O governo do Reino Unido prendeu manifestantes sob acusações vagas de terrorismo, evocando a Seção 12 da Lei do Terrorismo (Terrorismo Act). Figuras públicas proeminentes da luta contra o genocídio do povo palestino promovido por “Israel”, como Richard Medhurst, Sarah Wilkinson e membros da Ação Palestina, foram detidos e indiciados.
Caso Ricardo Medhurst
O caso do jornalista e comentarista político, Richard Medhurst, é um bom exemplo. Opositor do apoio da Grã-Bretanha às ações israelenses na Faixa de Gaza, Medhurst denuncia veemente os crimes de guerra cometidos em Gaza.
Em agosto, Medhurst foi detido no Aeroporto de Heathrow, em Londres, por seis policiais, sendo informado apenas que a prisão foi feita sob a Lei do Terrorismo. Ele foi acusado genericamente de expressar opinião ou crença em apoio a uma organização terrorista proscrita, mas o ato não foi especificado.
Medhurst especula que sua cobertura do genocídio em andamento na Palestina foi o objeto da acusação. Entretanto, as autoridades “não explicariam o que isso significava”, o mesmo está obrigado a se apresenta novamente em 3 meses e temer que suas palavras possam ser distorcidas em seu desfavor.
“Fui colocado em confinamento solitário, em uma cela fria que cheirava a urina. Não havia luz, e a cama — se é que você pode chamar de cama — era simplesmente uma pequena saliência de concreto com um colchão fino como papel”. Relata Medhurst.
Ação Palestina
Ativa desde 2020, a organização Palestine Action, realiza uma campanha para interromper a cadeia de fornecimento de armas britânicas a “Israel”. Além de propaganda, utilizam táticas de ocupação e sabotagem da produção dos fabricantes de armas.
Seu cofundador, Richard Barnard, foi acusado sob a Seção 12 da Lei de Terrorismo de 2000 por “expressar uma opinião que apoia uma organização proscrita”. Recaindo sobre o mesmo outras duas acusações de encorajar ou ter a intenção de encorajar danos criminais.
O grupo teve 11 membros presos sob a Lei de Terrorismo sem acusações, por participação em ações contra fabricantes de armas na Inglaterra. Incluso o grupo “Filton 10”, Ian Sanders, Zoe Rogers, Hannah Davidson, William Plastow, Madeleine Norman, Samuel Corner, Fatema Rajwani, Charlotte Head, Jordan Devlin e Leona Kamio
Outros cinco, Ayesha, 23; Calum, 24; Eva, 26; Stuart, 26; e Sumo, 22, foram presos em julho por ocupar a fábrica de armas Thales em Glasgow, na Escócia, ação quer teria ocasionando mais de £1 milhão em perdas. Todo foram condenados por “violação da paz”, com 12 messes de detenção, e dois destes tiveram a condenação adicional por “malícia” com acréscimos de 2 e 4 messes nas penas, por destruir componentes de armas na fábrica. Segundo o juiz, a severidade da punição estaria como exemplo.
Sarah Wilkinson
A ativista Sarah Wilkinson, de 61 anos, teve sua casa invadida em agosto. Ela foi presa e seus dispositivos eletrônicos foram confiscados por 12 policiais antiterrorismo. Os agentes foram descritos pelo filho da vítima como “bandidos vestidos com capuzes”.
Como antiga militante pela paz, Wilkinson estava envolvida em uma iniciativa na Jordânia para lançar ajuda humanitária aérea ao povo faminto no norte de Gaza. Ela também participou de uma flotilha de ajuda humanitária que visava quebrar o cerco israelense.
Detida por “postar conteúdo online”, sua liberação ocorreu sob a condição de que se abstivesse de usar dispositivos eletrônicos. Ela foi impedida de continuar sua cobertura sobre o genocídio em Gaza e não pôde mais interagir com seus 300.000 seguidores no X (antigo Twitter).
Sobre sua prisão, Roger Waters, do Pink Floyd, declarou em um vídeo que Wilkinson foi presa “por defender os direitos humanos e fazer campanha contra o genocídio”. Waters acrescentou: “Se você permitir que isso continue, a prisão de Sarah Wilkinson e a perseguição do meu amigo Craig Murray, entre outros, então você aceitou completamente que a Inglaterra é agora um estado fascista. 1984 chegou e está vivo e bem no Reino Unido. Sobre meu cadáver.”
Governo das armas
O regime político no Reino Unido, sob um governo “trabalhista”, além de manter a classificação o Hamas como organização terrorista, tem adotado uma repressão severa contra manifestantes contrários ao sionismo. Aqueles que denunciam os crimes de guerra sionistas na Faixa de Gaza, realizados com o apoio da Grã-Bretanha, são rotulados como apologistas do terrorismo.
Esse endurecimento do regime está focado nos manifestantes que se opõem ao fornecimento de armas britânicas e seus componentes a “Israel”. As manifestações com centenas de milhares de participantes e a mobilização ativa desses grupos anti-genocídio no Reino Unido forçaram o governo a suspender 30 das 350 licenças de exportação de armas para “Israel”, conforme anunciado pelo Secretário de Relações Exteriores, David Lammy.
A decisão foi motivada por preocupações com possíveis violações graves do direito humanitário internacional na Faixa de Gaza. No entanto, essa medida é considerada insuficiente, tardia e quase insignificante, evidenciando a pressão exercida sobre o governo trabalhista.
A vitória da esquerda
O atual governo trabalhista britânico foi apresentado pela esquerda pequeno-burguesa como uma vitória da esquerda. No entanto, a atual onda de prisões arbitrárias já questiona essa suposta vitória, embora não seja a primeira vez que isso ocorra.
No caso de Heba Alhayek, Pauline Ankunda e Noimutu Olayinka Taiwo, o Juiz Distrital Sênior Adjunto Tan Ikram, mesmo reconhecendo a falta de intenção de apoio ao Hamas, condenou-as por crimes relacionados ao terrorismo. “Vocês cruzaram a linha, mas seria justo dizer que as emoções estavam muito altas nesta questão. Sua lição foi bem aprendida,” declarou Ikram.
Esse mesmo governo trabalhista não questiona a participação de soldados israelenses em eventos de palestras em Londres, mesmo que esses soldados tenham participado diretamente da invasão terrestre de Gaza. Vale destacar que a Corte Internacional de Justiça (CIJ) considera que a ocupação de Gaza pode constituir um potencial genocídio.
Trabalhismo, mas sionista
A orientação do governo britânico é clara e se reflete nas prisões e condenações, que visam silenciar e intimidar os opositores do sionismo. As autoridades britânicas utilizam os indivíduos perseguidos como exemplos de punição para aqueles que desejam se envolver em atividades semelhantes.
Mesmo sendo um governo trabalhista, o governo britânico está totalmente controlado pelo sionismo. Seu funcionamento permanece dominado pelos monopólios e pelos órgãos de inteligência do imperialismo.