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América Latina

Aonde vai o México?

Segunda maior economia da região será governada pela segunda vez pelo jovem partido Morena

No dia 3 de junho, o Instituto Nacional Eleitoral (INE) do México anunciou o vencedor das eleições presidenciais: a física Claudia Sheinbaum, do partido Movimento Regeneração Nacional (Morena). A vitória foi acachapante: segundo o instituto, a candidata apoiada pelo atual presidente, Andrés Manuel López Obrador (AMLO), obteve entre 58,3% e 60,7% dos votos, mais que o dobro da segunda colocada, a empresária Bertha Xóchitl Gálvez, do Partido Ação Nacional (PAN).

O resultado foi celebrado por pessoas e organizações de esquerda em várias partes do mundo, inclusive no Brasil. Após um artigo publicado no jornal imperialista El País, que declarava que a vitória de Sheinbaum iria frear o avanço da “ultradireita” na América Latina, setores ligados ao governo Lula, como o portal Brasil 247, passaram a elogiar a nova presidente do país. Já a emissora britânica BBC, em uma tentativa semelhante de apresentar a vitória de Sheinbaum como um triunfo da esquerda latino-americana, publicou um vídeo comparando-a com a ex-presidente brasileira Dilma Rousseff.

Será Sheinbaum, de fato, de esquerda? Sua eleição representa um deslocamento à direita ou à esquerda do governo de AMLO? Qual a opinião da burguesia imperialista sobre o novo governo mexicano? Qual o significado da vitória de Sheinbaum para a América Latina? Essas e outras perguntas serão respondidas no presente artigo.

O Partido Revolucionário Institucional

Para compreender o papel que Claudia Sheinbaum cumprirá no regime político mexicano, é preciso, antes de qualquer coisa, conhecer um pouco da história do partido mais importante da história do país: o Partido Revolucionário Institucional (PRI). Fundado em 1929, sob o nome de Partido Nacional Revolucionário (PNR), em meio à crise aberta pela Revolução Mexicana de 1910, é hoje o mais antigo partido do país.

Nos primeiros anos, o PRI cumpriu um papel semelhante ao que cumpriu os partidos brasileiros dirigidos por Getúlio Vargas. Era, no final das contas, o partido da luta dos setores mais progressistas da incipiente burguesia mexicana, representada nos militares progressistas, contra o atraso das oligarquias agrárias. O nome mais importante desse período foi, sem dúvidas, o de Lázaro Cárdenas, presidente que concedeu asilo político ao revolucionário Leon Trótski e que nacionalizou o petróleo mexicano.

A grande diferença do Brasil para o México em como o regime político se desenvolveu está no fato de que, enquanto no primeiro as mudanças foram processadas por diferentes partidos políticos, no último, o mesmo partido se adaptou a cada etapa de luta política. Assim, enquanto o Brasil após Getúlio Vargas foi governado pelo PSP, pelo PSD, pelo PTN e, novamente, pelo PTB, até que a ditadura militar liquidou todos esses partidos, o México permaneceu sob o governo do PRI. As mesmas tendências conservadoras da ditadura militar brasileira apareceram no México, mas dentro do mesmo partido que outrora levava adiante uma série de reformas nacionais importantes. Apelidado de “a ditadura perfeita” pelo escritor peruano Mario Vargas Llosa, o PRI ficou tão conhecido por ser o único partido a governar um país que, durante a ditadura militar brasileira, na qual apenas um partido de fato governava, se falava em “mexicanização” do Brasil.

Quando a ditadura militar brasileira ruiu, a “ditadura perfeita” ainda estava de pé. O PRI também teve o seu período neoliberal, do qual Miguel de la Madrid foi o seu maior expoente. O partido tinha tanta força que, na década de 1990, quando movimento nacionalistas sacudiram a América Latina inteira, resultando em mobilizações de características insurrecionais na Bolívia, na Argentina e na Venezuela, o PRI conseguiu se manter no governo, sem, no entanto, aderir à onda nacionalista do período. O PRI só saiu do poder no ano 2000, quando chegou ao fim o seu reinado de 71 anos.

As histórias do PRI e do regime mexicano no século XX se confundem. Falar de um é o mesmo que falar do outro.

