HISTÓRIA DA PALESTINA

A Revolução de 1936 na Palestina, exemplo da Revolução Permanente

Todas as organizações da luta palestina tem o ano de 1936 como grande inspiração, mesmo com a derrota, a FDLP, ao analisar os acontecimentos, chega as mesmas conclusões que Trótski

Em 1936 uma movimento revolucionário tomou conta da Palestina. O governo britânico teve de realizar uma repressão gigantesca para derrotar a revolução. Foi o primeiro grande movimento nacional de libertação da Palestina, uma inspiração para os palestinos que lutam até hoje. Na década de 1960, quando os eventos ainda não eram tão antigos, a Frente Democrática de Libertação da Palestina, um dos grupos da luta armada, escreveu sobre esse grande evento e fez uma análise sobre os acontecimentos.

O texto, escrito em 1970, começa: “a revolução de 1936 (com todos os equívocos que a acompanharam) nos dá um modelo para estudar, um modelo que é, sem dúvida, um dos melhores modelos de luta dentro da história da causa palestina. Isso porque a revolução de 1936 foi o clímax da luta palestina contra tanto o mandato britânico quanto a existência sionista e veio após longos anos de luta pacífica que se manifestaram em documentos de posição, manifestações, greves intensivas e muitos esforços para persuadir a Grã-Bretanha a parar de ajudar o movimento sionista”. Ou seja, a revolução em primeiro lugar é uma inspiração para a luta armada, algo inevitável para quem luta contra o sionismo.

Ele então descreve um pouco a realidade: “as principais organizações da revolução de 1936 cresceram e se espalharam entre os trabalhadores que vieram do campo para a cidade em busca de trabalho (um grande número desses trabalhadores se estabeleceu ao redor de Haifa). Quando essas organizações se expandiram, elas não olharam para as cidades, mas se dirigiram para o campo, onde começaram a organizar os camponeses e convencê-los da necessidade da revolução. As lideranças que assumiram a responsabilidade de organizar e preparar a revolução, no entanto, estavam desconectadas das lideranças familiares feudais e burguesas que estavam ativas na arena ‘política’”.

Esse fator mostra como o movimento revolucionário tomou conta de toda a sociedade. Partindo da economia moderna, dos operários palestinos no entorno de Haifa, e também Jafa (atualmente chamada de Telavive), e se espalhando para todo o campo, onde viviam a maioria dos palestinos.

O grande heroi da revolução, assassinado antes dela começar, foi Izz al-Din al-Qassam. Sobre ele a FDLP comenta: “o homem que desempenhou o papel mais importante na organização da revolução, material e politicamente, ao agitar entre os trabalhadores e no campo, foi al-Qasam, um simples clérigo que não estava atrás de glória pessoal e preferia trabalhar fora dos holofotes. Embora al-Qassam estivesse mais consciente da norma de sacrifício do que estar à frente e ser o fator de liderança na luta das massas contra a Grã-Bretanha e o sionismo. Ao agitar entre as massas pela luta armada, al-Qassam deu a essa posição força suficiente para permitir que a luta continuasse por três anos após sua morte. Esses foram os anos que viram uma revolução violenta ocorrer em todas as partes da Palestina, criando novas condições em toda a área árabe”.

O setor mas revolucionário, liderado por al-Qassam, tentou se unificar com a tradicional classe dominante da palestina, que também estava sendo oprimida pelos britânicos. “Pouco antes de al-Qassam lançar a revolução, ele contatou Hajj Amin al-Huseini [o governante em Jerusalem] e pediu para ser nomeado um organizador de mobilização para trabalhar na preparação da revolução. Huseini se desculpou, dizendo: ‘Estamos tentando resolver o problema politicamente’. Em 1935, al-Qasam enviou um de seus homens, chamado Mahmoud Salem, a al-Huseini para informá-lo de que al-Qasam havia decidido proclamar a revolução no norte e pedir-lhe que fizesse o mesmo no sul, mas al-Huseini respondeu que ainda não era o momento para tal ato e que os esforços políticos que estavam sendo feitos eram suficientes para garantir aos árabes da Palestina seus direitos”.

