Eleições na Europa

A verdade é que a esquerda perdeu na França e na Inglaterra

A Unidade Popular é incapaz de compreender que a esquerda e os trabalhadores levaram um golpe tanto na França quanto na Inglaterra

As eleições na Inglaterra e na França foram ambas um enorme golpe da burguesia imperialista contra os trabalhadores e a esquerda. No entanto, o mais impressionante é que a esquerda pequeno burguesa comemorou como se a União Soviética tivesse acabado de tomar Berlim e derrubar o nazismo. Foi o caso da Unidade Popular que publicou em seu jornal A Verdade o texto: “Fascistas são derrotados pelo povo em eleições no Reino Unido e França”.

O texto começa com a Inglaterra: “no Reino Unido, o partido Reform UK, do fascista Nigel Farage, conseguiu apenas 5 parlamentares e o Partido Conservador, do atual primeiro-ministro Rishi Sunak, foi derrotado pelo Partido Trabalhista, principal partido social-democrata daquele país. Em vários distritos, inclusive, candidatos de esquerda independentes saíram vitoriosos em disputas onde uma das principais pautas foi o fim do genocídio do povo palestino”.

Fora os candidatos independentes da esquerda que venceram, é absurdo afirmar que a extrema direita foi derrotada pelo povo. O partido de Farage cresceu de 600 mil votos para 4 milhões! O problema é que o voto distrital na Inglaterra permite uma gigantesca manipulação. O Partido Trabalhista, por exemplo, caiu de 10 milhões para 9 milhões e ainda assim cresceu mais de 200 cadeiras no Parlamento. O que houve foi que a burguesia deu um golpe eleitoral contra a extrema direita, o povo aumentou em massa seu apoio ao partido de Farage.

Ele fala sobre a França: “após o primeiro turno das eleições parlamentares, o tão propagado domínio da extrema-direita da Reunião Nacional (RN) de Marine Le Pen caiu completamente, tendo sido derrotado pela Nova Frente Popular (NFP), que reúne vários partidos e é liderada pelo partido França Insubmissa (LFI), de Jean-Luc Mélenchon”. A farsa na França foi parecida. Os trabalhadores moraram em massa em Le Pen, 10 milhões de votos. A esquerda unificada na Nova Frente Popular teve apenas 7 milhões. O voto distrital deu mais cadeiras para a NFP, mas o povo votou mais em Le Pen. Ou seja, caso houvesse mais democracia, a extrema direita teria crescido muito em ambos os países.

O golpe no Reino Unido

A Verdade então erra sua análise mais específica sobre a Inglaterra: “depois de 14 anos fora do governo, o Partido Trabalhista voltará ao poder no Reino Unido. Apesar de muito distante das posições socialistas que um dia já defenderam, os trabalhistas só conseguiram a vitória contra conservadores e fascistas por causa da mobilização da população contra o governo de Rishi Sunak”. Essa análise é totalmente incorreta. Fosse verdade isso o voto dos trabalhadores teria sido o maior nos últimos 14 anos. Na verdade, foi a menor votação geral desde o sufrágio universal e a menor votação dos trabalhistas nos últimos 14 anos.

O que aconteceu então? A burguesia realizou um golpe dentro do partido trabalhista para transformá-lo em um novo partido conservador. Derrubaram Jeremy Corby, o dirigente de esquerda do partido, e colocaram um homem da direita sionista pró-OTAN e ligado aos serviços de inteligência ingleses, organizações das mais criminosas do mundo. A UP ignora completamente essa realidade. Considera a vitória desse direitista pior que Macron como uma vitória dos trabalhadores.

O texto segue: “nessa conjuntura, a população votou amplamente contra o Partido Conservador, levando à vitória dos trabalhistas, que fizeram a maior bancada desde o fim da 2ª Guerra Mundial. A mobilização a favor do povo Palestino foi tão forte, que candidatos independentes venceram até os trabalhistas em ao menos 5 distritos eleitorais, fazendo o mesmo número de cadeiras que o partido reacionário Reform UK”. O que houve não foi que a população saiu do partido conservador para a esquerda, os trabalhistas tiveram menos votos. Os votos do partido conservador migraram para a extrema direita. A eleição é, na verdade, um aviso do perigo da extrema direita.

O golpe eleitoral na França

Sobre a França, a UP analisa: “na eleição do último domingo, foram a população imigrante e os trabalhadores franceses pobres dos grandes centros urbanos que capitanearam a reação que levaram as derrotas do partido fascista e dos liberais liderados por Macron. Nos distritos eleitorais de cidades como Paris, Marselha, Lyon, Grenoble ou Toulouse a ampla maioria dos deputados eleitos foram os da Nova Frente Popular. Nos territórios coloniais franceses do Caribe, Guiana Francesa, e nos oceanos Pacífico e Índico, os fascistas não elegeram nenhum deputado”.

Pode ser verdade que nas grandes cidades a classe operária votou na esquerda. Mas há dois problemas aqui. O primeiro é que o partido mais votado foi o partido da extrema direita. E segundo a Nova Frente Popular em si foi um golpe. A esquerda propriamente, a FI de Melenchon, que tem toda a popularidade, se tornou uma força minoritária dentro da própria frente. Os ecologistas e o Partido Socialista, dois partidos neoliberais do imperialismo, foram os que mais cresceram dentro da frente. Ou seja, a esquerda sofreu um enorme golpe nas eleições e A Verdade está comemorando.

O jornal ainda cita o discurso de Melenchon: “o líder da França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, reconheceu este cenário. No seu discurso de vitória ele agradeceu: ‘quero agradecer calorosamente os bairros da classe trabalhadora que se mobilizaram em massa. Eles salvaram a República’”. Aqui o próprio Melenchon não quer acreditar que tomou o golpe. Os trabalhadores se mobilizaram de fato, mas no voto popular a extrema direita venceu. Os trabalhadores mais conscientes sofreram com a armadilha da frente ampla, eles lutaram, mas a esquerda não cresceu.

O texto conclui: “agora, será necessária a ampliação das mobilizações para a derrota definitiva dos fascistas. Novamente, as eleições na França e Reino Unido mostram que muito mais que um movimento fascista imbatível e com apoio popular, o que existe mesmo é apenas a propaganda da grande mídia burguesa para colocar medo nas pessoas e impedir o avanço das pautas populares e garantir os lucros dos grande bilionários do mundo às custas da exploração dos trabalhadores”.

A mobilização é importante para todas as vitórias políticas dos trabalhadores. Mas com a política da UP a derrota é certa. O papel do partido revolucionário é apontar o caminho da luta dos trabalhadores. Se o povo da França e da Inglaterra seguira o que diz A Verdade apenas irá sofrer mais golpes da burguesia e eventualmente da própria extrema direita que ele afirma que foi derrotada.

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