Quando o PRI saiu do poder, no entanto, entrou um partido com as mesmas características. O PAN, que também é um partido antigo, datado de 1939, é um partido da burguesia mexicana que chegou ao poder não por alguma grande contradição entre as classes sociais, mas pelo desgaste histórico do PRI, que acabou por levar à sua incapacidade de manter o controle do regime político. A burguesia simplesmente escolheu outro partido para chamar de seu, em um processo comum, inclusive no Brasil, onde a burguesia, após a crise da ditadura, migrou da Aliança Renovadora Nacional (ARENA) para o Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Depois, migrou, em parte, para o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e, hoje, se encontra pulverizada num conjunto de partidos chamado vulgarmente de “centrão”.

O PAN, no entanto, não teve o mesmo êxito do PRI. Afinal, era um partido também já desgastado e que chegou ao poder após décadas de uma “ditadura perfeita”, que não permitiu nem mesmo um governo de aspecto mais democrático que acalmasse as tensões no país. O segundo governo do PAN, iniciado em 2006, foi tão repressivo e violento que acabou por levar a inúmeros conflitos com o narcotráfico, causando mais de cem mil mortes em um período de seis anos.

Embora o México oficialmente nunca tenha sido vítima de uma ditadura militar como o Brasil e a Argentina, os governos do PRI e do PAN eram tão repressivos que acabaram surgindo movimentos guerrilheiros, o que é típico de países em que a esquerda não consegue ter uma participação legal no regime. O mais famoso deles é o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN).

A vitória de AMLO

A falência do PAN ficou clara em 2012, quando o próprio PRI acabou retornando ao poder. No entanto, ainda que a volta do PRI tenha sido uma solução temporária para o fracasso do PAN, era preciso um novo partido, pois o sistema político já havia entrado em colapso. O regime precisava de um novo partido para evitar o aprofundamento da crise. Eis que surge uma figura oriunda do PRI que já havia tentado por três vezes ser presidente do México: Andrés Manuel López Obrador (AMLO).

AMLO é, em todos os sentidos da palavra, um político burguês, uma figura do regime. Qualquer comparação com figuras como Evo Morales, Hugo Chávez ou Lula é um erro. AMLO veio do próprio regime e foi trazido ao poder para salvá-lo.

Uma série de fatos comprovam isso. O primeiro deles é o de que AMLO chegou ao governo mexicano por um mero movimento eleitoral. Não foi como nos demais países latino-americanos, que só conseguiram estabelecer governos nacionalistas após muita luta. O movimento que permitiu ao nacionalismo burguês chegar ao governo em vários países até aconteceu no México, mas foi derrotado. Isso aconteceu em 1988, quando Cuahutemoc Cárdenas, filho de Lázaro Cárdenas, concorreu às eleições pelo Partido da Revolução Democrática (PRD), mas uma fraude escandalosa impediu que o PRI fosse derrotado.

“O México contemporâneo nasceu numa fraude eleitoral: o candidato do PRD, Cuahutemoc Cárdenas, vencia nas apurações em 1988, quando ‘caiu o sistema’, segundos as autoridades eleitorais. Quando a luz retornou, estava na frente o candidato do PRI, Salinas de Gortari, que pouco depois seria declarado vencedor e novo presidente do México” (Emir Sader: O México, entre fraude e fraude, CUT, 2012).

Apoiado pelas massas, Cárdenas expressava de fato a tendência nacionalista. Sua derrota, no entanto, fez com que os elementos mais direitistas se apoderassem do partido que Cárdenas fundara. Mesmo depois de derrotado, Cárdenas continuava sendo respeitado pela guerrilha, de tal modo que o EZLN, em 1995, após ter deflagrado um amplo movimento de luta armada, escreveu a seguinte carta ao líder nacionalista:

“14 de dezembro de 1995

Ao cidadão Cuauhtémoc Cárdenas Solórzano. Cidade do México, D.F.

Senhor Cárdenas Solórzano:

Por ordens do nosso comando supremo, o Comitê Clandestino Revolucionário Indígena-Comandância Geral do Exército Zapatista de Libertação Nacional, escrevo estas linhas.