Al-Qassam começou a luta armada contra os ingleses sem a ajuda dos proprietários e governantes palestinos. A repressão imperialista foi brutal. Em uma das batalhas ele foi assassinado, no entanto, o efeito da sua morte foi iniciar o processo revolucionário em todo o país. O martírio de al-Qassam inclusive é homenageado até hoje pelo Hamas, que deu o nome de suas brigadas, as Brigadas al-Qassam, em homenagem a ele.

A FDLP então descreve os acontecimentos: “a revolução de 1936 se dividiu em duas fases. A primeira fase começou em 19 de abril de 1936, com uma greve geral, e a segunda fase começou em outubro de 1937 e continuou até setembro de 1939. O Comitê Árabe Supremo, sob a liderança de Hajj Amin al-Huseini, não apoiou a greve de abril de 1936 e foi forçado a apoiar a revolução somente após sua eclosão e disseminação. A liderança burguesa estava comprometida com a solução política e continuou a pressionar por ela enquanto a revolução se intensificava”.

Al-Husseini, que era o nacionalista moderado mais combativo teve de aderir a revolução conforme ela tomava conta de toda a sociedade. A FDLP considera que: “o Comitê Supremo Árabe via o movimento revolucionário palestino como uma faca em seu pescoço, especialmente porque essa revolução popular estava fora de seu controle, e todos sabiam que as lideranças burguesas queriam assumir o controle da revolução e desviar seu curso no momento em que surgisse a oportunidade, porque a luta das massas era uma ameaça aos interesses da classe burguesa”. Como de costume, as classes dominantes locais não conseguem acompanhar o movimento revolucionário dos operários e camponeses. Isso foi crucial para a derrota da revolução, que não tinha uma direção disposta a levar a luta até a vitória.

A FDLP descreve o processo: “a liderança da greve e, mais tarde, da revolução era formada por líderes do movimento popular que não tinham nenhum vínculo com a velha liderança burguesa”. No entanto, “depois da eclosão da greve e da expansão da revolução, a liderança burguesa, representada no Comitê Árabe Supremo, assumiu o comando da revolução por meio da máquina política de que dispunha. E isso resultou no fim da greve. Em junho de 1936, o Comitê Árabe Supremo aceitou um acordo por meio do Rei Abdula, do Emir Saud (Rei Saud), do Iraque e do Emir do Iêmen. Esse acordo não resolveu o problema palestino, mas fortaleceu a revolução contra a conspiração imperialista”.

Ou seja, sem a direção revolucionária o movimento cooptado pelo CAS utilizou os países árabes, na época totalmente dominados pelo imperialismo britânico para frear a revolução. A FDLP considera que isso foi um avanço político. É preciso avaliar os pormenores políticos. Mas fato é, o CAS não estava disposto a seguir as massas revolucionárias palestinas e assim se apoiou nas monarquias reacionárias da região.

A revolução continuou e “a segunda fase, após a dissolução do Comitê Supremo e o banimento de seus líderes para as Seicheles, a revolução se intensificou. Os camponeses palestinos e seus aliados, os trabalhadores, desempenharam um papel crucial na revolução”.

Segundo a FDLP “a primeira fase da revolução falhou por duas razões. A primeira foi a posição da liderança burguesa, e a segunda, a decisão de interromper a greve e as manifestações antes de serem generalizadas e transformadas em luta armada, que era a única forma de luta que poderia levar a uma vitória. A lição a ser tirada da revolução de 1936 é a de que qualquer movimento popular de massas que enfrente uma liderança oportunista burguesa e uma liderança familiar não revolucionária (feudal) não terá sucesso”.

Aqui a organização chega a conclusão marxista. Que o não se pode confiar nos partidos da burguesia para liderar nenhuma revolução. A FDLP assim rachou completamente com a ideia de “revolução por etapas” do stalinismo. Eles aprenderam a lição com a prática. É interessante que na Palestina naquele momento existia um Partido Comunista dirigido pelo stalinismo e ele foi totalmente incapaz de crescer e atuar em meio a essa revolução.

Mas todo esse processo de luta faz parte do desenvolvimento da consciencia do povo palestino. A década de 1930 foi importante para criar a nação palestina. Na década de 1960 se formaram os grandes partidos da luta armada palestina. E na década de 1980, com o Hamas, esses partidos começaram a crescer dentro da própria Palestina. Em 2023 havia na Palestina o que não existia em 1936, um partido revolucionário organizado para liderar a revolução.

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