Durante viagem a Bruxelas, capital da Bélgica, Faisal bin Farhan, ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita, afirmou que é “absolutamente necessário” que “Israel” aceite que não pode existir sem a existência de um Estado palestino. Em sua declaração, feita no dia 26 de maio, bin Farhan ainda reafirmou o direito do povo palestino à autodeterminação.
“Acredito firmemente que uma solução de dois Estados com o estabelecimento de um Estado palestino credível serve… o interesse dos palestino e cumpre o seu direito à autodeterminação”, disse o ministro saudita, acrescentando que “Israel” “não pode decidir se os palestinos têm ou não direito à autodeterminação”.
“Também é do interesse de Israel e proporciona a segurança que Israel precisa e merece.”
Cabe ressaltar que as declarações feitas pelo ministro saudita ocorrem ao mesmo tempo em que diversos países europeus reconhecem o Estado da Palestina. É o caso da Noruega, da Irlanda e da Espanha. Sobre isso, o chanceler da Arábia Saudita afirmou que este reconhecimento “não é apenas simbólico”. “[O reconhecimento] re-enfatiza a viabilidade da solução de dois Estados […] Então encorajamos outros [países] a fazê-lo”, afirmou.
Existe uma grande pressão contra “Israel”, principalmente após os massacres perpetrados nos últimos dias em Rafá, nos quais os sionistas assassinaram centenas de palestinos. Finalmente, a escalada da matança em Gaza é justamente consequência da crise do Estado sionista que, ao mesmo tempo em que mata civis de maneira indiscriminada, não consegue absolutamente nenhum avanço militar significativo.
Pelo contrário, é cada vez mais derrotada pela resistência palestina e seus aliados no Líbano, no Iêmen, no Iraque etc. É nesse sentido que vão as declarações do chanceler saudita: se “Israel” não chegar a algum acordo com os palestinos, será varrido do mapa – algo que pode acontecer até mesmo com um acordo dado o tamanho da crise israelense.
Diante dessa crise, os Estados Unidos começam a se articular cada vez mais com a Arábia Saudita no sentido de fortalecer a influência norte-americana no Oriente Médio e de aumentar o apoio dado à ocupação sionista. Neste momento, a principal campanha do imperialismo no que diz respeito aos sauditas é de fazer com que o país árabe normalize suas relações com “Israel” e reconheça a ocupação como um “país” legítimo.
No dia 19 de maio, o conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, viajou até a cidade de Dhahran, região leste da Arábia Saudita, para se reunir com o príncipe herdeiro do reino, Mohamed Bin Salman. Lá, foi discutido justamente um pacto de cooperação militar, além de um acordo comercial.
Para o reconhecimento do Estado de “Israel” pelo reino saudita e o estabelecimento de relações diplomáticas previstos em tal pacto, entretanto, a Arábia Saudita exigiria aprovação de um programa nuclear, acesso à alta tecnologia em armamentos e no campo da inteligência artificial norte-americanos, bem como garantias de assistência dos Estados Unidos em possíveis contra-ataques.
Além disso, a Arábia Saudita já afirmou publicamente que nenhuma normalização em suas relações com “Israel” é possível sem que haja um planejamento concreto para o estabelecimento de um Estado palestino.
De acordo com The Times of Israel, um dos principais jornais sionistas, espera-se que os Estados Unidos, para fazer avançar suas negociações com a Arábia Saudita, acabe com o banimento de vendas de armas para o país árabe. Ademais, na última quarta-feira (22), Antony Blinken, secretário de Estado norte-americano, afirmou que ambos os países estão próximos de firmar um acordo no que diz respeito à questão já mencionada da energia nuclear, bem como da cooperação nas áreas de segurança e defesa.
Por que os Estados Unidos estão tão interessados a firmar um acordo com a Arábia Saudita? Fato é que o imperialismo está em meio a uma crise inédita e, por isso, ingressou em uma contra-ofensiva. Para que essa contra-ofensiva seja bem sucedida, o imperialismo precisa reprimir duramente qualquer um que se coloque contra sua dominação. Nesse sentido, é de total interesse dos EUA que enviem mais armas para os sauditas, justamente para fortalecer o regime e favorecer a repressão às manifestações dentro do país, bem como para fortalecer um importante aliado na região.
A repressão é uma necessidade para a etapa pós-guerra, pois, diante da certa vitória palestina, os oprimidos de todo o mundo e, especialmente no Oriente Médio, tendem a levantar a cabeça contra a ditadura mundial imperialista.
A Arábia Saudita é um dos três países mais importantes para garantir a dominação imperialista no Oriente Próximo, junto ao Egito e à Jordânia. Se algum desses três países passar para o lado dos oprimidos por meio, por exemplo, de uma revolução como a que está ocorrendo na Palestina, a influência dos Estados Unidos na região estará a caminho de um colapso total.
Mais do que isso, as declarações do chanceler saudita indicam que há uma tentativa de fazer “Israel” encerrar esta guerra da maneira menos prejudicial possível. Diante de um acordo favorável ao Hamas, consequentemente, os oprimidos ficarão ainda mais confiantes em sua luta contra o imperialismo. Mais um motivo pelo qual é essencial preparar a Arábia Saudita e demais aliados dos EUA no Oriente Médio para um período posterior ao conflito na Palestina.