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Ricardo Machado

É dirigente do Sindicato dos Bancários de Brasília e ex-dirigente da CUT-DF. Integra a Coordenação dos Comitês de Luta do DF e faz parte da Direção Nacional do Partido da Causa Operária (PCO)

Coluna

Acordo bianual nos bancários é um tiro no pé da categoria

Os acordos bienais são um atentado contra as condições de vida dos trabalhadores e contra seu direito individual e coletivo de reivindicar melhorias

Mais uma vez, a burocracia sindical irá levar para a mesa de negociação com os banqueiros, na campanha salarial dos bancários, o famigerado acordo bianual, ou seja, que a minuta aprovada tenha validade de dois anos, de 1º de setembro de 2024 a 31 de agosto de 2026.

O propósito das empresas, nas campanhas salariais dos trabalhadores, ao assinar acordos bienais, é a tentativa de imposição que não leva em consideração as necessidades dos trabalhadores. Negociar anualmente já foi uma derrota imposta pelos patrões aos trabalhadores, que devem lutar para negociar sempre que houver necessidade. A ampliação desse período para dois anos é a tentativa de impor uma derrota sem precedentes aos trabalhadores, que devem ter a clareza de que uma vez mudada a regra, torna-se muito difícil reverter esta realidade.

Os acordos bienais, além de representarem um atentado contra as condições de vida dos trabalhadores e contra seu direito individual e coletivo de reivindicar melhorias, também atentam contra a própria razão de existência dos sindicatos, a quem – inclusive na perspectiva estreita do ponto de vista legal – “cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria” (Art. 7º da Constituição Federal) e devem ter como principal função lutar pelas reivindicações dos trabalhadores, quando for necessário: todo dia, toda semana, todo mês, todo ano, etc.

É claro, que essa mesma burocracia irá se justificar, em relação ao acordo por dois anos, alegando que essa cláusula da minuta foi tema da discussão e aprovação no Congresso dos Trabalhadores do Ramo Financeiro realizado no começo do mês em São Paulo e, também, aprovado em “assembleias” nas bases dos diversos sindicatos nacionalmente.

Primeiramente é preciso esclarecer que os Congressos da categoria são instâncias extremamente burocratizadas, com uma participação ínfima da base da categoria. São apenas 600 delegados do País inteiro, numa categoria com mais de 450 mil trabalhadores em que, 99% dos presentes são dirigentes sindicais. 

Além disso, os Congressos dos Bancários não são mais no formato anterior, em que as diversas forças políticas, e até mesmo bancários da base da categoria, enviam teses para serem discutidas, mas passou a ser em que a corrente majoritária (Articulação, PT), que dirige a maioria dos sindicatos nacionalmente e também da Confederação (Contraf), juntamente com os seus satélites (PCdoB, PSOL, UP, etc.), envia uma tese guia que, supostamente, seria um resumo das diversas propostas aprovadas nas conferências regionais, para se sejam aprovados na plenária final da Conferência dos Trabalhadores do Ramo Financeiro, sem praticamente discussão nenhuma.

Uma outra questão diz respeito à aprovação nas assembleias de cada base sindical, que é uma verdadeira farsa. As assembleias não são mais presenciais: são feitas de forma virtual, onde se abre uma votação de aprovação, ou não e pronto: aprovado. Sabe-se lá por quem! Diferentemente das assembleias de aprovação, ou não, presenciais, feitas no calor das discussões, com a presença de milhares de trabalhadores, num amplo debate onde não só as direções do movimento tenham o direito à palavra, mas que toda a categoria possa se expressar e democraticamente, decidir verdadeiramente sobre os rumos da Campanha salarial.

Lembrando que, o contrário da realidade, as direções sindicais defenderam como “vitórias”, “conquistas” e “avanços” os minúsculos reajustes estabelecidos nas campanhas bianuais, nas quais os sindicalistas abandonaram a luta pela reposição integral das perdas (mais de 30%) e por aumento real dos salários (que historicamente a reivindicação sempre foi de 20%) e, mesmo com uma pauta de reivindicação já rebaixada (INPC + 5% de ganho real), mantiveram o arrocho salarial para toda a categoria, por exemplo: em 2022 quando aceitaram a proposta miserável dos banqueiros de 8% (a inflação somente nos gêneros alimentícios, que mais pesa no bolso do trabalhador, passou dos 14%), sendo que a inflação oficial foi de 8,83%, ou seja, a categoria já naquele ano saiu perdendo e, em 2023 o INPC mais 0,5% de “ganho real”, nesse famigerado acordo bianual. No frigir dos ovos, somando os 8% do ano de 2022 mais 0,5% deste ano não cobre a inflação do ano passado, consequentemente mais arrocho salarial. 

Uma das questões fundamentais para os trabalhadores é justamente combater essa política de capitulação das atuais direções das organizações dos trabalhadores, através de mobilização nas ruas, com a perspectiva de uma direção classista e de luta que represente de fato os interesses da categoria. Unir todos aqueles dispostos a agrupar um ativismo, contra os patrões e seus asseclas, que, de fato, organizem uma mobilização que represente os interesses e a vontade das bases das categorias.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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