Após as eleições municipais recentes, a grande imprensa tenta apresentar que a polarização política no Brasil chegou ao fim. Essa análise, no entanto, não poderia estar mais distante da realidade. Essa é apenas uma das muitas tentativas de manipulação das massas, típica da imprensa burguesa, que busca forçar uma leitura conveniente dos resultados eleitorais. O que se vê, na verdade, é a continuidade de uma polarização intensa entre os blocos que disputam o poder no país, em especial entre o bolsonarismo e a esquerda.
A afirmação propagada de que “o povo quer o centrão” ou que a vitória deste bloco político nas eleições representa o fim da polarização é, no mínimo, um embuste. Esse tipo de análise parte de uma distorção propositada da realidade política. Afinal, se a polarização tivesse realmente acabado, como a imprensa burguesa quer fazer parecer, então o bolsonarismo não teria conseguido um resultado tão expressivo nas urnas.
O bolsonarismo obteve seu melhor desempenho em uma eleição municipal até o momento. Isso mostra claramente que o campo político da extrema direita não só se manteve forte, como cresceu. Como então pode-se afirmar que a polarização acabou? É um absurdo, um jogo de palavras criado pela grande imprensa para moldar a percepção pública de que o Brasil está se afastando dos extremos e se dirigindo ao “centro”, quando, na verdade, o bolsonarismo continua a crescer e a se fortalecer em várias regiões do país.
É importante esclarecer que o chamado “centrão” não é uma força política central em termos ideológicos, mas sim um pântano, um aglomerado de interesses fisiológicos que representa o apodrecimento do regime político. O crescimento do centrão nas eleições não reflete a vontade do povo, mas sim a força das máquinas eleitorais locais, do clientelismo e da compra de votos, que são elementos tradicionais da política burguesa em tempos de eleições municipais. Ou seja, esse “centrão” não representa uma força independente, mas sim a expressão de uma decadência política profunda. O real centro político, representado no passado por partidos como PSDB e MDB, está em colapso, com o PSDB praticamente desaparecendo do cenário político.
O resultado obtido pelo bolsonarismo reflete não apenas o crescimento de uma base eleitoral mais radicalizada, mas também a capacidade de Bolsonaro e seus aliados de canalizar o descontentamento das massas populares. É evidente que o bolsonarismo não desapareceu após a inelegibilidade de Bolsonaro; pelo contrário, ele está mais vivo do que nunca.
A grande imprensa, ao distorcer os resultados e tentar minimizar o impacto da extrema-direita, busca pacificar as massas e preparar o terreno para um governo mais moderado que atenda aos interesses do grande capital. O problema é que essa análise ilusória, ao omitir a força crescente da extrema direita, desarma a classe trabalhadora para enfrentar o perigo real que o bolsonarismo representa para o futuro do país. A versão de que o Centrão venceu a eleição é uma cortina de fumaça que esconde o fortalecimento de uma direita radicalizada que, aos poucos, vai se consolidando como a principal força política no Brasil.
O PT, ao se aliar a setores fisiológicos do chamado centrão e ao abdicar de lançar candidaturas próprias em várias capitais e municípios importantes, contribuiu para seu próprio fracasso. A eleição de candidatos como Eduardo Paes, comemorada por setores do PT como uma vitória, é um exemplo claro da capitulação do partido diante do sistema político burguês. Paes, assim como outros candidatos apoiados pelo partido, não representam uma alternativa real para a classe trabalhadora. Eles fazem parte do mesmo sistema corrupto e decadente que o PT deveria combater, mas que agora defende em nome de alianças eleitorais.
É necessário romper com essas ilusões. A polarização entre o bolsonarismo e a esquerda continua e, se o PT não fizer um movimento drástico em sua política, terá grandes dificuldades nas próximas eleições. O bolsonarismo cresceu nas urnas, e é preciso reconhecer esse fato e combatê-lo com uma política revolucionária de mobilização das massas, que se oponha tanto à extrema direita quanto ao centrão e ao próprio regime político.