HISTÓRIA DA PALESTINA

Após assassinar 3,5 mil civis, sionistas deixam Sabra e Chatila

Quarenta e três anos após o horror, o palestino Hamas e o libanês Hesbolá, dois partidos diretamente ligados ao massacre ocorrido em Beirute, vingam as vítimas do sionismo

Nesse dia 18, o mundo lembra os 42 anos do encerramento de uma das mais monstruosas chacinas já ocorridas. Após três dias de um horror difícil de ser expresso por palavras, o campo de refugiados de Sabra e Chatila expôs ao mundo uma selvageria chocante, representando um ponto de inflexão decisivo na percepção global sobre o conflito entre “Israel” e a Resistência Palestina.

A reação negativa à barbárie foi tamanha que, em um primeiro momento, até mesmo em “Israel” a reação inicial foi marcada por uma tentativa de minimizar os danos. No mesmo dia 18, o então ministro da Defesa Ariel Sharon tentou se distanciar do massacre, alegando que a responsabilidade recaía exclusivamente sobre as milícias libanesas. “As forças israelenses estavam em áreas adjacentes aos campos e não tinham controle sobre o que estava acontecendo dentro deles”, disse Sharon.

O jornalista italiano radicado no Brasil e que cobria o caso para a revista Veja Alessandro Porro chegou a contar em quantidade de passos a distância entre os campos de refugiados e o comando militar israelense. Ainda, outros relatos posteriores rapidamente desmentiram Sharon e ajudaram a estabelecer a verdade sobre o crime.

Aqui estão três citações de testemunhas que relataram a ajuda prestada por Israel aos falangistas durante o massacre de Sabra e Chatila. É o caso do escritor e ativista paquistanês-britânico Tariq Ali, que estava em Beirute durante o massacre e disse:

“As testemunhas relataram que as forças israelenses tinham uma visão clara dos campos durante o massacre. Elas utilizaram sinalizadores para iluminar as áreas, o que facilitou a tarefa das milícias falangistas e prolongou o sofrimento dos civis.”

O fotógrafo libanês Khalil Jaber, que documentou o massacre, foi uma dessas testemunhas: “eu vi com meus próprios olhos como as tropas israelenses usavam sinalizadores para iluminar os campos durante a noite. A iluminação era claramente destinada a ajudar as milícias falangistas a localizar e atacar os civis nos campos de refugiados”, disse.

O jornalista libanês Sami Haddad, que estava no local acrescentou: “as forças israelenses estavam posicionadas ao redor dos campos e usaram sinalizadores para manter a área bem iluminada. Isso permitiu que as milícias libanesas realizassem seus ataques com maior eficiência e sem a preocupação de serem interrompidas”.

Além deles, Christopher Hitchens, jornalista e escritor britânico, conhecido por suas críticas ao conflito à ocupação sionista e autor da obra O Julgamento de Kissinger, disse que “as evidências documentadas e os testemunhos de sobreviventes indicam que as forças israelenses não apenas cercaram os campos de refugiados, mas também proporcionaram iluminação com sinalizadores, permitindo que as milícias falangistas realizassem seus ataques noturnos com total impunidade”.

A jornalista israelense Amira Hass, que cobriu a região e criticou as políticas israelenses, declarou sobre a versão de seu governo: “os relatos de testemunhas e a documentação fotográfica confirmam que as forças israelenses ajudaram a iluminar os campos durante o massacre. Isso não pode ser visto como uma mera coincidência, dada a escala da violência e a evidente coordenação entre Israel e as milícias libanesas”.

