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História do Brasil

A luta dos identitários é contra a independência do Brasil

Jornalista comenta livro publicado e chama de "golpe" a manobra do primeiro imperador do Brasil para conter as tendências fragmentárias da oligarquia proprietária de escravos

Em entrevista concedida ao canal Fórum na plataforma de transmissões audiovisuais YouTube, o jornalista Ricardo Lessa falou de seu novo livro, “O Primeiro Golpe do Brasil: Como D. Pedro I Fechou a Constituinte, Prolongou o Escravismo e Agravou a Desigualdade Entre Nós” (Editora Máquina de Livros; 1ª edição, 5/6/2024). A parte do princípio de que D. Pedro I governou “como um monarca despótico, sem nenhuma assembleia e com o poder moderador que lhe dá todos os poderes”, conforme as palavras do autor durante a entrevista. Uma colocação estranha, mas que termina revelando a pobreza da pesquisa feita para a produção do livro.

Ao analisar o ponto central da obra, o fechamento da Assembleia Constituinte, Lessa ignora o fundamento da disputa em andamento, no País, entre liberais e monarquistas, na qual os primeiros buscavam construir uma nação aos moldes dos EUA e das repúblicas da América Espanhola, ao passo que os segundos defendiam um regime centralizado. Citando “historiadores modernos”, o autor diz:

Todos os historiadores modernos que li falam que [a Independência] foi um grande processo, o mundo tava muito tumultuado entre [18]20 e [18]30, tinha uma briga no mundo todo, não só no Brasil, entre monarquistas e republicanos e os monarquistas perderam na Europa, perderam nos Estados Unidos, perderam no resto da América Latina, mas mantiveram o enclave aqui, nesse grande País que virou Brasil. Eles mantiveram, com os Habsburgo, uma família que queria manter a monarquia, manteve a Leopoldina.

Ocorre que Lessa coloca os Estados Unidos como exemplo, mas considerando a nação que é hoje e não o que eram à época, com apenas 24 dos 50 estados que compõe a federação atualmente. Curiosamente, a escravidão que tanto incômodo causou a Lessa no caso brasileiro é simplesmente ignorada quando o jornalista coloca os EUA como exemplo, embora o país norte-americano tenha convivido com a escravidão durante todo o período analisado.

Posteriormente, Lessa segue com seus exemplos estranhos, declarando que “muitos países de origem hispânica veem o Brasil com uma certa estranheza, ‘pô esses caras são imperialistas, são monarquistas(…)’”, um comentário que merece explicação sobre o acerto de D. Pedro ao fazer o que o jornalista desorientado critica. Em ambos os casos, o federalismo impôs um retrocesso aos países citados. Nos EUA, implicou em um país onde a unidade nacional é frágil e frequentemente sofre abalos, como os observados na crise da imigração, com os estados sulistas desafiando o governo federal.

No caso da América Espanhola, a realidade é o melhor argumento. Uma nação que começava na América Central e terminava no Estreito de Magalhães foi implodida justamente pela aplicação da política defendida por Lessa.

A exemplo do que ocorreu no fim do feudalismo na Europa, a força das oligarquias regionais impediu a criação de uma grande unidade territorial capaz de impulsionar o desenvolvimento econômico. É evidente que escapa a Lessa, mas a demanda por uma monarquia forte e centralizada partiu dos interesses progressistas da burguesia, enquanto ainda lutava contra a aristocracia e buscava por freios aos senhores feudais, que nada mais eram do que latifundiários dedicados a manter seu próprio quinhão, à revelia do progresso oriundo da expansão econômica trazida pela atividade muito mais dinâmica da burguesia. Isso, na essência, era o que D. Pedro I tentava combater e que Lessa defende.

Tivesse se ocupado de analisar os fatos ao invés de perder-se em considerações mais morais que qualquer outra coisa, Lessa teria observado que durante o período da efervescência revolucionária que marcou a Independência, essa era a disputa em andamento no País. Na Constituinte, composta por parlamentares eleitos por votos censitários (ou seja, com pré-requisitos de natureza econômica), a intervenção de D, Pedro I foi fundamental para impedir, mais uma vez, que os interesses das oligarquias rurais fossem positivadas.

Lessa demonstra não ter a menor ideia do que está debatendo, uma vez que se dedica a criticar as medidas adotadas pelo jovem monarca para contar os mesmos escravagistas que compunham a classe dominante do País, o que não mudaria adotando-se a política fracionista dos demais países da América Latina e tampouco faria surgir uma burguesia industrial como nos EUA. Da falta de pesquisa séria, outras pérolas são cometidas pelo jornalista.

O que D. Pedro I fez pelo Brasil”, questiona Lessa, “para ser considerado herói? A Independência todo mundo sabe que não foi só ele. Foi José Bonifácio com Leopoldina.” Fosse a entrevistadora mais atenta, faria a famosa observação de Stálin, quando o imperialismo sugeriu a participação do papa Pio XII nas conferências dedicadas a discutir o pós-Guerra: “quantas divisões o papa comanda?” As tropas que empunharam as armas e convenceram o mundo de que o Brasil não seria mais uma colônia portuguesa, não eram lideradas nem por um e nem pela outra. A colocação do jornalista e a tentativa de diminuir a importância do primeiro monarca, não expressam mais do que a total ignorância de Lessa no assunto que aspira discutir, mas o autor continua: 

Ele tava lá, com uma dor de barriga no 7 de Setembro, conheceu a Domitila, tava andando a cavalo.” Aqui, o desejo de simplesmente avacalhar a história do Brasil fica explícito. Qual o valor histórico de cada uma das bobagens levantadas por Lessa diante do empreendimento político liderado por D. Pedro I? Naturalmente, nenhum. O homem liderou um processo revolucionário de independência, manteve um país colossal unificado e o contraponto a todos os feitos impressionantes do jovem de apenas 24 anos à época é “dor de barriga no 7 de Setembro”?

Ainda, de maneira um tanto ridícula, Lessa reduz uma viagem politica, feita com objetivo de articular o apoio dos latifundiários paulistas à manutenção da unidade nacional, a “andando a cavalo”, como se o rapaz não passasse de um playboy vivendo uma vida de prazeres e leviandades. É, em suma, um ataque grotesco à história do País, sem outro objetivo além de esculhambar um momento histórico importante, desprezar a importância da unidade nacional e com isso, pavimentar caminho para uma ofensiva mais contundente contra a nação. Um vale tudo desorientado, que termina descambando para a defesa de Lessa aos grandes proprietários de escravos que julga criticar ao atacar o herói da Independência.

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