Há alguns meses, tem chamado a atenção a preocupação de alguns dos principais órgãos da imprensa imperialista com a condução do ministro José Antonio Dias Toffoli acerca de temas relacionados à Operação Lava Jato. Em 7 de março, um artigo da revista britânica The Economist, intitulado A corrupção está crescendo em toda a América Latina, criticava o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) pela suspensão de acordos de leniência realizados no âmbito da operação.
O texto, então, cogita que há “uma reação contra os esforços anticorrupção” na América Latina, citando casos de Honduras, México e Guatemala. Não por acaso, o artigo foi publicado justamente no momento em que o imperialismo partiu para uma contraofensiva na América Latina, cujo objetivo é coagir todos os países da região a se alinharem à sua política externa, em um momento de grande fragilidade militar. O artigo termina com o que pode ser interpretado como uma ameaça ao presidente Lula:
“O antigo regime [políticos supostamente contra os ‘esforços corrupção’] tem lutado de volta, e tem vencido. Mas deve ter cuidado. Em uma pesquisa nacional divulgada em 3 de março, uma pluralidade de brasileiros disse que a Lava Jato foi fechada devido a interesses políticos. Um total de 74% dos entrevistados acreditam que as decisões recentes do STF ‘encorajam corrupção’.”
A matéria O juiz por trás da iniciativa para enterrar a maior investigação de corrupção da América Latina, do jornal britânico Financial Times, critica o ministro do STF ainda mais abertamente. Após citar algumas das medidas tomadas por Toffoli, o jornal cita um professor de ciência política que teria dito que “as decisões dão ao público a sensação de que o Brasil está retrocedendo” e que elas “geram decepção, cinismo, desdém pela própria política — que pessoas poderosas sempre se safam dela — e é isso o que abre o caminho para o populismo”.
Os artigos na imprensa internacional são muito claros: ainda que o imperialismo tenha recuado nos seus objetivos com a Lava Jato, ele nunca pretendeu pôr fim à operação. O imperialismo nunca teve como objetivo desmontar a operação: os seus métodos vieram para ficar. Para o imperialismo, a Lava Jato deve permanecer montada, para quando for necessário retomar uma ofensiva contra os seus inimigos políticos.
Na última semana, alguns acontecimentos indicam que esse momento pode estar chegando. O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, foi indiciado pela Polícia Federal, no primeiro escândalo de corrupção do atual mandato. No mesmo momento, o governo Lula anulou uma das mais importantes medidas que tomou frente a catástrofe no Rio Grande do Sul, o leilão de arroz, devido a denúncias de corrupção. Por fim, ainda que seja uma denúncia de outro tipo, chama a atenção as acusações, que partiram da imprensa burguesa, de que pessoas ligadas à esquerda estariam montando uma “milícia digital”, uma espécie de “gabinete do ódio”.
Tudo isso ocorre em um momento de grande crise do governo, que tem gerado embates públicos com representantes da indústria e do “agronegócio”. Somando a isso tudo o fato de que a extrema direita saiu às ruas no dia 9 de junho pelo “Fora Lula”, as notícias sobre corrupção são um péssimo sinal.