As cúpulas de Aqaba, realizadas em 26 de fevereiro de 2022, e Sharm El-Sheikh, em 19 de março de 2022, reuniram representantes da Autoridade Palestina (AP), do governo israelense e mediadores internacionais, sob o patrocínio dos Estados Unidos, Egito e Jordânia. Embora oficialmente promovidas como encontros para reduzir as tensões entre palestinos e israelenses e evitar uma escalada de violência, os fatos que emergiram dessas reuniões revelam que os interesses em jogo estavam longe de atender às demandas do povo palestino. Ao contrário, os encontros consolidaram a função da AP como colaboradora no aparato de repressão da ocupação israelense, evidenciando sua fragilidade e dependência em relação ao imperialismo.
As cúpulas aconteceram durante a intensificação da agressão do exército israelense na Cisjordânia, o crescimento da resistência armada em cidades como Jenin e Nablus e uma crise política e financeira grave enfrentada pela Autoridade Palestina. A AP, liderada por Mahmoud Abbas, chegou às reuniões sob forte pressão popular e oposição das principais facções palestinas, que a acusam de colaborar com “Israel”. Informações publicadas pelo The Cradle e outros veículos confirmam que, durante as cúpulas, negociações diretas resultaram no fornecimento de armas e veículos blindados para a AP, com o objetivo declarado de intensificar a repressão contra combatentes palestinos.
De acordo com essas informações, “Israel” enviou à Autoridade Palestina um carregamento de 1.500 rifles de assalto e uma frota de veículos blindados de fabricação norte-americana. Esses equipamentos foram transferidos diretamente de bases militares dos Estados Unidos na Jordânia, passando pelo cruzamento de Allenby, com autorização do Coordenador das Atividades do Governo nos Territórios (COGAT), órgão israelense responsável pela administração da ocupação. O acordo também contou com o aval do ministro das Finanças de “Israel”, Bezael Smotrich, um dos líderes da coalizão governamental de extrema direita. Esses equipamentos foram direcionados exclusivamente para as forças de Segurança Geral e Inteligência da AP, sob a condição de que fossem usados contra o que “Israel” e os Estados Unidos classificam como “terroristas,” termo frequentemente utilizado para descrever combatentes da resistência palestina.
Ainda segundo os relatos, a Autoridade Palestina havia solicitado esses equipamentos há mais de um ano, mas os pedidos foram rejeitados por “Israel”. A aprovação só ocorreu após as cúpulas de Aqaba e Sharm El-Sheikh, onde representantes da AP e do governo israelense negociaram diretamente os termos do envio. Esse fato sugere que os encontros serviram como espaço para aprofundar a cooperação da AP com “Israel”, com foco específico em reprimir as ações da resistência armada palestina, que estava ganhando apoio popular significativo.
O contexto financeiro e político em que a AP aceitou essas condições reflete sua situação de extrema fragilidade. Sob uma crise financeira severa, agravada pelo confisco de receitas fiscais por “Israel” e pela redução do apoio internacional, a AP estava enfrentando dificuldades para pagar salários completos a seus funcionários há mais de um ano. Além disso, acusações de corrupção e má gestão acabavam com sua legitimidade interna. Esses fatores contribuíram para que a liderança de Mahmoud Abbas aceitasse os termos das negociações, temendo que rejeitar as condições impostas pelos Estados Unidos e por “Israel” pudesse levar a um isolamento ainda maior e acelerar seu colapso.
“Israel” se comprometeu apenas a liberar parte das receitas fiscais confiscadas, mas não houve qualquer menção à cessação de assassinatos seletivos, incursões militares ou à expansão de assentamentos. Paralelamente, as forças israelenses continuaram a realizar operações em cidades palestinas, como as incursões em Jenin, que resultaram em mortes de civis e combatentes da resistência. Esses eventos demonstram que, enquanto a AP é pressionada a agir contra a resistência, “Israel” mantém total liberdade para intensificar sua ocupação e repressão.
A participação da AP nesses encontros também gerou forte oposição entre as facções palestinas e amplos setores da população. Muitos enxergam na colaboração com “Israel” uma traição aos princípios da luta nacional palestina.