mudanças políticas. O que ocorreu, em essência? Lula criticou o presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, que abertamente sabota a economia nacional, com altas taxas de juros. As taxas de juros impactam nos empréstimos, portanto, no nível de investimento na economia nacional, além de no consumo. Ou seja, Roberto Campos Neto enfraquece o País em sua economia, o que se verifica por diversas colocações, como quando afirmou:
“Você tem que colocar o país em recessão para recuperar a credibilidade.”
Ora, que lado positivo haveria para uma recessão, uma perda de capacidade econômica? É ilógico e elementar o caráter absurdo da afirmação. Ainda assim, quando Lula ataca o presidente do BC, o real, ao invés de flutuar para cima, frente a uma tendência de aumento de investimentos e crescimento econômico do setor produtivo, diminui de valor. Como pode isso? Bastam alguns pontos básicos para desfazer a encenação dos porta-vozes do capital financeiro, como o InfoMoney e seus redatores.
E a melhora, por outro lado, ocorreu em função de medidas de aumento de taxas e cortes nas áreas sociais essenciais. Mas isso, apesar de estimular a arrecadação em determinado sentido, de fato não se reflete nesse sentido. A área da saúde permite o funcionamento regular da sociedade, o da educação, a formação de trabalhadores qualificados para o desenvolvimento da indústria e a expansão dos serviços mais caros à população.
Já as taxas incidem sobre o consumo, desestimulando-o. O problema é que em função da crise, o consumo no Brasil já está reduzido, a população não tem os meios para pagar itens básicos para sua sobrevivência. Em outras palavras, os cortes não impactam positivamente a economia, mas negativamente. O texto ainda coloca uma ameaça: será suficiente para o “mercado”? Se são medidas benéficas à economia, qual seria o problema? É claro, não é o caso.
Complementando seus argumentos, o colunista cita um relatório de uma agência de especulação, para afirmar o seguinte:
“‘Enquanto o governo não reconhecer a realidade de que o crescimento do gasto foi descontrolado nestes primeiros dezoito meses de mandato, a situação continuará volátil e difícil. Há sinais incipientes de que a percepção do governo mudou nos últimos dias. Ainda assim, o custo de dilapidar credibilidade a golpes de retórica vai ser cobrado agora: o mercado precisará ver resultados concretos nos números, e não apenas comprará promessas.’
“Está claro como o ‘Sr. Mercado’ está pensando e o que esperar dele, em termos de reações, daqui em diante. Veremos os próximos capítulos dessa relação com o governo.”
O que está colocado é uma farsa completa. O “mercado” não espera um desenvolvimento econômico, mas uma dilapidação total da economia para saquear o País, auferindo grandes lucros num prazo extremamente curto, e deixá-lo sem nada.
Prova disso é a falta de oscilação no valor do dólar frente aos gastos militares dos EUA, à sua acumulação de dívidas, e à impressão de moeda operada naquele país. A variação do real frente ao dólar, concluímos, é completamente artificial.
Ademais, investimento é um pressuposto do crescimento econômico, é um pilar para o desenvolvimento de qualquer país. Esse investimento no Brasil, porém, é chamado de “gasto”. E as altas taxas de juros reduzem o valor desse gasto, mas não são alvo do “mercado”, que pressiona para a alta da taxa. O que temos, portanto, é um cenário em que tudo o que o “mercado”, os especuladores, parasitas, defendem, é deletério para a economia do Brasil.
Assim sendo, ao invés de metas de aumento do PIB ou de inflação, o governo Lula deve enfrentar o mercado, se posicionando firmemente ao lado dos trabalhadores e do desenvolvimento nacional. Lula só se sustentará como presidente caso o faça, mobilizando sua ampla base, os trabalhadores. O sinal está claro: será suficiente para o “mercado”? O imperialismo, o capital financeiro, irá sangrar Lula até o derrubar. A continuidade de uma política centrista no campo econômico é insustentável.