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Teoria marxista

As lições de Lênin para ninguém cair no golpe da frente ampla

Golpes sofridos por esquerdistas como Mélenchon por um lado, e o sucesso da Revolução Russa por outro, mostram como lidar com as armadilhas da burguesia para a esquerda

No último dia 18, o presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, destacou durante aula do curso “Lênin e a Revolução Russa” o papel histórico desempenhado pela tática popularizada na França como “Frente Popular”, que consiste na submissão de setores corruptos da esquerda à política da direita, uma tática comum a tempos de crise, onde a classe dominante se depara com a radicalização das tendências revolucionárias da classe trabalhadora. Baseando-se na definição do revolucionário russo Léon Trótski, o dirigente revolucionário brasileiro destaca que a frente popular e o fascismo são os “úiltimos recursos” da burguesia e do imperialismo. Disse na ocasião:

“Trotski disse que a frente popular e o fascismo são os dois últimos recursos da burguesia. Nem precisa dizer a atualidade desta declaração. O mundo está envolto nestas duas situações. Por isso temos insistindo na nossa política que o negócio não fazer aliança com os democratas contra o fascismo, pois os democratas vão preparar o caminho para os fascistas. De onde tiramos estas ideias? Daqui. Foi o que aconteceu na Rússia, na França, na Espanha, no Chile. A frente popular prepara o caminho para o fascismo. A frente popular é um mecanismo de repressão da classe operária”.

Embora popularizada pela revolução frustrada na França, em 1936, o primeiro caso de uso da tática foi justamente na revoluçaõ russa de 1917. Na ocasião, os partidos da esqueda capitularam, deixando ao imperialistmo a tarefa de comandar o regime oriundo da Revolução de Fevereiro. Em um primeiro momento, o comando era realizado de forma direita, com a direita à frente da Duma (o parlamento russo), sustentados porém pela esquerda, principalmente os socialistas revolucionários (SR’s), os populistas (narodniks) e os mencheviques, fração pequeno-burgesa do Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR) que posteriormente constituiria um partido independente.

Esses partidos, no entanto, seriam convocados para que suas bases fossem postas a fim de dar estabilidade ao regime burguês russso. Com a agitação política promovida pelos bolcheviques (fração mais revolucionária do antigo POSDR), no entanto, a crise do regime pró-imperialista se aprofundaria, levando a direita russa a entregar o governo diretamente para os setores da esquerda supracitados.

Uma vez instalados no poder, os esquerdistas usam sua autoridade política para desarticular e desarmar os trabalhadores russos, o que efetivamente tentaram e nisso, abriram caminho para a ofensiva golpista da direita russa, liderado pelo general Lavr Kornilov. Um método de ação que se repetiria em diversas experiências posteriores, e que atualmente, se verifica em diversos países, entre eles a própria França.

A Nova Frente Popular

Após, empreender uma política desorientada, de colaboração com o imperialismo para barrar o avanço da extrema direita (representada pelo partido Reagrupamento Nacional) nas eleições parlamentares antecipadas, a esquerda francesa desconsiderou completamente os riscos da operação, entrou em uma aliança com partidos ditos de esquerda, mas dominados pela burguesia imperialista como o Partido Socialista e o Europa Ecologia – Os Verdes, e com eles formou a coalizão Nova Frente Popular (NFP). Uma vez na lama, terminou de misturar-se com os porcos e fez a chamada “frente republicana”, dessa vez, com os partidos chamados de “centro”, abertamente imperialistas, como o o que serviu para ressuscitar os falidos partidos de roupagem esquerdista.

Uma vez devidamente “ressuscitados” (sob a base da popularidade do FI, deve-se sempre lembrar), os “aliados” da NFP foram os primeiros a ajudarem Macron a esfaquear a esquerda. Ex-presidente da república francesa, François Hollande chegou mandar o Mélenchon “calar a boca”.

No Reino Unido, a intromissão dos “democratas” da burguesia nas fileiras do Partido Trabalhista, que até recentemente tinha lideranças operárias como Jeremyn Corbyn em seu quadro, jogaram a agremiação centenária definitivamente nos braços da direita. Celebrado por parte da esquerda, o novo governo trabalhista (liderado por Keir Starmer) mal assumiu e já se destacou por atender interesses vitais para o imperialismo, como manter a guerra da OTAN contra a Rússia na Ucrânia.

Em outra frente de crise do imperialismo, Keir Starmer destacou ao primeiro-ministro de “Israel”, Benjamin Netaniahu, a “necessidade clara e urgente de um cessar-fogo, o retorno dos reféns e um aumento imediato no volume de ajuda humanitária que chega aos civis”, reproduzindo fielmente a política de Biden para a ocupação sionista da Palestina. Antes, em outubro de 2023, o atual primeiro-ministro britânico disse que a ditadura sionista “tinha direito” de reagir à ação palestina pela libertação do país, uma forma cínica de defender o genocídio em andamento na Faixa de Gaza.

