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51ª Universidade de Férias

‘A milícia proletária é o instrumento fundamental da Revolução’

A segunda aula do curso “Lenin e a Revolução Russa”, tratando sobre as “Cartas de Longe”, elabora sobre o problema do armamento; Segundo Pimenta, “a questão chave da Revolução”

Na última segunda-feira (15), ocorreu a segunda aula do curso “Lênin e a Revolução Russa”, da 51ª Universidade de Férias do Partido da Causa Operária e do Acampamento da Aliança da Juventude Revolucionária (AJR). O curso é ministrado por Rui Costa Pimenta, presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO).

A aula começou fazendo uma retrospectiva do período inicial da Revolução Russa de 1917, quando em fevereiro ocorreu uma Revolução que derrubou a monarquia. O dirigente do PCO passou rapidamente pelos acontecimentos, falando sobre as diferenças entre a polícia e o exército, a criação dos conselhos de operários e soldados, os sovietes, a confusão da direção pequeno-burguesa e as manobras da burguesia para capturar o movimento revolucionário e assumir o poder. Pimenta assinala que o Partido Bolchevique estava bastante prejudicado nesse primeiro momento, relativamente desorganizado.

Essa primeira etapa da aula, portanto, trata de textos escritos por Lenin nesse período inicial. Naquilo que ficou conhecido como Cartas de Longe, o revolucionário mostra a profundidade e o acerto de sua análise e da política a ser seguida proposta por ele. Pimenta destaca o primeiro trecho da primeira carta, mostrando a clarividência de Lêenin, que se encontrava em Zurique, Suíça, ou seja, muito longe fisicamente dos acontecimentos, sobre a situação:

“Ele tem uma compreensão muito profunda do que está acontecendo na Revolução. Na primeira carta ele coloca como título: ‘A primeira etapa da primeira Revolução’. Quem que pensaria que essa Revolução era a primeira Revolução? Que haveria uma segunda Revolução? Ele [Lenin] diz: ‘A primeira Revolução gerada pela Guerra Mundial imperialista eclodiu. Esta primeira Revolução não será, certamente, a última.’”

Rui Pimenta enfatizou o quanto é impressionante o fato de Lenin conseguir ver o que ocorre com tanta clareza mesmo estando tão longe e, como o próprio reconhece, com escassez de informações. Além disso, é destacado que não só ele entende e prevê os acontecimentos como também explica claramente os motivos de chegar a essas conclusões. O dirigente do PCO explica:

“Ele [Lênin] faz uma avaliação de que as diversas classes sociais da Rússia convergiram para derrubar a monarquia (a burguesia, a pequena-burguesia, a classe operária), até mesmo, num certo sentido, o imperialismo europeu, que estava em guerra. Ele mostra que há um movimento de todas as forças sociais em direção a um objetivo comum. E diz o seguinte: a hora que esse objetivo comum é atingido, os interesses profundamente divergentes dessas foras sociais vão levar a uma nova etapa da luta de classes.”

Conforme foi abordado na primeira aula do curso, Pimenta destaca que a política definida por Lênin tinha como base a própria experiência e as expectativas da classe operária:

“Ele deixa claro que não só não é correto apoiar esse governo, que surgiu da burguesia, como que os operários efetivamente não vão apoiar esse governo. Ele já lança a ideia de que é preciso preparar a derrubada desse governo. Que esse não é o governo do interesse dos trabalhadores da cidade e do campo. Pode parecer óbvio para nós, mas naquele momento, para a esquerda, não era óbvio. […] Ele deixa absolutamente claro que a política é, de forma nenhuma, apoiar o governo provisório.”

Além da palavra de ordem negativa, oriunda da análise de que a Revolução de fevereiro era uma revolução burguesa, democrática, Lênin imediatamente coloca qual é a política a ser seguida nesse caso, já que não se deve apoiar o governo surgido da Revolução. Segundo Pimenta, “ele deixa claro o seguinte: para cumprir as tarefas da Revolução democrática, só a classe operária e o campesinato poderiam fazer. […] Esse é o conteúdo da primeira carta, que expressa uma compreensão profunda da relação entre todas as classes sociais e forças políticas na Rússia em 1917.”

Passando para a segunda carta, Pimenta é bem direto para chegar ao cerne da questão. Neste momento, ele também encara uma polêmica com a maior parte da esquerda mundial sobre o armamento.

“O título da segunda carta é O Novo Governo e o Proletariado. Lenin enfatiza a necessidade de que a classe operária tem que combater o governo. […] É uma polêmica com as pessoas que defendem o apoio ao governo. […] Depois de explicar mais uma vez a oposição entre a classe operária e o governo burguês, ele diz o seguinte: ‘é precisamente a criação de uma milícia de todo o povo, dirigida pelos operários, que é a palavra de ordem correta do dia, que corresponde às tarefas tática do peculiar momento de transição que a Revolução Russa (e a Revolução Mundial) está a atravessar.’ […] A esmagadora maioria das Revoluções que foram derrotadas no século XX foram derrotadas porque a direção política dessas revoluções não tinha essa posição política. […] Se você está desarmado, o que vai acontecer é que a burguesia desfecha um golpe contra aquela Revolução, é a contra-revolução. A primeira coisa que se tem que pensar em uma Revolução, do ponto de vista prático, é montar uma milícia operária.”

Após uma breve avaliação sobre o conteúdo e, principalmente, sobre as conclusões políticas da segunda carta, o presidente do PCO passa para a terceira carta, com o título Sobre a milícia proletária, que aprofunda essas conclusões.

“Ele vai explicar que a milícia proletária é necessária tanto para defender a revolução quanto para aprofundar a revolução, para derrotar a contra-revolução. É o instrumento fundamental da Revolução. O braço armado da Revolução.”

Rui Pimenta esclarece ainda mais a questão das milícias proletárias e do armamento da população. Ele mostra a importância dessa política e o prejuízo de não a compreender corretamente, ou pior, de não a defender. Naturalmente, a exposição se encaminha para uma polêmica sobre as posições atuais com relação ao tema. Desde o primeiro momento, o dirigente do PCO explicou a necessidade de se discutir a Revolução Russa e as teses de Lênin sob a luz dos acontecimentos atuais e com a perspectiva de intervir corretamente neles. Portanto, ele se esforça para mostrar a importância desse debate, que ocorre ainda hoje no interior das organizações dos trabalhadores.

“No Brasil hoje, a esquerda não tem nenhum amor pela ideia do armamento do povo. […] Se você não está disposto a fazer isso, pode esquecer a ideia de ser revolucionário. Pode ser a política mais maravilhosa que for, mas não será colocada em prática. […] A milícia operária popular armada é a questão chave da Revolução. […] Nos lugares onde o conflito é agudo, o problema da organização armada se coloca objetivamente. É o caso da Palestina.”

Pimenta destacou ainda a necessidade dessa política enfatizando como Lênin a colocou:

“Lênin lança a palavra de ordem de milícia proletária antes de chegar no país. É a primeira coisa que ele fala, a primeira preocupação. Ou seja, um aspecto absolutamente decisivo. É importante entender a diferença entre uma esquerda que é institucional, legalista, parlamentar, mesmo que ela fale em Revolução e a esquerda revolucionária que é isso aqui [Lênin].”

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