No debate entre candidatos a prefeito da cidade de São Paulo promovido pelo Grupo Flow na última segunda-feira (23), a baixaria voltou a ser o grande destaque.
Depois de episódios grotescos como a cadeirada de José Luís Datena (PSDB) em Pablo Marçal (PRTB), as emissoras passaram a impor regras ainda mais rigorosas para os participantes, chegando ao absurdo de determinar o que pode ou não ser dito pelos candidatos. Sob mediação do jornalista Carlos Tramontina, o debate teve um formato que impedia o embate direto entre os postulantes. Não estava previsto, por exemplo, que a candidata Tabata Amaral (PSB) fizesse uma pergunta direta ao atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB).
Durante quase todo o debate, as regras foram suficientes para manter o debate insosso e burocrático, como desejado pelos organizadores. No entanto, em sua fala final, Pablo Marçal “prometeu” que, caso fosse eleito, Ricardo Nunes seria preso pela Polícia Federal. Isso levou a uma interrupção feita pelo apresentador, que acusou o candidato do PRTB de não cumprir as regras do debate no que diz respeito às ofensas contra os adversários.
Tramontina avisou a Marçal que, caso continuasse “prometendo” a prisão de Nunes, ele seria advertido mais duas vezes – e, então, seria expulso do debate. Marçal pagou para ver e acabou sendo expulso antes de concluir sua fala. No meio da confusão, um assessor do candidato do PRTB deu um soco em um assessor de Ricardo Nunes.
A baixaria não deveria ser novidade para alguém. Apenas expressa a falência da política burguesa. O que chamou a atenção, no entanto, foi a hipocrisia da esquerda pequeno-burguesa diante do caso.
Quando Marçal, que é apontado como uma figura supostamente “pior” que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), sofreu a cadeirada de Datena, os apoiadores de Guilherme Boulos (PSOL) aplaudiram o gesto do candidato tucano. Chegaram ao cúmulo de dizer que a culpa era do próprio Marçal, pois ele teria provocado Datena. Os adeptos da campanha “o amor venceu”, assim, passaram a defender que a violência física era parte do debate político.
O mínimo a se esperar das mesmas pessoas era que, agora que Marçal, por meio de seu assessor, agrediu, em vez de ser agredido, a esquerda pequeno-burguesa dissesse que isso “faz parte do jogo”. Ou até mesmo apoiasse. Afinal, o direitista não foi simplesmente provocado – o que poderia ser tranquilamente respondido por uma fala. Marçal foi impedido de falar no debate.
Mas eis que, agora que Marçal é o agressor, a esquerda pequeno-burguesa decidiu voltar a ser “paz e amor” e está condenando a agressão. É um fracasso total da política dos candidatos atrelados ao regime político – Datena, Tabata, Nunes e Guilherme Boulos (PSOL). Depois da cadeirada, perderam qualquer autoridade para condenar o soco – tanto que acabaram nem dando tanta repercussão ao caso, pois o que fizeram quando Marçal foi agredido o colocaram em contradição.
Os candidatos da política burguesa se contradizem porque, finalmente, são uma farsa. Nunes não é nem Bolsonaro, nem um candidato “puro sangue” do PSDB. Datena, que é filiado ao PSDB, também não é um típico tucano – quase foi expulso do partido por causa da cadeirada. Tabata Amaral, que é de um partido que se diz de “centro-esquerda”, é uma ferrenha defensora da política neoliberal, tendo sido patrocinada por empresários como Jorge Paulo Lemann. Guilherme Boulos, por sua vez, é o candidato que finge – muito mal – ser o presidente Lula, mas, bastou figurar entre os primeiros colocados da pesquisa eleitoral que se revelou um direitista total.
A postura frente à “cadeirada” e ao “soco” são uma farsa porque os candidatos em si são uma farsa. E é por isso que exigir coerência deles seja demais. Para Nunes, Tabata, Datena e Boulos, a política é assim: aos meus amigos, tudo; aos meus inimigos, a Lei.