É de conhecimento geral a sua trajetória honesta e seu compromisso na luta pacífica pela democracia, liberdade e justiça no México. Não poucas vezes ser consequente nesta luta lhe rendeu acusações de intransigente e radical. A história vai colocando, tarde ou cedo, cada um no seu devido lugar. Hoje sua figura se engrandece e lembra a todos os seus reclamos contra aquele que defraudou a nação mexicana. À sua voz, que não poucas vezes esteve solitária, se soma agora a de milhões de mexicanos demandando verdade e justiça. Impedidos de falar, nós tivemos que nos levantar em armas e seguir o caminho mortal da guerra para demandar o mesmo que você e os seus demandam: democracia, liberdade, justiça. Agora nos encontramos encurralados pela soberba e armamentismo do poder. Por isso pensamos em pedir-lhe que nos faça o favor de levar, à tribuna pública da nação, nossa voz que demanda justiça e verdade. Anexa a esta, você encontrará a demanda do EZLN contra Salinas de Gortari e seus cúmplices. Pedimos que a faça saber ao povo do México e a quem você considerar pertinente.

Vale, saúde e que a afronta se lave como é lei, ou seja, com verdade e justiça.

Democracia!

Liberdade!

Justiça!

Das montanhas do sudeste mexicano, pelo CCRI-CG do EZLN.”

Nenhum processo semelhante ocorreu com a vitória de AMLO. E há algo que chama ainda mais a atenção: quando chegou ao governo, o líder do Morena também venceu as eleições com folga, com quase o dobro do segundo colocado, e com a maioria absoluta no parlamento. Nenhum governo verdadeiramente nacionalista venceria eleições com tanta tranquilidade, sem que houvesse uma mobilização radical, nem que fosse alvo de uma campanha de calúnias incessante da imprensa imperialista.

Um dos primeiros gestos de AMLO, assim que se tornou presidente, em 2018, também serviu para mostrar que não estávamos diante de um rompimento com o regime, mas sim de uma tentativa do próprio regime de sobreviver à crise causada pelos governos anteriores. AMLO deu uma ênfase especial ao “combate à corrupção”, demonstrando que a burguesia estava “colocando a casa em ordem”, eliminando os seus elementos mais problemáticos. Fosse AMLO um inimigo do regime, ele estaria ele próprio sendo vítima de perseguição por parte do Judiciário.

Nos primeiros meses do governo de AMLO, o EZLN lhe teceu duras críticas. “Não acreditamos nele”, disse Moisés, subcomandante da milícia popular, acrescentando que o presidente seria um “traidor” e uma figura “astuta” que se diz aliado dos camponeses e índios do México, quando, na verdade, procura “destruí-los”. Diante da ameaça do governo de reprimir os movimentos guerrilheiros com a Guarda Nacional, o zapatista disparou:

“Vamos enfrentar, não vamos permitir que o projeto de destruição deles aconteça aqui, não temos medo da guarda nacional deles, que mudou de nome para não se chamar de ‘exército’.”

A desconfiança dos zapatistas com AMLO, por sua vez, não começou em 2018, mas teve início quando o presidente mexicano assumiu a presidência do PRD, justamente no período em que Cárdenas estava perdendo o controle da organização.

“Essa ruptura entre AMLO (a sigla pela qual o presidente do México é amplamente conhecido) e o EZLN não é nova. Ela pode ser rastreada até os anos 1990, quando López Obrador era o presidente nacional do Partido da Revolução Democrática (PRD). Embora nenhum dos lados quisesse reconhecer uma aliança formal, o movimento e o partido desfrutavam da simpatia mútua. No entanto, após o PRD ter conquistado um número significativo de municípios em Chiapas e assentos nas legislaturas locais e nacionais, o partido se mostrou incapaz — ou não disposto, aos olhos dos zapatistas — de realizar as demandas sociais e políticas do movimento. Em 2001, quando marcharam até a capital em apoio ao Projeto de Lei dos Direitos Indígenas, os 24 comandantes zapatistas não receberam a recepção calorosa que esperavam de AMLO, então prefeito da Cidade do México.

Outra ruptura ocorreu após as eleições presidenciais de 2006, quando López Obrador culpou a Outra Campanha do EZLN por sua derrota, pois alguns analistas simpáticos à candidatura presidencial de AMLO atribuíram parte da baixa participação eleitoral ao chamado zapatista para rejeitar a participação política.

No entanto, a desconfiança dos zapatistas em relação à política partidária e eleitoral e o desencanto do movimento com a esquerda partidária estão presentes no discurso do EZLN desde o início do movimento, como muitos autores indicaram (veja, entre outros, Legorreta Díaz, 1998; Estrada Saavedra, 2007; Sonnleitner, 2001; Trejo, 2012). Cansadas de serem excluídas, ignoradas ou cooptadas por líderes partidários e camponeses corporativistas, as bases de apoio zapatistas tornaram-se desconfiadas dos partidos políticos e dos processos eleitorais” (MEXICO: The Zapatistas vs. AMLO, María Inclán, University of California, The Center for Latin American and Caribbean Studies).

