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Brasil

A oposição oportunista à extrema direita

Dirigente do PSOL publicou texto em que defende a nada trotskista teoria da luta da democracia contra o fascismo

O ex-militante do PSTU Valério Arcary publicou um texto no sítio Esquerda Online no último 24 de setembro com o título “O que está em disputa no governo Lula?”, sobre o qual teceremos algumas observações a seguir. O texto está dividido em 9 tópicos, mas não trata de 9 pontos diferentes. Alguns tópicos abordam mais de uma ideia e alguns desses tópicos trabalham a mesma ideia.

Começamos com a corrente na esquerda de que “tudo vai bem”, a economia apresenta melhoras significativas nos índices. No entanto, Lula tem ido à direita se utilizando da política neoliberal, principalmente após a indicação de Gabriel Galípolo à presidência do Banco Central e a manutenção da política neoliberal no órgão, o que levaria a um debate dentro da esquerda: devemos apoiar ou atacar o governo Lula? Como segue um pequeno trecho:

“Evidentemente, este giro (o giro à direita. Comentário nosso) alimenta uma justa decepção e frustração na esquerda. Mas não é o bastante para concluir que a melhor tática seria um giro da esquerda da esquerda para a oposição ao governo Lula. Não é lúcido concluir que não há nada mais em disputa diante do governo Lula.”

 Seguimos com a máxima “A questão da análise de um governo, em perspectiva marxista, inicia pela caracterização da natureza de classe do governo.” para depois “Mas não é a única régua. O carácter de classe não esgota a análise porque não é verdade que todos os governos burgueses são iguais. Ao contrário, há muita variedade. Há muitos tipos diferentes de governos burgueses apoiados em distintos blocos sociais. É muito raro e circunstancial que um governo tenha apoio consensual em todas as diferentes frações burguesas. O padrão é que seja apoiado em algumas frações contra outras. O governo Lula é um governo burguês. Um governo atípico ou até uma anomalia para os critérios de dominação da classe dominante, mas burguês. É um governo anormal porque o principal partido dentro da coalizão que o sustenta é o PT e Lula, a maior liderança popular dos últimos quarenta anos, está à sua frente. A representação burguesa no seu interior não é decorativa. A fração que integra o governo é muito representativa e poderosa. Mas a conjuntura é qualitativamente diferente de vinte anos atrás.”

Percebemos, portanto, que todos os anos de militância e o epíteto de militante trotskista não impedem a confusão de Valério Arcary. Ele não define nem qual ala da burguesia participa do governo Lula, nem a qual classe social Lula e o PT respondem. Arcary também não se importa em mencionar exatamente a quem ele se refere como “esquerda da esquerda” que estaria debatendo o apoio ao governo ou sua oposição.

É errada a ideia de que a determinação da classe social não é a única régua para se estabelecer uma política e Arcary só não sabe disso porque seu “trotskismo” é somente uma espécie de propaganda que acompanha seu nome, não sua política de fato. É óbvio que na luta incessante entre as classes sociais a única coisa que pode definir um governo e a maneira como os trabalhadores devem agir diante dele é a classe social. O problema está, justamente, em que Valério Arcary não tem noção de como são essas classes sociais. Ele estabelece que “não é verdade que todos os governos burgueses são iguais” mas não chega a citar em nenhum momento em sua matéria que existe uma divisão muito importante entre a burguesia dos países imperialistas e a burguesia dos países atrasados.

O PT tampouco é um partido burguês, mas sim um partido pequeno-burguês com grande apoio da classe operária e uma política nacionalista. É por isso que a Central Única dos Trabalhadores, principal meio pelo qual a classe operária se expressa no Brasil, tem muita ligação com o PT e com a figura de Lula em específico.

No entanto, o governo de Lula conta com a presença de elementos ligados ao imperialismo, o principal inimigo dos trabalhadores de todo o mundo. Lula, inclusive, tem levado adiante uma política de colaboração com o imperialismo em muitas questões, tendo dado uma guinada nessa direção nos últimos meses.

Entramos, então, no que fazer diante disso:

Disciplina de governo exigiria um apoio incondicional, o que seria indefensável. Mas são elas também que explicam porque seria um erro passar para o campo de oposição ao governo. Uma localização na oposição imporia uma crítica intransigente, o que seria imperdoável. Não há qualquer possibilidade de “ultrapassagem” do governo Lula pela esquerda. Na oposição ao governo quem ocupa todo o espaço político é a extrema-direita.

Demonstrando que os anos de PSTU não foram em vão, Arcary utiliza todo seu sectarismo para criar uma oposição inexistente: ou você apoia o governo de Lula incondicionalmente, ou o ataca. Trótski define essa posição como sectarismo. O sectário é impossibilitado de ver as cores entre o preto e o branco, quando o correto seria apoiar o governo na medida em que ele se coloca contrário ao imperialismo e mais próximo da política dos trabalhadores e criticar o governo quando este se coloca ao lado do imperialismo em diversas questões.

Por características próprias, os governos nacionalistas tendem a ser centristas, indo da esquerda para a direita e da direita para a esquerda de acordo com os ventos favoráveis ou não. O próprio Arcary diz isso em seu texto quando diz que “Não é incomum que governos burgueses, quando sob pressão da mobilização dos trabalhadores e seus aliados, façam concessões.”. Sendo assim, na medida em que o governo percebe uma mobilização dos trabalhadores, tende a ir para a esquerda. Na ausência dessa mesma mobilização, tende a ir para a direita. Vimos isso muitas vezes durante os governos anteriores do PT, que começa com a Carta ao Povo Brasileiro de Lula, indicando um governo subserviente à burguesia, para depois romper com essa política e iniciar uma série de obras no país com o intuito de o desenvolver.

