Em votação praticamente unânime, o Senado do estado norte-americano do Havaí aprovou no 21 de março um cessar-fogo permanente em Gaza, sendo o primeiro corpo legislativo dos Estados Unidos a aprovar tal moção. Dominado pelo Partido Democrata, o Senado havaiano teve 24 votos favoráveis e apenas 1 contrário à resolução que pede ao presidente dos EUA, Joe Biden (também democrata), e aos membros da delegação do Congresso do estado que “peçam publicamente um cessar-fogo imediato e permanente em Gaza e continuem as negociações para uma paz duradoura”.
Fundadora do grupo de defesa Rise for Palestine, localizado no Havaí, Fatima Abed disse em comunicado na sexta-feira (22) que a aprovação da resolução foi uma “realização monumental”, e o Havaí pode se orgulhar de seu papel de liderança em levar o movimento para forçar um cessar-fogo imediato e permanente em Gaza para o nível “estadual”.
Poucos dias depois, outra votação, desta vez da Organização das Nações Unidas (ONU), aprovou o cessar-fogo durante o período do Ramadã, previsto para durar até o dia 9 de abril. Ao contrário das votações anteriores, esta não teve a rejeição dos EUA, mas sua abstenção, o que bastou para que a proposta de suspensão das hostilidades fosse aprovada.
Reconhecidamente refratário à ideia de suspender os ataques sem a rendição completa dos palestinos, os EUA acabaram cedendo devido à crescente crise interna provocada pelos massacres israelenses e pela firmeza da resistência palestina. Essa crise foi expressa até mesmo na festa do Oscar, o grande prêmio da indústria cinematográfica norte-americana. Na cerimônia de premiação ocorrida neste ano, o cineasta inglês Jonathan Glazer fez um discurso que despertou a ira dos sionistas que dominam Hollywood, com mais de mil assinaturas contra o posicionamento de Glazer.
“Nosso filme [‘A Zona de Interesse’ vencedor do prêmio de Melhor Filme Internacional] mostra onde a desumanização leva, em seu pior aspecto. Ele moldou todo o nosso passado e presente”, disse o cineasta – que é judeu – em seu discurso de agradecimento.
Atento ao movimento contra os crimes de “Israel”, até mesmo um notório sionista como o ex-presidente Donald Trump tem manifestado sua oposição às operações israelenses. Em entrevista ao jornal israelense Israel Hayom, Trump comentou: “Acho que Israel queria mostrar que é durão, mas às vezes você não deveria fazer isso”, disse
“Eu queria ligar (para o governo israelense) e dizer que não fizessem isso”, continuou Trump. “Essas fotos e filmagens. Quero dizer, fotos em movimento de bombas sendo jogadas em prédios em Gaza. E eu disse: ‘Oh, esse é um retrato terrível. É uma imagem muito ruim para o mundo.’”
O ex-presidente também explicou que a relação entre o lobby pró-Israel e a política dos EUA mudou. “Há cerca de 15 anos, Israel tinha o lobby mais forte. Se você fosse um político, não poderia dizer nada de ruim sobre Israel, pois isso seria o fim de sua carreira política. Hoje, é quase o oposto”, afirmou ele.
A crítica de Trump foi dirigida especialmente aos esforços de propaganda israelense. “Israel tem que melhorar com a promoção e com as relações públicas, porque neste momento eles estão em ruínas. Eles estão sendo muito prejudicados”, ao que concluiu: “Israel tem que ter muito cuidado porque está perdendo muito do mundo, está perdendo muito apoio, você tem que terminar [a guerra]. Israel tem que seguir em frente em paz para levar uma vida normal para o país e para todos os outros”.
O fato de até mesmo o homem que tentou transferir a embaixada norte-americana em “Israel” de Telavive para Jerusalém pedir para “‘Israel’ seguir em frente em paz” e “terminar a guerra” é significativo, assim como a afirmação sobre a mudança do estado de espírito da população norte-americana e a queda na força do lobby sionista. O atual presidente, Joe Biden, teve uma amostra do quanto é verdadeira a afirmação do republicano: “um político não poderia dizer nada de ruim sobre Israel” há 15 anos e “hoje é o oposto”. É o sintoma de uma crise política gravíssima, indicando o peso do apoio aos crimes de “Israel”.