Em artigo de título De AdolfHitler@Reich para Lula@gov, publicado pelo jornal golpista Folha de S. Paulo, o articulista Elio Gaspari expõe uma correspondência fictícia entre Adolf Hitler e o presidente Lula. Embora seja uma peça de ficção, o texto tem o nítido objetivo de constranger o petista, uma vez que Hitler se propõe a explicar ao brasileiro que suas falas contra “Israel” seriam de fato “antissemitas”.
O texto já começa maliciosamente afirmando que houve uma briga entre Lula e “os judeus”: “escrevo-lhe porque vi que, depois de se meter numa briga com os judeus, o senhor se explicou dizendo que nunca falou no Holocausto”.
Trata-se de uma calúnia. Lula em momento algum “brigou” com os “judeus”. O que o presidente fez, na Etiópia, foi criticar o Estado nazista de “Israel”, seguindo o que fazem todos os dias milhões de pessoas em todo o planeta. Ao criticar o genocídio em Gaza, tudo o que Lula fez foi comparar com o que a Alemanha Nazista fizera aos judeus.
Se houve “briga” após a fala de Lula, ela aconteceu não entre presidente e os judeus, mas entre a esmagadora maioria da população mundial, que se colocou de acordo com a fala do presidente, e os defensores do genocídio em Gaza. Lula foi criticado, por exemplo, por Rodrigo Pacheco, presidente do Senado Federal, que não é judeu, pelo presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB), que também não é judeu, e por vários abutres da imprensa burguesa que também não são judeus.
Após essa calúnia, a carta, então, passa a fazer uma exposição cujo objetivo seria demonstrar que Hitler não teria sido a única pessoa do mundo a perseguir judeus. A ideia por trás da exposição é não outra que assediar o presidente. Segundo o Hitler de Gaspari, só houve o Holocausto porque, no passado, já havia o “antissemitismo”. Por isso, qualquer fala hoje que seja considerada “antissemita” deveria ser considerada como um passo no sentido de um holocausto futuro.
É um raciocínio de um verdadeiro idiota, que provavelmente nem Hitler seria capaz de elaborar. Não foram “discursos antissemitas” que causaram o Holocausto, mas sim circunstâncias bastante concretas: o fato de que regimes em crise perseguiam os judeus como bode expiatório de suas crises e o fato de que o governo de Adolf Hitler não tinha como objetivo meramente exterminar os judeus, mas sim esmagar o movimento operário.
Ainda que os tais discursos antissemitas tivessem algo a ver com o Holocausto, que fazer? O Hitler de Elio Gaspari quer que, em nome de algo tão abstrato, Lula e qualquer outra pessoa seja impedido de denunciar os crimes que “Israel” comete hoje? Se for assim, Elio Gaspari considera que os palestinos são uma sub-raça, pois eles podem morrer como moscas, enquanto “os judeus” não poderiam sequer serem criticados.
Por fim, merece destacar que o Hitler de Elio Gaspari, ao que parece, sofre mal de Alzheimer. Diz ele:
“Eu, Adolf Hitler, nunca estive sozinho. Acho que os judeus devem ser expulsos da Palestina e, novamente, não estou sozinho. A guerra de Gaza prova isso.”
Não, Hitler nunca defendeu que os judeus fossem expulsos da Palestina – vale lembrar, inclusive, que “Israel” só seria fundado após sua morte. O que aconteceu, na verdade, é que os sionistas, por várias vezes, firmaram acordos com Hitler para o envio de judeus à Palestina.
E também é uma mentira sórdida dizer que a “guerra de Gaza” prova que querem expulsar os judeus da Palestina. Trata-se do exato oposto. A guerra é uma tentativa de “Israel” de expulsar os palestinos de suas terras – tentativa essa que ocorre há quase um século.
Nenhuma organização palestina quer expulsar os judeus. Pelo contrário: todos são claros em dizer que querem pôr fim à ocupação para que os povos que habitam a Palestina possam conviver.