Contradições com o imperialismo

Já foi demonstrado que AMLO não é uma liderança popular e que, inclusive, é repudiado pela guerrilha mexicana. Também foi demonstrado que AMLO é uma pessoa do próprio regime político mexicano. Se é assim, o que justificaria o presidente ter se recusado a sancionar a Rússia? O que justifica ter feito declarações favoráveis a Cuba e Venezuela?

As contradições de Obrador, além de aparecerem em questões menores, que são até toleráveis para o imperialismo, são produto do fato de que Obrador é um representante da burguesia nacional mexicana, e não do imperialismo em si. Ele responde aos interesses das oligarquias mexicanas, que, ainda que muito submissas ao imperialismo, têm os seus próprios interesses. Sendo o México um país muito mais atrasado que o Brasil, sua burguesia é composta, fundamentalmente, por setores como o latifúndio e o narcotráfico, que, nos anos do PRI, fizeram uma aliança que permitisse estabelecer determinados limites à intervenção do imperialismo no regime político. Trata-se de uma aliança, em grande medida, divorciada da indústria mexicana, que, na verdade, é uma indústria norte-americana com base no México, de modo que sua participação no regime político é pequena.

As contradições do regime mexicano, portanto, têm um caráter diferente das contradições do nacionalismo chavista, que tem como base um impulso para o desenvolvimento industrial do país. E é por iso que as contradições de AMLO não expressam a mesma tendência de enfrentamento que as contradições que um governo como o de Nicolás Maduro.

Quem é Claudia Sheinbaum?

Ainda que o objetivo da imprensa imperialista em comparar Claudia Sheinbaum com Dilma Rousseff seja o de confundir a esquerda brasileira, apresentando-a como uma figura progressista, há algumas comparações que de fato podem ser feitas. A primeira é a de que, assim como Dilma Rousseff em relação a Lula, Sheinbaum é uma figura muito ligada a AMLO. Ela participou ativamente de suas campanhas e se tornou governadora da Cidade do México graças ao apoio do presidente. Sheinbaum seria, portanto, uma pessoa de confiança do AMLO. Mais do que isso, uma espécie de manobra política para que AMLO continuasse no comando da presidência da República.

O segundo aspecto em comum é a formação “técnica” de ambas. Sheinbaum é filha de cientistas e é, ela própria, uma cientista de carreira. Dilma Rousseff, por sua vez, atuou no Ministério de Minas e Energia do governo Lula fundamentalmente como uma pessoa técnica, sendo, inclusive, criticada pela imprensa capitalista por sua suposta falta de traquejo político.

Por fim, ambas têm uma trajetória política associada à esquerda. Dilma Rousseff participou da luta contra a ditadura militar, enquanto Sheinbaum se diz “filha de 68”, em alusão ao massacre de 1968, que marcou um período de crise da “ditadura perfeita”.

As semelhanças, no entanto, param por aí.

Ainda que o papel de AMLO tenha sido fundamental na trajetória política de Sheinbaum, não se pode dizer que ela seja exatamente uma figura completamente dependente do atual presidente mexicano. Ao contrário de Dilma Rousseff, que seria derrubada em um golpe de Estado de conteúdo muito direitista, a vitória de Sheinbaum vem sendo apresentada por emissoras como a BBC como uma importante vitória contra o “patriarcado. Assim disse um dos comentaristas da BBC:

“Ela rompeu o teto de vidro metafórico desta nação, uma nação tão controlada por homens no reino político, onde apenas os homens ocuparam os cargos mais altos do país. Ela é a pessoa que quebrará essa dominação masculina. Ela se torna a primeira presidente mulher do México […] É extremamente importante e simbólico que isso tenha acontecido aqui no México, um país que tem valores machistas, tradicionalmente enraizados.”

Tanta bajulação não é à toa. Esse é apenas um indício de que Sheinbaum, ao mesmo tempo que é muito influenciada por AMLO, também tem relações com setores do imperialismo.

