E o Hamas venceu. Por incrível que pareça, esse é o título de um dos mais recentes editoriais do jornal O Estado de S. Paulo, um dos porta-vozes mais conscientes da burguesia brasileira. Ainda que expresse as opiniões da burguesia brasileira, o Estadão não é um órgão propriamente brasileiro: assim como toda a grande imprensa brasileira, é apenas uma sucursal da propaganda norte-americana. Ao dizer que “o Hamas venceu”, o jornal brasileiro está, na verdade, apenas repercutindo aquilo que já é dito em publicações como The Economist e The New York Times.
Tanto é assim que a mesma análise pode ser encontrada em outros veículos brasileiros. A Folha de S. Paulo, um órgão umbilicalmente ligado ao imperialismo, também publicou artigos semelhantes. Em um deles, Israel se isola, o jornal lamenta que “tragédia da guerra em Gaza faz até EUA deixarem de apoiar o Estado judeu na ONU”.
A opinião do Estadão e da Folha – que é, na verdade, do Departamento de Estado norte-americano – é uma verdadeira choradeira. A imprensa brasileira, capacho dos responsáveis pelo genocídio na Faixa de Gaza, admite que o jogo virou. Passados seis meses desde a operação Dilúvio de al-Aqsa, a versão de que o Estado de “Israel” seria uma vítima de “terroristas” que estaria se defendendo fracassou.
“Israel começou a guerra com a solidariedade internacional e um consenso sobre seu direito de defesa”, diz o Estadão. “Hoje Israel está isolado, e para grande parte da opinião pública global sua guerra é indefensável”.
Não é para menos. Em resposta à mentira de que foi alvo de um “sangrento” ataque de “terroristas”, “Israel” já assassinou cerca de 15 mil crianças, em uma guerra em que a população civil é o grande alvo.
Os massacres e crimes de guerra, que envolvem desde o uso de fósforo branco à invasão de hospitais, não são o único elemento determinante na mudança da opinião pública. Um fator decisivo tem sido a ação da resistência armada palestina, que mostrou ao mundo inteiro a disposição daquele povo em lutar por sua liberdade.
A guerra entre “Israel” e o povo palestino está marcada por incontáveis episódios de abnegação, dedicação e bravura. Episódios, inclusive, que não se resumem ao território palestino, mas que também são protagonizados por outros povos, como os iemenitas, os iraquianos e os sírios.
A situação é tão dramática para “Israel” que, conforme diz a própria Folha, “a pressão do eleitorado americano, que vai às urnas em novembro, acabou por colocar os rivais Joe Biden e Donald Trump numa mesma posição: Netanyahu precisa parar”.
O reconhecimento do total fracasso da propaganda israelense por parte da imprensa imperialista e suas sucursais é, por sua vez, o reconhecimento do imperialismo de que está diante de um processo revolucionário. De uma situação em que a indisposição das massas com seus opressores é tão grande que a capacidade de dominação destes está se despedaçando rapidamente.