Por fim, o jornalista norte-americano Thomas Friedman foi além e produziu um livro, intitulado From Beirut to Jerusalem (De Beirute a Jerusalém, em português), destacando a sua própria experiência e aterradora experiência. Além do horror, Friedman desmente também a versão mentirosa de que os falangistas estavam a caça de dois mil combatentes da OLP que permaneciam em Beirute:

“A primeira pessoa que vi em Chatila foi um homem muito velho, com uma barba branca bem aparada e uma bengala de madeira a seu lado. Arriscaria dizer que ele tinha cerca de 90 anos. Quando o vi, já estava morto há cerca de quatro horas. Foi um trabalho limpo – um único disparo efetuado de perto que deixara apenas um pequeno buraco de sangue já seco, no centro da sua têmpora esquerda. O assassino provavelmente olhou em seus olhos e então apertou o gatilho. Ele estava esparramado pelo chão de uma das entradas ocidentais do campo, apenas um indício do que estava por vir nos becos com cheiro de morte. Mais para dentro, vi uma mulher com um peito cortado; uma sepultura cavada às pressas com terra vermelha com um braço e uma perna a sobressair de uma pobre alma quase implorando para não ser esquecida; até mesmo os cavalos estavam tão cheios de projéteis que suas barrigas tinham arrebentado. Principalmente, vi grupos de jovens em seus  20 ou 30 anos, que tinham sido alinhados contra as paredes, amarrados por suas mãos e pés e então, abatido ao estilo de um bando fuzilado por metralhadora. Onde estavam os 2.000 combatentes da OLP que supostamente foram deixados nos campos de refugiados? Se algum dia existiram, eles certamente não teriam sido mortos daquela forma.”

No dia seguinte (19), o primeiro-ministro Menachem Begin ainda arriscou-se a dizer que “o governo de Israel não pode ser responsabilizado pelo massacre em Sabra e Chatila”, mas sua mentira não tardou a ser desmascarada. No dia seguinte ao massacre, as primeiras reportagens eram marcadas por um tom de choque e incredulidade, com órgãos de imprensa de todo o planeta relatando os horrores que haviam ocorrido, utilizando imagens gráficas e testemunhos de sobreviventes para transmitir a magnitude do massacre.

A imprensa israelense, por sua vez, enfrentou uma batalha difícil. Enquanto alguns jornais e meios de comunicação tentaram justificar as ações do governo, outros foram mais críticos e abordaram a responsabilidade de “Israel” no massacre. A imprensa interna lidou com uma divisão significativa sobre como reportar o evento, refletindo a tensão política e social dentro do país.

Internacionalmente, as reações foram igualmente diversificadas. Em muitos países árabes e muçulmanos, a cobertura foi severa e crítica, destacando o massacre como um exemplo brutal da ditadura sionista contra o povo palestino e das consequências trágicas da intervenção israelense no Líbano.

A pressão popular, sobretudo nos países desenvolvidos onde o repúdio era enorme, levou à formação de uma comissão de inquérito internacional, conhecida como Comissão Kahan, que, a exemplo de tantos crimes cometidos por aliados do imperialismo, apenas esperou a pressão abaixar para concluir que “Israel” tinha uma responsabilidade apenas indireta pelo massacre. Segundo o relatório final, “o Ministro da Defesa, Ariel Sharon, é responsável por não tomar as medidas necessárias para prevenir o massacre. Sua atitude, e a de outros líderes, foi caracterizada como uma falha grave de supervisão”, acrescentando também que “o governo israelense não fez o suficiente para impedir o massacre e falhou em proteger a população civil que estava sob a sua responsabilidade indireta”, concluiu a Comissão, que apesar de tudo, não acusou “Israel” diretamente de ter ordenado o massacre, quando é nítido para qualquer um que foi exatamente o que aconteceu.

Dezenove anos depois, Sharon foi eleito o 11º primeiro-ministro de “Israel”, cargo que ocupou até 2006, quando um acidente vascular cerebral o matou. Os governos dos países desenvolvidos mantiveram, naturalmente, seu apoio ao sionismo, porém o enclave imperialista jamais teve a simpatia popular novamente.

Além das repercussões políticas internacionais, o massacre expôs a vulnerabilidade das populações civis palestinas, assim como a necessidade de novas organizações, mais efetivas na proteção do massacrado palestino e também dos xiitas libaneses, outro grupo destacado entre as vítimas de Sabra e Chatila. Quarenta e três anos após o horror, duas forças políticas enormes estariam lutando juntas e empreendendo uma campanha responsável por uma série de derrotas emocionantes sofridas pela ditadura sionista: o partido palestino Hamas e o partido libanês Hesbolá.

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