Nos aproximamos então do ponto central do texto, que se utiliza da falsa polêmica dentro da esquerda de apoio incondicional ao governo Lula ou de ataque a esse mesmo governo:

7. A parcela da esquerda radical que defende o giro para a oposição esgrime dois argumentos centrais. O primeiro é que o governo não rompeu sequer com os limites da estratégia neoliberal de ajuste fiscal, portanto, mesmo com a diminuição da pobreza, é herdeiro de Temer e até de Bolsonaro por uma política econômica antioperária e popular que beneficia os grandes capitalistas. O segundo é que não é possível lutar contra a extrema-direita sem denunciar o governo Lula que é responsável pela crise social que explicaria o aumento da audiência do bolsonarismo.

  1. Os dois argumentos têm um “grão” de verdade, mas são falsos. Não é verdade que não há diferença entre o governo Lula 3 e os governos que assumiram o poder depois do golpe institucional de 2016 que derrubou o governo Dilma Rousseff. Não é honesto. Trata-se de um exagero, há muitas diferenças. Tampouco é justo concluir que não se pode lutar contra Bolsonaro sem lutar contra o governo Lula. Ao contrário, o que a vida ensina é que não será possível vencer na luta contra a extrema-direita sem o apoio do governo Lula.
  2. Não está em disputa se Lula terá o seu “momento socialista Fidel”. Não está em disputa se Lula terá seu “momento nacional desenvolvimentista Chávez”. Não está em disputa sequer se Lula terá seu “momento reformista Allende”. Afinal, que está então em disputa? O que está em disputa é o destino da luta contra a extrema-direita. Neste terreno, a frente única de esquerda é uma tática indispensável para vencer o bolsonarismo. Sem Lula e o PT não é possível nem pensar em vencer os neofascistas. Aqueles que subestimam este perigo ainda não compreenderam a máxima gravidade da situação política no mundo e no Brasil.”

Aqui, novamente vemos o quão distante Arcary está do trotskismo. Para ele, há uma luta entre a democracia e o fascismo. Eis o perigo de não se ter a análise pautada nas classes sociais como única “régua”. “Fascismo”, “ditadura” e “democracia” são palavras vazias para a luta política quando não se entende quem realmente domina a política mundial. Neste momento, o imperialismo que está provocando o genocídio na Palestina e no Líbano, que está a um passo de levar o mundo a uma terceira guerra mundial e que, inclusive, foi o responsável direto para a chegada de Bolsonaro ao governo do Brasil, é a “democracia”. Não foi o fascista Donald Trump, mas sim o democrata Obama, com seu vice Biden, quem deram o golpe em Dilma em 2016. Foram eles que não só deram o golpe de estado de 2014 na Ucrânia, mas que também levaram ao governo daquele país grupos nazistas, os mesmos que participaram do extermínio de russos e ucranianos durante a Segunda Guerra Mundial e que só sobreviveram pois foram refugiados nos EUA, protegidos pelos mesmos democratas que os colocariam posteriormente no governo ucraniano.

O principal inimigo dos trabalhadores de todo o mundo é o Imperialismo. Esta é a “única régua” que devemos ter em mente na hora de formular qualquer política. Trótski, inclusive, defende abertamente em seus textos sobre a América Latina que, diante de uma possível guerra entre o governo pseudofascista de Getúlio Vargas e o governo dito democrático da Inglaterra, os trotskistas deveriam se colocar ao lado do Brasil de Getúlio Vargas, porque a derrota do imperialismo, seja ele governado por fascistas ou democratas, é o grande objetivo da luta dos trabalhadores. Além disso, em vários escritos Trótski defende a luta contra as frente populares e contra o fascismo ao mesmo tempo, o que poderíamos traduzir hoje em dia para a luta contra toda a burguesia, diga ela que é fascista, diga ela que é democrata.

Por fim, após Arcary colocar como únicas duas possibilidades de luta ou o apoio incondicional ao governo de Lula, ou o ataque ao governo, acaba por aderir ao apoio incondicional. Não há nada de marxismo nisso. Novamente, é preciso apoiar o governo Lula quando este se coloca contra o Imperialismo e deve-se criticar o governo quando este se aproxima do Imperialismo, sem a necessidade de se atacar o governo em aliança com a direita que quer seu fim, já que Lula possui uma grande importância para a classe operária brasileira e para todos os setores trabalhadores de modo geral.

No entanto, a crítica se faz muito necessária neste momento. Estamos a beira de uma guerra mundial, do endurecimento da política ditatorial, da censura, da tortura e dos massacres contra todos os povos do mundo. Lula, infelizmente, cai no conto do vigário do Imperialismo e tenta uma aliança com esse setor para parar o fascismo, sendo que é o próprio imperialismo dito democrático que apoia o fascista Netaniahu, os fascistas na Ucrânia e em todos os lugares. Apoiar a pseudoluta do ditos democratas contra o fascismo pode nos levar ao que ocorreu na França: o abandono de uma política própria da esquerda contra toda a direita de conjunto, o que acabou em um acordo com Macron, que instituiu o governo fascista que a esquerda tanto queria evitar.

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