O ano de 2023 viu uma enorme alta nos preços dos aluguéis residenciais, os valores chegaram a aumentar em até 37% e afeta as camadas mais pobres, principalmente de grandes cidades brasileiras, como São Paulo, Rio de Janeiro, Campinas, Goiânia e Florianópolis.
Já o salário mínimo passou de R$1.320 para R$1.412, valor que entrou em vigor a partir do ano de 2024, configurando assim um aumento de 7%, ou seja, um aumento de R$92. Um reajuste ínfimo, que não chega, por exemplo, a acompanhar a alta nos preços dos aluguéis, que dirá ter uma renda suficiente para adquirir uma casa própria.
O aumento muito superior ao da inflação se deu primeiramente pelos repasses que deixaram de ser feitos no período da pandemia, quando não havia a possibilidade de fazê-los e muitos locatários devolveram os imóveis aos proprietários, levando ao congelamento dos valores ou na diminuição.
Agora, com a retomada das atividades presenciais, o repasse vem afetando aqueles que dependem do aluguel para ter alguma moradia. Uma vez que a opção da casa própria é inviável, resta ao trabalhador, quando possível, gastar a maior parte de seu salário para obter uma moradia minimamente digna.
Uma observação do diretor institucional do grupo Lopes, uma das grandes imobiliárias nacionais, Cyro Naufel, ajuda a entender o funcionamento do mercado imobiliário atual: “O imóvel compacto vai além da retomada do trabalho presencial. Em São Paulo, por exemplo, há mudanças comportamentais na sociedade. Houve um crescimento do público solteiro, uma redução de famílias e de habitantes por imóveis. A tendência, no geral, é uma diminuição do tamanho dos imóveis. Essa pessoa quer a praticidade de estar perto do metrô, compra comida via aplicativos, quer academia no prédio e uma área social para encontrar amigos e vizinhos. Esse era um produto que o mercado não tinha”.
Essas mudanças citadas por ele não são simplesmente algo espontâneo na sociedade, obviamente as pessoas um local prático para morar quando possível, mas a diminuição do espaço é algo imposto pelas construtoras para poder cobrar mais caro por menos espaço, utilizando o pretexto da localização e outras supostas facilidades. Sem opções, a população se vê obrigada a lidar com a situação.
A aquisição de imóveis é visto atualmente como uma oportunidade de investimento, ou seja, somente os capitalistas podem adquiri-los, uma tendência desse mercado são os chamados imóveis multifamiliares, onde uma empresa compra um prédio e aluga aos seus moradores, algo que foi implantado nos Estados Unidos e vem ganhando espaço no Brasil. Dessa maneira o cidadão comum tende a perder cada vez mais o direito a casa própria.
Para os grandes entusiastas do atual governo, o aumento do salário e a diminuição de itens básicos de alimentação são motivos de grandes comemorações, porém o que isso significa na prática se o sujeito mal consegue um teto para morar.
Basta observar em uma cidade como São Paulo, que o problema da moradia adquire tons cada vez mais dramáticos, o número de moradores e de famílias inteiras que simplesmente tiveram que abandonar o pouco que tinha para morar nas ruas, aumenta a cada dia.
O Artigo 7 em seu inciso IV da constituição federal de 1988 é bem claro a respeito da questão salarial:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:
IV – salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;
Podemos observar assim que em todos os itens em que o salário deveria abranger, os trabalhadores foram roubados e os esforços para equiparar essas perdas simplesmente são mínimos ou inexistentes.
É preciso uma intensa campanha em favor dos trabalhadores para que o salário pelo menos esteja de acordo com o que diz na própria constituição.