Brasil

As eternas ilusões da esquerda em relação à Globo

Colunista de Brasil 247 critica a emissora monopolista por fazer aquilo que ela existe para fazer, expressando a dificuldade de um setor da esquerda em aprender com os erros

O jornalista Bepe Damasco publicou uma coluna no portal Brasil 247, intitulada Bolsonaro, Marçal e a naturalização irresponsável da Globo, trazendo uma consideração no mínimo estranha sobre o papel do monopólio para a luta política no País. Segundo Damasco, as opções políticas da Globo, Bolsonaro para a Presidência da República em 2018 e Pablo Marçal para a Prefeitura de São Paulo nas eleições municipais desse ano, são expressões da “mesma irresponsabilidade” por parte do grupo monopolista. Diz o colunista:

“A mesma irresponsabilidade ante a iminência de um descerebrado fascista assumir a mais alta magistratura do país se verifica agora com a possibilidade, toc, toc, toc, de uma figura execrável do calibre de Marçal governar a nossa maior metrópole.”

Ao creditar à política da Globo uma “irresponsabilidade”, o que o colunista de Brasil 247 está efetivamente fazendo, é desconsiderar o caráter social do monopólio. É como se a Globo não tivesse uma opção política definida pela sua classe, como se fosse um órgão de imprensa controlado por pessoas isentas, que querem o bem do Brasil, o que é completamente falso e a história brasileira, do passado mais remoto ao mais recente, é riquíssimo em exemplos do verdadeiro câncer para o País que é o Grupo Globo.

Desde a época em que era um obscuro jornal carioca de extrema direita dedicado a atacar o governo nacionalista de Getúlio Vargas, passando pela consolidação da empresa como monopólio de comunicação nacional apoiado pela Ditadura Militar (1964-1985), a Globo se destacou ao longo de sua sinistra história por ser muito responsável, porém para o imperialismo e contra o povo brasileiro. Com isso em mente, a verdadeira irresponsabilidade é a de Damasco, como se expressa no parágrafo a seguir:

“Hoje, diante do crescimento da candidatura de um lixo como Pablo Marçal à prefeitura da maior cidade do país, a Globo mostra que não aprende bulhufas com a história, nem com o passado recente e tampouco com o passado remoto.”

Ora, quem demonstra não ter aprendido absolutamente nada com as piores tragédias ocorridas no País desde os anos 1950 é o campo que, opondo-se à política de golpes e rapina do imperialismo, espera qualquer coisa diferente da Globo em 2024. Para quem Apoiou a Ditadura Militar, Collor, o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, a prisão de Lula e o golpe de 2018, o que é o apoio a figuras como Bolsonaro e Marçal, senão uma demonstração de coerência?

É tão evidente que existe uma linha política sendo fielmente seguida, que o estranho é uma pessoa minimamente bem informada espantar-se com um apoio do monopólio a um direitista e dizer que “a Globo mostra que não aprende bulhufas com a história”. Ao fazê-lo, Damasco demonstra o contrário, que há, isto sim, um setor da esquerda que teima em não aprender “bulhufas com a história”.

Por sua proximidade maior com a burguesia, a esquerda pequeno-burguesa tem uma forte propensão em se tornar fiadora das ilusões com o regime político e os órgãos que apoiam a ditadura da classe dominante, o que no caso concreto do Brasil, coloca a Globo como um dos mais importantes. Dessa forma, a colocação do jornalista é útil para reforçar ilusões desse setor da esquerda, mantê-los preso à farsa de que a Globo seria uma empresa com alguma seriedade e alguma preocupação com os rumos do País, o que é verdade apenas no sentido de que seu verdadeiro interesse é na ruína dessa imensa nação e das massas trabalhadoras brasileiras.

Quem realmente não está aprendendo com a história, “nem com o passado recente e tampouco com o passado remoto” é Damasco que, ao prestar essa concessão política indevida à Globo, faz o que popularmente se chama “passar pano”, isto é, defender os crimes do monopólio pró-imperialista, ainda que de maneira um tanto sutil, mas de qualquer forma, reforçando uma ilusão muito perigosa para a esquerda. Após enumerar questionamentos francamente tolos sobre a razão de a Globo não dar destaque a notícias que poderiam ser negativas para a campanha de Marçal, Damasco conclui sua coluna dizendo:

“Só sei que o mundo já teria desabado se um décimo dessas acusações pairasse sobre um petista ou aliado que concorresse a algum cargo importante.”

A expressão final da mesma confusão. É óbvio que sendo uma arma a serviço da destruição do País, tudo que puder ser aproveitado para atacar os opositores do imperialismo em solo brasileiro será usado, sendo verdade ou não. Acaso teria o jornalista esquecido o golpe do famigerado “triplex” de Lula? As “pedaladas fiscais” construídas para impulsionar a campanha golpista contra a presidenta Dilma?

A colocação final de Damasco é sintomática da ilusão com a utilidade do monopólio. A Globo não existe para informar, mas para enganar. O quanto antes a esquerda assimilar esse fato comprovado pela história da República brasileira e evitar fantasias quanto a um pretenso órgão de imprensa isento de interesses, e de raízes em uma classe social definida, melhor.

A Globo não tem que ser questionada por “imparcialidade”, mas denunciada como a organização criminosa a serviço dos interesses imperialistas, que é o que o monopólio realmente é. O contrário disso, é uma defesa dos crimes que a empresa continua ajudando a ocorrerem. Essa defesa pode ser aberta ou velada, consciente ou inconsciente, mas é uma defesa de qualquer forma e isso deve ser combatido.

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