Em sabatina promovida pelo jornal O Estado de S. Paulo, o candidato do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos, deixou claro qual será a sua política em relação aos movimentos de ocupação urbana. Isto é, os movimentos de luta por moradia. E ela em nada se difere dos carrascos da esquerda e dos trabalhadores como Geraldo Alckmin, João Doria, José Serra, Ricardo Nunes, Gilberto Kassab e Bruno Covas.
Quando perguntado, durante a sabatina, sobre a questão da moradia, Boulos afirmou que “meu governo em São Paulo vai ser o que terá o menor número de ocupações da história dessa cidade”. Logo ele, o homem que ficou conhecido como o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), agora promete ser o prefeito da campanha ocupação zero!
Cinicamente, o argumento de Boulos foi o de que “o movimento de moradia atua, ocupa imóveis abandonados, quando não tem política pública e diálogo com o governo”. Não é fato. O movimento de moradia deixa de atuar apenas quando não há demanda de moradia. E para que não haja demanda de moradia no Brasil, é necessário algo que Boulos nunca se mostrou favorável a fazer: travar uma guerra contra a especulação imobiliária e contra os grandes bancos.
Uma política progressista seria a de zerar as ocupações por meio do fim do déficit habitacional. Zerar as ocupações de outra maneira significa, por razões óbvias, reprimir um dos movimentos com demandas mais urgentes da luta dos trabalhadores.
Boulos não deixa margem para dúvidas de que é justamente isso que tem em mente. Sob o pretexto de beneficiar apenas o que chama de “movimento organizado”, o candidato do PSOL criticou o que chamou de “loteamento clandestino na periferia ligado ao crime que ocorreu a torto e a direito na gestão do Ricardo Nunes, debaixo do nariz”. A pergunta que fica é: quem dirá o que é “movimento organizado” e o que é “loteamento clandestino”? Será o Judiciário? Será o próprio Guilherme Boulos e seu assessor da ROTA?
Pela fala de Boulos, fica claro como a questão de moradia seria tratada. Em vez de a prioridade ser fazer um levantamento de todas as pessoas que necessitam de um teto e garantir um lar para elas, o candidato está preocupado em reprimir uma parte do movimento de moradia.
O Estadão deu mais uma oportunidade para que Boulos saísse por cima e se colocasse como um aliado dos sem teto. O jornal perguntou: se houver invasão, o senhor vai fazer reintegração de posse? O psolista, em vez de dizer “é claro que não, pois ninguém deve ser reprimido por reivindicar um direito constitucional”, iniciou dizendo que, “primeiro, nós vamos dialogar com os movimentos sociais”. Isto é, que não irá utilizar a força de imediato, mas que, uma vez que a Justiça delibere pela desocupação, o candidato irá atuar para que sua ordem seja cumprida.
E se o “diálogo” não resolver? Se os sem teto disserem “não concordamos com o que a prefeitura nos promete, queremos ficar aqui”? Eis a resposta de Boulos:
“Agora, havendo uma situação como essa, o prefeito tem coisas que não cabem. Não vou prevaricar. Senão eu sou preso. Você tem obrigações funcionais. E é disso que se trata.”
Ao prometer repressão para os sem teto, Guilherme Boulos consolida a sua nova imagem. Na época em que era liderança do MTST, o psolista tentava imitar o atual presidente Lula. Há, inclusive, gravações em que Boulos aparece tentando imitar a voz inconfundível do petista. Os marqueteiros de Boulos tentaram, por vezes, fazer com que Boulos falasse de um jeito mais popular, que imitasse a gesticulação do presidente da República – tudo muito grotesco.
Como bem disse o próprio Boulos, ele agora não é mais líder de movimento. Ele é deputado federal! Ele não precisa mais fingir que é uma liderança operária, não precisa fingir que fala a língua do povo. Ele precisa mostrar que defende os interesses da Faria Lima.
De cosplay de Lula, Boulos passa agora a cosplay de Fernando Henrique Cardoso. De um playboy tentando se passar por liderança popular, o psolista passou a ser um esquerdista que se diz preocupado com as causas sociais, mas que faz do cacetete da polícia o seu grande instrumento de promoção da “democracia”.