Aqueles que acham que a crise síria se encerrou com a derrubada de seu presidente, Bashar al-Assad, ignoram a realidade. A tendência mais forte no momento é que os conflitos se acirrem até que haja estilhaçamento da Síria como país. “Israel” ocupou uma parte da Síria, os Estados Unidos já ocupam, há muito tempo, outra, inclusive controlando o petróleo do país. Há ainda forças que se conjugaram para derrubar Assad, mas que não são exatamente aliados, como a Frente Al-Nusra, que é uma filial da Al-Qaeda, e o Exército Democrático da Síria.
O mais provável é que um cenário como esse leve a uma outra guerra civil. Neste momento, portanto, o mais provável é uma “balcanização” da Síria, a destruição da Síria como país unificado.
Há ainda uma outra possibilidade. Em países onde os governantes foram derrubados pelo imperialismo e nos quais se estabelecem regimes brutalmente imperialistas, normalmente surge uma reação interna muito grande. Foi assim, por exemplo, no Iraque. Saddam Hussein foi derrubado, mas a dominação imperialista do Iraque gerou uma reação interna poderosa.
Uma coisa curiosa é o seguinte: o Talibã saudou a vitória da Al-Qaeda, o que é natural, porque o Talibã é ligado à Al-Qaeda. Mas, ao mesmo tempo, o Talibã também é um inimigo dos Estados Unidos, e o líder da Frente Al-Nusra é visivelmente um homem financiado pelos Estados Unidos. Fica então a seguinte pergunta: Abu Mohammad al-Jolani é apoiado pelos Estados Unidos, mas até onde está disposto a ir nessa aliança com os Estados Unidos?
Não custa lembrar que o imperialismo financiou a Al-Qaeda para combater os russos na década de 1980. No entanto, quando a Al-Qaeda derrubou os russos, ela se voltou contra o imperialismo. O novo governo sírio vai estar sob o controle do imperialismo ou o imperialismo vai ter que desferir um ataque contra os “jihadistas fundamentalistas islâmicos do bem” que ele ajudou a criar?
A política do imperialismo não é uma política 100% segura. Pelo contrário, é uma política desesperada. E essa tem sido, muitas vezes, a tendência. Na Ucrânia, por exemplo, o Partido Democrata investiu no apoio a grupos neonazistas, o que naturalmente leva ao caos.
Na Síria, o caos, ainda que possa levar a grandes desastres, como aconteceu com a insurgência de Osama Bin Laden contra os norte-americanos, pode ser, a curto prazo, a melhor política para o imperialismo. Os israelenses ocupam uma parte da Síria, os norte-americanos ampliam a ocupação do que eles têm, os grupos armados entram em guerra civil, um fica com um pedaço do país, outro fica com outro pedaço. Ninguém controla nada, mas leva a um enfraquecimento geral da Síria. Pode ser até o desaparecimento da Síria enquanto país.
O caso da Síria mostra que a política do imperialismo, neste momento, não é tanto uma política de dominação dos países, porque a resistência ao imperialismo em todos os países já é muito grande. Por isso, a aposta no caos.