O esforço do imperialismo mundial — especialmente dos Estados Unidos — para derrubar o governo sírio, liderado pelo então presidente Bashar al-Assad, não conheceu limites. As diversas frentes de atuação das forças imperialistas, que incluíram apoio logístico e financeiro a grupos islâmicos unidos para depor Assad, além do trabalho sujo da imprensa pró-imperialista, contribuíram diretamente para fortalecer facções fundamentalistas como o HTS, liderado por Mohammad Jolani, que agora assume o papel de chefe de governo na Síria sob as bênçãos dos governos ocidentais.
Uma reportagem do portal The Grayzone revelou uma farsa monumental envolvendo a detenção de um suposto prisioneiro “opositor” do regime sírio. O escândalo gira em torno de Clarissa Ward, correspondente da rede norte-americana CNN, que encenou uma cena em uma prisão na Síria.
O episódio, amplamente divulgado, mostrava Ward clamando por mudanças no regime e supostamente libertando um prisioneiro esquecido em uma cela do governo sírio. Apesar de a ação já ter sido desmascarada como fraude, a CNN continua retransmitindo as imagens, enquanto defende sua correspondente.
Após severas críticas de usuários de mídia social, uma organização de verificação de fatos ligada ao governo dos EUA revelou que o prisioneiro, supostamente libertado na teatralidade de Ward, era na verdade um oficial de baixa patente do serviço de inteligência sírio, preso por corrupção e abuso.
Sob pressão, a CNN abordou o caso em 15 de dezembro, prometendo investigar o ocorrido. Porém, continua protegendo Ward, responsável pelo espetáculo jornalístico. Na reportagem original da CNN, publicada em 11 de dezembro, Ward entra em uma prisão que afirma ter sido operada pela inteligência da Força Aérea Síria.
Ela a descreve como “uma das muitas prisões secretas em Damasco”, destinada à “vigilância, prisão e assassinato de críticos do regime”. Durante a reportagem, Ward diz buscar pistas de Austin Tice, jornalista americano supostamente detido pelo governo Assad. Contudo, admite: “Não encontramos nenhum indício de Tice.” (The Grayzone, 16/12).
Ainda sustentando a farsa, Ward declarou que o prisioneiro havia sido privado de comida e água por pelo menos quatro dias e deixado para morrer. No entanto, um estudo publicado em 2022 na prestigiada revista Science afirma que “os humanos podem sobreviver por apenas três dias sem consumir água”. Segundo a organização de verificação de fatos Verify, o suposto prisioneiro se chama Salama Mohammad Salama, identificado como “primeiro-tenente da Inteligência da Força Aérea Síria”, conhecido por suas atividades abusivas em Homs, uma das principais cidades do país (The Grayzone, 16/12).
Usuários de mídia social e a própria Verify também apontaram inconsistências na história contada pela CNN. Eles destacaram que uma pessoa sem água e comida por tanto tempo apresentaria sinais evidentes de desidratação severa, como pele acinzentada e apertada, olhos fundos, lábios rachados e incapacidade de falar de forma coerente.
Contudo, o homem mostrado na reportagem parecia bem alimentado, barbeado e com unhas cuidadas. Além disso, moradores de Al-Bayyada, bairro onde Salama era frequentemente visto em um posto de controle famoso por abusos, o identificaram imediatamente.
Segundo a Verify, Salama foi preso por roubo e extorsão, e sua detenção — que durou menos de um mês, e não três como alegado pela CNN — estava relacionada a disputas sobre a divisão de lucros de fundos extorquidos (The Grayzone, 16/12).
Outro ponto que enfraquece a propaganda da CNN é que a prisão da inteligência da Força Aérea de Mezzeh foi ocupada por militantes antigoverno em 6 de dezembro, cinco dias antes da publicação do relatório da emissora. Assim, a conduta de Ward demonstra que o homem resgatado não era um prisioneiro político, mas um funcionário corrupto do regime sírio.
A encenação culmina com o homem, identificado por Ward como prisioneiro político, sendo conduzido a uma ambulância por homens usando jaquetas do Crescente Vermelho. “É o fim de um capítulo muito sombrio para ele e para toda a Síria”, conclui Ward. No entanto, como agora se sabe, a história não passa de uma farsa. O suposto prisioneiro político libertado pela CNN era, na realidade, apenas um funcionário corrupto do governo sírio, não uma vítima inocente. (The Grayzone, 16/12).