Iêmen

Ação dos Hutis no Mar Vermelho aprofunda crise imperialista

Incapazes de impedir o bloqueio que os Ansaralá vem realizando no Mar Vermelho, o imperialismo recorre a uma medida que expõe sua debilidade

Nessa quarta-feira (17), os Estados Unidos voltaram a classificar os Ansaralá (o partido político que governa o Iêmen) como uma organização terrorista. O anúncio foi feio pelo Conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, em resposta aos recentes ataques dos Hutis (nome pelo qual os Ansaralá são popularmente conhecidos) contra navios no Mar Vermelho:

“Hoje, em resposta a estas ameaças e ataques contínuos, os Estados Unidos anunciaram a designação de Ansaralá, também conhecido como Hutis, como Terrorista Global Especialmente Designado.”

Contudo, demonstrando ser uma tentativa de dissuasão contra os Hutis e, ao mesmo tempo, de fraqueza dos EUA, Sullivan também anunciou que a medida só entrará em efeito “daqui a 30 dias”, podendo “ser reavaliada se os Hutis cessarem os ataques no Mar Vermelho e no Golfo de Adem”. 

Diz-se que voltaram a ser classificados como organização terrorista, pois essa classificação já havia sido feita em janeiro de 2021, mas foi revertida um mês depois. Uma das principais consequências práticas de se designar uma organização ou partido político como terrorista é justificar medidas repressivas, em especial sanções econômicas. 

Tendo em vista que os Hutis saíram vitoriosos na Guerra Civil (isto é, na guerra de agressão iniciada pelo imperialismo em 2014), sendo os governantes do país, a princípio, as sanções seriam aplicadas contra todo o povo do Iêmen.

Contudo, ao anunciar as sanções, o governo norte-americano também declarou que os embargos incluirão “exceções humanitárias” sem precedentes, segundo notícia da rede catarense Al Jazeera, de forma que elas não afetarão o povo do Iêmen:

“Estamos enviando uma mensagem clara: os carregamentos comerciais para os portos iemenitas, dos quais o povo iemenita depende para alimentos, medicamentos e combustível, devem continuar e não estão abrangidos pelas nossas sanções.”

Dado o histórico do imperialismo americano, o cenário mais provável é que se trate de demagogia do governo para alimentar sua máquina de propaganda, a fim de apresentar seu ataque criminoso ao povo do Iêmen, através das sanções genocidas, como algo palatável. Contudo, o próprio fato de os EUA ter de fazer essa ressalva, combinado com o fato de adiar a implementação da medida por 30 dias, é um sinal de fraqueza do imperialismo.

É um sinal de que a crise que o Iêmen gerou para o imperialismo, ao bloquear as embarcações no Mar Vermelho, é muito profunda, e de que os Estados Unidos não conseguem sair dela, afundando-se mais e mais a cada vez que tenta. O Iêmen, especificamente, tem sido um dos principais agentes de desestabilização da dominação imperialista no Oriente Médio desde o dia 7 de outubro e a deflagração da operação Dilúvio de Al-Aqsa.

Com os Ansaralá realizando ataques de drones e incursões a embarcações relacionadas de alguma maneira a “Israel”, que transitam pelo Mar Vermelho, as transportadoras seguradoras estão considerando inviável a manutenção do trânsito pela região. Os grandes monopólios imperialistas que possuem suas embarcações estão fazendo o mesmo. Foi o caso da Shell, que anunciou, nessa terça-feira (16), que seus navios petroleiros não transitarão pelo Mar Vermelho até que situação seja resolvida, conforme revelação feita pelo Wall Street Journal, órgão da imprensa imperialista norte-americana.

No mesmo dia, as Forças Armadas do Iêmen confirmaram ataque a navio grego que transitava sem autorização pelo Mar Vermelho, hasteando a bandeira de Malta (reconhecido centro marítimo, porta de entrada para a UE). Em declaração seguida ao ocorrido, Nasruldeen Amer, porta-voz do Iêmen, afirmou que “o navio não precisa necessariamente estar indo para Israel para que possamos atingi-lo; basta que seja americano. Os Estados Unidos estão à beira de perder a sua segurança marítima”.

Em outras palavras, para além do bloqueio contra “Israel”, bloqueou também as embarcações norte-americanas de transitar pelo Mar Vermelho. Um profundo golpe contra o imperialismo, o qual se deu em razão dos ataques que EUA e Inglaterra vêm lançando contra o Iêmen desde a semana passada, conforme relatado por este Diário.

Como consequência da ação do Iêmen, a Suzuki, monopólio imperialista japonês, teve de suspender sua fábrica na Hungria, cujo funcionamento ficará parado até, pelo menos, o dia 21 de janeiro.

A crise gerada pelo bloqueio realizado pelos Hutis, em apoio à luta do povo palestino contra o sionismo, é tamanha que, nessa quarta-feira (17), foi noticiado que o custo internacional do frete marítimo dobrou dada a situação no Oriente Médio. “O preço médio para transportar 1 contêiner subiu de US$1.520 em meados de dezembro para US$3.070 em janeiro”, segundo noticiou o órgão de imprensa Poder 360, divulgando dados do WCI (índice Mundial de Contêineres).

Já na questão política/militar, a crise também é perene. Dois Navy SEALs, militares da tropa de elite da Marinha dos EUA, desapareceram ao tentar, na semana passada, invadir navios que estavam próximos à Somália. Segundo notícias da imprensa burguesa, a operação fracassada visava impedir que armamentos iranianos chegassem ao Iêmen. Conforme a versão, os militares se preparavam para embarcar em um navio no Golfo de Ádem no dia 11, um dia que o mar estava agitado, quando um deles teria escorregado de uma escada e o outro mergulhou ao ver o companheiro na água para ajudá-lo.

Uma versão pouco crível, diga-se de passagem. SEALs se afogando…

Mas não é apenas isto.

Em outra notícia, Emmanuel Macron, presidente da França, um dos mais importantes países imperialistas, declarou ainda na quarta-feira (17), em uma coletiva de imprensa transmitida no X (antigo Twitter), que não irá se juntar aos Estados Unidos e à Inglaterra em seus ataques aos Hutis:

“A França decidiu não aderir à coligação que realizou ataques preventivos contra as posições dos Hutis no seu território porque queremos evitar qualquer escalada.”

O mandatário francês destacou ainda que se trata de uma questão diplomática, e não militar, mostrando o fracasso dos EUA em sua coligação militar para combater a ação revolucionária dos Hutis: “trabalhamos para proteger a liberdade de navegação marítima. Esta é uma questão diplomática, não militar”.

Vale lembrar que a “Operação Guardião da Prosperidade”, coligação de mais de 20 países criada pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido para tentar desbaratar a ação revolucionária dos Hutis, foi desatada em 18 de dezembro de 2023. Isto é, há 1 mês. Contudo, não conseguiram derrotar os Ansaralá em seu apoio aos palestinos.

De forma que classificar o partido iemenita é um sinal de debilidade do imperialismo, mais um de muitos que ainda virão. E um sinal de mais uma vitória da resistência palestina, contra “Israel” e o imperialismo. Não é à toa que, após o anúncio da Casa Branca, o Iêmen deixou claro que não recuará e continuará atacando as embarcações que ajudariam a ocupação sionista, dobrando a aposta ao afirmar que os EUA não têm as condições necessárias para impor sanções como as pretendidas.

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