Outro indício importante aconteceu durante a pandemia de coronavírus. Naquele momento, AMLO foi bastante criticado por sua política, sendo comparado a figuras de extrema direita, como Donald Trump, pela defesa do uso da cloroquina. Sheinbaum, no entanto, enquanto governadora da Cidade do México, seguiu outra política, mais próxima à do imperialismo, inclusive aparecendo nas fotos ao lado de AMLO de máscara, em um claro contraste visual com o presidente. Também chama a atenção que, em seu programa eleitoral, Sheinbaum decidiu dar muito mais ênfase à “transição energética” que AMLO costuma dar. Mas o que certamente chama mais a atenção é o fato de que Sheinbaum já trabalhou no Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU), o que já lhe rendeu um Prêmio Nobel.

Aqui já há, portanto, uma grande diferença. Ainda que seja uma pessoa “técnica”, Dilma Rousseff não tem, em sua trajetória, uma sucessão de cargos em que sofria uma influência direta do imperialismo.

A trajetória esquerdista de Sheinbaum também é algo que merece um análise mais cuidadosa. Enquanto Dilma Rousseff participou efetivamente da luta armada contra a ditadura militar, a participação de Sheinbaum nas lutas da esquerda se limitam basicamente ao movimento estudantil. Circulam imagens de Sheinbaum em protestos contra o neoliberal Carlos Salinas de Gortari, que derrotou Cárdenas na fatídica eleição de 1988. Em uma das fotos, Sheinbaum aparece ao lado de uma pessoa com um cartaz em que se lê “quantas pessoas mortas votaram nas eleições de 1988”, denunciando a fraude eleitoral daquele ano. Não há muito mais que isso.

Em contrapartida, no período em que foi governadora, Sheinbaum entrou em atrito com setores da sociedade mexicana. No artigo A “filha de 68” que quer governar o México, publicado no Resúmen Latinoamericano, Cecilia González conta que:

“Em 3 de maio de 2021, 27 pessoas morreram quando o viaduto de uma estação de metrô da capital desabou, um dos maiores do mundo. A tragédia desencadeou a pior crise que Sheinbaum enfrentou como governadora da Cidade do México. Sua força política foi posta em dúvida, mas, contra todas as previsões, ela saiu vitoriosa.

Apesar das denúncias de corrupção na construção da Linha 12, dos depoimentos dos usuários que listaram as deficiências cotidianas na operação do metrô e da intensa campanha midiática contra ela, Sheinbaum não perdeu apoio de forma significativa.

Parecia que nada a abalaria. Nem mesmo sua contraditória confrontação com o movimento das mulheres ao qual ela, a primeira governadora eleita da Cidade do México, uma das políticas que quebrou inúmeros tetos de vidro, não aderiu. Ficam para a história do feminismo mexicano as repressões policiais aos protestos de rua das mulheres na era Sheinbaum. Até hoje, não há reconciliação possível com grande parte dos coletivos. Sheinbaum não é sua aliada. A relação com os coletivos de familiares de desaparecidos também foi marcada pela tensão, desconfiança e, em alguns casos, decepção com uma governadora que não abraçava a busca pelas vítimas”.

O caso mostra que, ao mesmo tempo em que Sheinbaum não é uma figura próxima aos movimentos populares de fato, a burguesia não teve interesse em explorar uma crise em potencial durante seu governo.

Uma análise mais criteriosa de Sheinbaum mostra que, por um lado, ela representa, de fato, um projeto de AMLO para continuar influente sobre o regime mexicano. Nesse sentido, ela seria uma continuidade do domínio das oligarquias, podendo pender mais para a direita ou para a esquerda a depender das contradições. No entanto, a sua proximidade com o imperialismo, bem como sua menor popularidade em relação a AMLO, permite que o grande capital a pressione com muito mais intensidade para que cumpra uma política de acordo com os seus interesses.

Essa tem sido, de maneira geral, a posição do imperialismo em relação às eleições mexicanas. Ainda que os jornais critiquem AMLO, sobretudo no aspecto “democrático” – isto é, em suas tentativas de tornar o regime ainda mais controlado pelos seus partidários, restringindo a ação do imperialismo -, eles apresentam uma esperança de que Sheinbaum faça diferente de seu antecessor e seja mais “democrática” – isto é, que permita uma maior influência do imperialismo sobre o regime.

Seja como for, a vitória de Sheinbaum não é propriamente uma vitória da esquerda. É, acima de tudo, uma vitória do regime político mexicano, que, uma vez mais, conseguiu acomodar os interesses das oligarquias de uma maneira relativamente estável. Caberá ao futuro definir se a crise social no México ou a necessidade do imperialismo de uma política mais agressiva contra os trabalhadores acabará com essa estabilidade.

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