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Rio de Janeiro

A ‘representatividade’ do imperialismo neoliberal

Produto dos monopólios da indústria fonográfica, a norte-americana é um instrumento para espalhar a ideologia imperialista da moda

A vinda de Madonna ao Brasil foi um enorme empreendimento comercial. Nada diferente, por exemplo, de uma atividade promocional da Coca Cola ou de qualquer outro produto. Madonna é um produto como outro qualquer, o é agora e era quando apareceu, nos anos 80, mas tem suas especificidades, é um produto que fala e se mexe.

E como todo grande empreendimento comercial, para que dê certo, é preciso mobilizar um amplo aparato de propaganda. Para isso, nada melhor do que a poderosa Rede Globo, parte do próprio empreendimento. Mas só a Globo não basta, milhares de rádios são mobilizadas, assim como as redes sociais; os jornais escrevem artigos.

Até aí, tudo normal para o capitalismo. O que impressionou um pouco foi o comportamente da esquerda diante do empreendimento comercial (dizemos “um pouco” porque o histórico recente da esquerda pequeno-burguesa previa o comportamento). A esquerda, sem ganhar um centavo, se empanhou em fazer propaganda gratuita do empreendimento comercial. Descobrimos que a esquerda, que antes tinha uma visão crítica sobre os lixos produzidos pelo capitalismo, agora não apenas ama, como faz propaganda para eles.

O comportamento, no entanto, tem uma explicação. A esquerda pequeno-burguesa era um dos alvos da propaganda desse empreendimento comercial. Falaram para essa esquerda que beber Coca Cola era a cura do câncer e ela não só acreditou como começou a divulgar essa informação.

No caso de Madonna, a “cura do câncer” é apresentar esse produto como de esquerda e progressista, algo impensável anos atrás para qualquer pessoa minimamente crítica. Madonna sempre foi o símbolo do lixo cultural imperialista. Agora, transformaram Madonna em “lutadora”, em defensora do oprimidos. Ficamos em dúvida se isso é mais falso do que dizer que a Coca Cola cura o câncer.

Bom, o golpe comercial se dá baseado no fato de Madonna ser mulher. A partir desse fato, transforma-se até Margaret Thatcher, a Dama de Ferro do neoliberalismo, em progressista. E a manobra é essa mesmo. Por sorte, Thatcher já era muito velha para essas coisas quando morreu e o identitarismo ainda não tinha tanta força.

Bom, Madonna é mulher, ninguém pode negar, já que sua carreira toda foi justamente baseada nisso. Madonna é o símbolo do neoliberalismo na indústria fonográfica. A letra de Material Girl diz que “Porque o cara com dinheiro vivo/É sempre a pessoa certa (…) Porque nós vivemos num mundo materialista/E eu sou uma garota materialista”. Poderia ser só uma música, mas não dá para não se perguntar por que a indústria a lançou naquele momento. Lançada em 1984, ela expressa o auge do neoliberalismo. Madonna foi um instrumento do imperialismo para espalhar para o mundo a ideologia neoliberal. O lema é “tudo por dinheiro”.

Se é verdade que Madonna era uma mulher “emponderada”, ela o é porque tem dinheiro e está disposta a tudo para ter mais. Se é verdade que Madonna é uma mulher lutadora, ela o é porque luta para ter dinheiro.

Mas e agora, décadas depois? Agora, o mesmo imperialismo, os mesmos neoliberais, tem ideias recicladas para espalhar para o mundo. Não é apenas a mulher “empoderada” que faz de tudo por dinheiro. Agora, mais gente deve ter o “direito de fazer tudo por dinheiro”:

“Mas ela vai além do que é ser mulher em nosso tempo e expande seus questionamentos à inferiorização dos códigos associados ao feminino, abraçando, assim, a comunidade LGBTQIAP+. Madonna usa sua voz – é possível encontrar na internet discursos maravilhosos em que se posiciona e explica suas motivações – mas também age e, como artista que é, faz isso destemidamente e lindamente, incorporando códigos cheios de referências à sua apresentação.”

A afirmação acima consta num artigo publicado num portal chamado Update or Die, assinado por Vivian Vianna, com o título Representatividade importa e Madonna me representa. A opinião da colunista não é original. Coisa do mesmo tipo foram publicadas na Globo, na Folha de S. Paulo e em jornais de esquerda pequeno-burguesa.

A “representatividade” de Madonna é ser mulher e falar dos LGBTs, dos negros etc. Isso seria o grande progressismo de Madonna. O que ninguém entendeu – só aqueles que armaram o circo entenderam – é que essa representatividade é a do dinheiro. É um individualismo quase doentio do “vencer na vida”. Agora, não é mais a mulher que pode vencer na vida se fizer tudo por dinheiro; os LGBTs também podem.

Madonna foi e continua sendo o instrumento do neoliberalismo cujo cerne ideológico é o individualismo.

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