Vimos isso no embate entre o ministro Alexandre de Moraes e Jair Bolsonaro, assim como no episódio do confronto entre Elon Musk e o ministro do STF. Vimos isso claramente nas eleições de 2022, quando o PT se aliou a Alckmin e outras figuras e grupos políticos da mesma linhagem. Vemos isso, na verdade, a todo momento, a cada etapa ou acontecimento novo da luta política no Brasil e fora do país. Nos referimos aqui à dificuldade demonstrada pela esquerda em identificar o inimigo real e prioritário contra quem as organizações do movimento operário e popular deveriam lutar.
Em meio à catástrofe no Rio Grande do Sul, que deixou um rastro de destruição, feridos, mortos e prejuízos econômicos incalculáveis, mais uma vez as principais organizações da esquerda vacilaram em apontar o inimigo. É sintomático que o “aquecimento global” apareceu, entre correntes da esquerda, como a principal causa responsável pela tragédia no sul do país. O inimigo real e fundamental ficou, novamente, deixado em segundo plano, num canto qualquer para ninguém ver.
Não identificar e expor o inimigo é o mesmo que o deixar livre para agir. É o que acontece agora. O principal responsável pela destruição em curso no estado gaúcho é a política neoliberal, uma política aplicada há décadas que consiste, em termos gerais, no corte brutal dos gastos públicos em áreas fundamentais para a população (saúde, educação, previdência, moradia, infraestrutura urbana e, é claro, defesa civil, entre outros), em benefício dos bancos e especuladores financeiros privados nacionais e internacionais. Trata-se de uma política de roubo público permanente que tem invariavelmente como resultado um cenário de terra arrasada.
No Brasil, a política neoliberal sempre teve como seu representante máximo o PSDB. Não é acidental que o Rio Grande do Sul esteja neste momento sendo governado por Eduardo Leite, justamente do PSDB. A experiência mundial e brasileira não cansam de oferecer exemplos do que o neoliberalismo é capaz. A catástrofe gaúcha é a expressão mais recente das capacidades destrutivas do neoliberalismo.
A esquerda, ao não identificar o real culpado pela situação, abre brechas mais uma vez para o inimigo contra-atacar. É sabido que essa dificuldade de identificar o inimigo tem a ver com que a esquerda, com frequência, enxerga o inimigo como um aliado do momento. Mas tais alianças cobram o seu preço, mais cedo ou mais tarde. Por definição, o inimigo é aquele capaz de lhe impor uma derrota, por mais que o enfeite com adornos de aliado. Seguindo nessa toada, isso é tudo o que a esquerda colherá dessas alianças com o inimigo: derrotas.