A Frente Popular nos países oprimidos

Antes deles, no mesmo país, a formação de uma aliança de tipo “frente popular” também atrasou a luta do povo palestino e levou à direita o partido Fatá, até então a principal organização revolucionária do país invadido: trata-se da Autoridade Palestina.

Após a assinatura dos Acordos de Oslo em 1993, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) sofreu um deslocamento significativo à direita, refletindo uma mudança drástica em sua orientação política e estratégia. Este processo de transformação foi caracterizado pela criação da Autoridade Palestina (AP), que emergiu como um novo organismo político-administrativo nos territórios palestinos ocupados. Apoiada pelos Estados Unidos e por “Israel”, a Autoridade Palestina passou a representar uma união entre os então revolucionários do partido Fatá e as forças do imperialismo, que a partir de então, deixam de expressar os anseios do povo palestino pela libertação e passa a perseguí-los, rebaixando-se ao papel de polícia do sionismo contra seus compatriotas.

Mais próximo do Brasil, a ascensão de Javier Milei à presidência da Argentina, o segundo país mais importante da América do Sul, reflete uma desmoralização profunda da esquerda peronista, decorrente da política de Frente Popular adotada ao longo dos anos. A aliança entre o peronismo e setores da direita, buscando uma governabilidade estável, culminou na administração do banqueiro Alberto Fernández, cuja gestão foi marcada por crises econômicas, impasse político e descontentamento popular.

Embora celebrado com a perspectiva de superação da crise do governo de tipo neoliberal-radical de Macri, o governo Fernández falhou em responder às demandas sociais e econômicas da população, exacerbando a inflação e a pobreza. A falta de políticas efetivas para melhorar a vida dos trabalhadores e a contínua submissão aos ditames do FMI alienaram uma grande parte da base peronista, que viu suas esperanças de mudança serem frustradas.

As sucessivas crises na Casa Rosada (sede do governo argentino) não fizeram mais do que preparar o caminho para Milei, que teve contra sua candidatura candidatos centristas profundamente desmoralizados. Como política não é uma obra artística com fim, a eleição de Milei desencadeou um golpe de Estado contra o povo argentino, que sofre agora um dos mais radicais programas neoliberais já implementados, responsável por destruir a economia argentina e empobrecer o povo em proporções inéditas no período recente.

Finalmente, a história recente do Brasil tem exemplos do problema representado pela política de Frente Popular. O golpe contra a presidenta Dilma Rousseff em 2016, a prisão do presidente Lula e sua proscrição ilegal nas eleições de 2018 (um golpe de Estado também), são reflexos claros da política de Frente Popular adotada pelos governos petistas. Durante os anos de poder, o PT fez diversos compromissos com setores da direita, buscando uma governabilidade que, em última instância, desmoralizou suas administrações.

Os governos de Lula e Dilma mantiveram uma política de conciliação com grandes empresários, banqueiros e setores conservadores, ao mesmo tempo que implementavam programas sociais para reduzir a pobreza e a desigualdade. No entanto, esses compromissos limitaram a capacidade do PT de implementar uma política que atacasse os problemas mais profundos, como a desindustrialização vertiginosa iniciada ainda na Ditadura Militar, abrindo flancos para a insatisfação de suas bases populares.

O golpe contra Dilma foi um movimento articulado pelo imperialismo, que após derrubá-la, passou o trator neoliberal sobre conquistas históricas do povo brasileiro, como a legislação trabalhista, as riquezas nacionais como o petróleo e muito mais. A prisão de Lula, por sua vez, foi uma manobra jurídica que visava impedir sua candidatura nas eleições de 2018, onde era favorito. Essa proscrição ilegal foi outro golpe, desta vez para garantir a vitória de Jair Bolsonaro, representante da extrema direita.

Esses eventos demonstram como a política de Frente Popular, ao tentar conciliar interesses antagônicos, acabou enfraquecendo o PT e facilitando a ascensão de forças conservadoras e autoritárias no Brasil. Em um momento infeliz, Lula quis insinuar ter obtido conquistas que supostamente, Lênin não teria conseguido.
Ocorre que diferente de Lula, Lênin jamais foi derrubado e tampouco o imperialismo conseguiu destruir integralmente as conquistas da Revolução Russa, como o recente conflito na Ucrânia demonstra. Sua tática, de impulsionar o desenvolvimento político independente para a classe trabalhadora para combater as infiltrações direitistas mostra-se muito mais acertada pelo teste da história.

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