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Estado de 'Israel'

André Lajst, Karl Popper e o fascismo

Ex-soldado israelense defende o famigerado "paradoxo da tolerância"

Ao evocar o vigarista Karl Popper para defender o assassinato de crianças, mulheres e idosos, o ex-soldado israelense André Lajst prestou um grande serviço à esquerda. O lobista israelense demonstrou que, ao contrário do que setores que se diziam “progressistas” faziam entender, o “paradoxo da intolerância” nunca foi um escudo contra o fascismo, mas é, ele próprio, uma formulação fascista.

No texto O silêncio dos tolerantes, publicado pelo jornal O Globo, o sábio André Lajst nos explica que:

“A tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância. Se estendermos a tolerância ilimitada mesmo aos intolerantes, e se não estivermos preparados para defender a sociedade tolerante do assalto da intolerância, então os tolerantes serão destruídos e a tolerância com eles.’ Assim escreveu o filósofo britânico Karl Popper em seu livro ‘The open society and its enemies’, de 1945.”

Um desavisado poderia pensar: de fato, se uma sociedade “tolera” figuras execráveis como Benjamin Netaniahu, a própria sociedade está sob risco. Portanto, seria necessário combatê-lo. O problema é que o elogio a Karl Popper não vem de um inimigo da extrema direita, mas justamente de alguém que tem Bibi como seu ídolo. Lajst, portanto, deixa claro que o discurso contra os “intolerantes” nunca foi voltado a combater a extrema direita, mas justamente para combater aqueles que se colocam contra a extrema direita.

Assim afirma Lajst:

“Oito meses depois do atentado macabro do Hamas em Israel no dia 7 de outubro, o mundo tolerante já deveria ter entendido algumas premissas básicas e factuais sobre o que aconteceu nesse fatídico dia e sobre a guerra que se iniciou e se alastra até os dias atuais. Israel não luta uma guerra contra a população palestina ou contra o nacionalismo palestino. Apesar de muitos ‘especialistas’ em Oriente Médio tentarem enfiar goela abaixo uma narrativa superficial e binária, os israelenses lutam contra um grupo terrorista que transformou o enclave palestino numa base militar de proporções épicas, lotada de túneis, armas, mísseis e uma legião de seguidores, com um único objetivo: lutar até a morte contra Israel, custe o que custar.”

Os “intolerantes” – pasmem – são, portanto, organizações como o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas, na sigla em árabe), que não toleram o regime brutal de apartheid estabelecido por “Israel” contra o seu povo. Por óbvio, não se trata de um combate à “intolerância”, mas uma defesa do que há de mais podre na política mundial: a dominação imperialista. Lajst não se comove, nem por um segundo, com a “intolerância” de um regime que encarecera mais de 12 mil palestinos, de um regime que mata quase 300 pessoas em uma única operação cujo objetivo seria recuperar três prisioneiros de guerra. Pelo contrário: o ex-soldado israelense faz coro ao governo de extrema direita que promete exterminar um grupo político.

Se a palavra “intolerante” puder ser utilizada para definir algo na política, ela deveria servir para qualificar André Lajst e seus amigos sionistas. O Estado de “Israel” é o que há de mais próximo, na face da Terra, ao regime da Alemanha Nazista. É responsável pelo assassinato em massa de civis, pela decapitação de crianças, pelo estupro deliberado de mulheres, pela espionagem de seus próprios cidadãos. O país, que sequer tem constituição, é tão “democrático” que estabelece, em suas leis, uma discriminação racial explícita. Os “tolerantes” que Lajst defende são aqueles que tratam os palestinos como cidadãos de quinta categoria, com menos direitos do que os supostamente “puros” que fundaram o enclave imperialista.

O tal “paradoxo da intolerância” não é mero jogo retórico. Não serve apenas para falsamente atribuir aos oprimidos, que lutam contra as barbáries praticadas pelo imperialismo e por seus aliados, o rótulo de “intolerantes”. Ele serve, sobretudo, para justificar uma perseguição contra esses grupos.

Quando Popper e Lajst falam sobre “defender a sociedade”, eles não estão falando de milícias populares, como as que o Hamas organiza, para defender os interesses da população. Eles estão falando da única coisa que entendem: de usar a máquina repressiva do Estado para levar adiante essa “defesa”. Isto é, os “tolerantes” defendem abertamente que o Estado sirva não ao conjunto de interesses da sociedade, mas a uma classe social para a perseguição a outra. E não é à toa: o Estado capitalista é, fundamentalmente, um instrumento dos poderosos para reprimir e dominar os oprimidos. Os governos, as polícias, o Judiciário e os sistemas de inteligência respondem não aos interesses gerais da população, mas ao grande capital, àqueles responsáveis pelos golpes de Estado, pelas guerras genocidas e pela fome.

Popper e Lajst evocam o Estado para “defender” os seus interesses porque consideram que o Estado lhes pertence. Ou, melhor dizendo: que o Estado pertence aos seus patrões.

Os setores de esquerda que flertam com o tal paradoxo se mostram completamente inconscientes. Mostram que são incapazes de reconhecer quem são os seus inimigos. O Estado jamais será um aliado na luta contra a extrema direita. Pelo contrário: qualquer lei que vá no sentido de combater os “intolerantes” servirá justamente para blindar os fascistas em sua opressão contra os trabalhadores.

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