O presidente da Fundação Perseu Abramo, Alberto Cantalice, é um dos mais ativos ideólogos do oportunismo da ala direita do Partido dos Trabalhadores (PT). No último período, o carioca se destacou por defender que a esquerda adotasse o programa da extrema direita bolsonarista para a chamada “segurança pública” e por defender a submissão da esquerda às “democracias” imperialistas – isto é, a Joe Biden, Emmanuel Macron e companhia limitada.
Essa política só tem levado, obviamente, ao desastre. Na medida em que cresce a polarização política e o repúdio da população ao chamado “centro político”, a esquerda que procurar se apresentar como um aliado da direita será inevitavelmente trucidada. Tendo isso em vista, o resultado das eleições municipais de 2024 não poderia ser outro que não uma catástrofe.
O partido que mais cresceu em número de prefeitos eleitos foi o Partido Liberal (PL), o partido do ex-presidente Jair Bolsonaro. Enquanto isso, partidos de esquerda como o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) tiveram uma derrota fulminante. O primeiro perdeu todas as prefeituras sob sua administração; o segundo, reduziu para quase um terço a quantidade de cidades sob o seu domínio.
Cantalice, no entanto, ficou contente com o desempenho da esquerda nas eleições. Diz ele:
“Em 2024, sem termos candidatos do 13 nas duas maiores cidades do Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro, ainda assim conseguimos ampliar nosso número de votos para vereador em 30,1% e em 28,2% para prefeitos.”
O aumento no número de votos em 30% seria, segundo Cantalice dá a entender, a prova de que haveria uma recuperação por parte do partido. É, obviamente, um argumento de um verdadeiro retardado político.
Não é possível considerar que há uma “recuperação” quando os dois outros partidos da esquerda institucional foram atropelados nas eleições, e quando o único partido que aumentou o número de prefeituras teve um aumento de míseros 30%. O PL, por exemplo, teve um crescimento de 236% – quase oito vezes maior que o crescimento em votos do PT. E não foi só o PL que cresceu: aliados do bolsonarismo, como o Republicanos, o PP e o União Brasil, também tiveram um crescimento bastante expressivo.
Até aí, contudo, poderíamos acusar Cantalice apenas de tentar esconder o tamanho do estrago. Embora já seja muito negativo, pois visa enganar a população, iludindo as massas com uma política paralisante, seria apenas o típico oportunismo fisiológico. Mas o que o presidente da Fundação Perseu Abramo faz é muito pior: é uma adaptação ideológica diante da pressão da direita.
Voltemos para o trecho “sem termos candidatos do 13 nas duas maiores cidades do Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro”. Se o PT abriu mão de lançar candidato nas duas maiores cidades do País, que concentram, sozinhas, 5% da população brasileira, como isso poderia ser considerado uma vitória? É uma admissão de que o PT está tão recuado que desistiu de travar uma luta contra a direita onde essa luta era mais importante.
Pela própria fala de Cantalice, não é necessário fazer uma análise detalhada para entender que o aumento no número de prefeituras sob o controle do PT não expressam um crescimento real do apoio das massas ao partido, mas sim um arranjo eleitoral que não leva em conta a luta de classes. O PT não aumentou a quantidade de votos porque elegeu lideranças do movimento de trabalhadores ou porque está sendo reconhecido como uma organização de luta, mas sim porque conseguiu emplacar meia dúzia de políticos burgueses a mais que nos anos anteriores.
Cantalice comemora porque considera que, no final das contas, se figuras como Guilherme Boulos (PSOL) ou Eduardo Paes (PSD) forem eleitos, a esquerda estaria avançando. Mas se trata do exato oposto: o PT, ao apoiar tais candidatos nas principais cidades do País, está se anulando como força política. Está apresentando aos trabalhadores dos grandes centros que não há alternativa entre a extrema dita e o chamado “centro político”. Está, no final das contas, empurrando a população para a extrema direita, a exemplo do que fez a esquerda em países como a França.