Em artigo publicado no dia 20 de janeiro neste Diário, explicamos o conceito de exportação de capitais, essencial para compreender a análise que o revolucionário Vladimir Lênin faz da etapa contemporânea do capitalismo, o imperialismo. Na obra Imperialismo, fase superior do capitalismo, Lênin demonstra, com uma série de estatísticas, como o modo de produção capitalista evoluiu para a era dos monopólios. E como esses monopólios, por sua vez, levariam a uma partilha do mundo entre as grandes potências mundiais.
Para explicar tanto o conceito de exportação de capitais, como também como esse mecanismo é utilizado pelos países desenvolvidos para interferir diretamente nas economias de países atrasados, Lênin cita, por várias vezes, o Brasil.
A primeira vez que Lênin cita nosso País é no seguinte trecho:
“No mercado internacional de capitais está a representar-se desde há pouco tempo uma comédia digna de um Aristófanes. Um bom número de Estados, desde a Espanha até aos Balcãs, desde a Rússia até à Argentina, ao Brasil e à China, apresentam-se, aberta ou veladamente, perante os grandes mercados de dinheiro, exigindo, por vezes com extraordinária insistência, a concessão de empréstimos. Os mercados de dinheiro não se encontram atualmente numa situação muito brilhante, e as perspectivas políticas não são animadoras. Mas nenhum dos mercados monetários se decide a negar um empréstimo com receio de que o vizinho se adiante, o conceda e, ao mesmo tempo, obtenha certos serviços em troca do serviço que presta. Nas transações internacionais deste gênero o credor obtém quase sempre algo em proveito próprio: um favor no tratado de comércio, uma mina de carvão, a construção de um porto, uma concessão lucrativa ou uma encomenda de canhões.”
Em outro momento, citando um relatório da época, Lênin mostra como o capital estrangeiro já operava no Brasil:
“Num relatório do cônsul austro-húngaro em São Paulo (Brasil) diz-se: ‘A construção das estradas de ferro brasileiras realiza-se, na sua maior parte, com capitais franceses, belgas, britânicos e alemães; os referidos países, ao efetuarem-se as operações financeiras relacionadas com a construção de ferrovias, reservam-se as encomendas de materiais de construção ferroviária’.”
Por fim, ainda no mesmo capítulo sobre a exportação de capitais, Lênin cita diretamente os valores envolvidos na exportação de capitais para o Brasil:
“O capital financeiro estende assim as suas redes, no sentido literal da palavra, em todos os países do mundo. Neste aspecto desempenham um papel importante os bancos fundados nas colônias, bem como as suas sucursais. Os imperialistas alemães olham com inveja os ‘velhos’ países coloniais que gozam, neste aspecto, de condições particularmente ‘vantajosas’. A Inglaterra tinha em 1904 um total de 50 bancos coloniais com 2279 sucursais (em 1910 eram 72 bancos com 5449 sucursais); a França tinha 20 com 136 sucursais; a Holanda possuía 16 com 68; enquanto a Alemanha tinha ‘apenas’ 13 com 70 sucursais4. Os capitalistas americanos invejam por sua vez os ingleses e os alemães: ‘Na América do Sul – lamentavam-se em 1915 – cinco bancos alemães têm 40 sucursais, 5 ingleses 70 sucursais…’ A Inglaterra e a Alemanha, no decurso dos últimos vinte e cinco anos, investiram na Argentina, no Brasil e no Uruguai mil milhões de dólares aproximadamente; como resultado disso, beneficiam de 46% de todo o comércio desses três países.”
A obra clássica de Lênin será estudada a fundo na 48ª Universidade de Férias da Aliança da Juventude Revolucionária (AJR) e da Universidade Marxista. O curso, que terá “o imperialismo” como tema central, será ministrado entre os dias 28 de janeiro e 5 de fevereiro na cidade de Sorocaba, em São Paulo. Acesse o sítio oficial do Acampamento de Férias para mais informações.