Fundada no Egito pelo professor islâmico Hassan al-Banna em 1928, a Sociedade dos Irmãos Muçulmanos, também conhecida como Irmandade Muçulmana (al-Ikhwan al-Muslimun), é hoje uma das principais organizações políticas do oriente-médio.
Inicialmente, o movimento caracterizado como Pan-islâmico, tinha como característica a pregação do Islã no Egito em paralelo com uma atividade de movimento social, alfabetizando pessoas e ajudando no estabelecimento de hospitais e ramos empresariais. No entanto, a irmandade evoluiu e se tornou um agrupamento político com o avanço da luta árabe contra o colonialismo britânico, em especial nos anos que seguiram a Segunda Guerra Mundial.
O agrupamento se espalhou para outros países muçulmanos e sofreu duras repressões, em especial no Egito, desde 1948. O grupo continuou a ser marginal na política árabe até 1967, onde na Guerra dos Seis Dias, quando o nacionalismo árabe foi derrotado por “Israel” e entrou em profunda decadência, dando lugar aos movimentos religiosos na política local, sendo na Primavera Árabe o ponto alto da organização da Irmandade em todo Oriente Médio, em especial na sua legalização no Egito em 2012.
Na Palestina, tanto no território hoje ocupado por “Israel” quanto na Faixa de Gaza e Cisjordânia a Irmandade Muçulmana possui um papel de destaque na organização da resistência palestina.
Abdu al-Rahman al-Banna, irmão do fundador da Irmandade Muçulmana, Hasan al-Banna, foi para Palestina ainda sob mandato britânico e estabeleceu a Irmandade Muçulmana em 1935. Outro importante líder associado à Irmandade Muçulmana na Palestina foi Izz al-Din al-Qassam, principal liderança popular palestina, martirizado durante a revolução de 1936.
Os membros da Irmandade lutaram ao lado dos exércitos árabes em 1948, durante a guerra entre os países árabes e “Israel”.
Nas décadas de 1950 e 1960, o objetivo da Irmandade era “a educação de uma geração islâmica” através da reestruturação da sociedade e da educação religiosa, em vez de oposição a “Israel”, e assim perdeu popularidade para os movimentos insurgentes. Tal fator viria a ser alterado com a mudança no panorama político, em especial com a revolução iraniana que possibilitou a Irmandade aumentar sua estrutura na Palestina, e em meio a crise dos grupos de resistência preencher o vazio político deixado.
Ativa tanto na Faixa de Gaza como na Cisjordânia, na forma de islã e política, foi a única organização com seguidores significativos nos campos na década de 1960, onde construiu uma rede sobre as orientações tradicionais do camponês e da classe média baixa. Estes últimos foram pouco atraídos pela questão religiosa, o que fizeram que não se tornassem ativistas religiosos, mas sim, combatentes nacionalistas que usaram intensamente a organização da Irmandade como modelo para a luta contra “Israel”.
A comunidade de refugiados rapidamente se tornou politizada a um nível nunca visto antes na Palestina, impulsionando a luta e a organização do povo palestino contra o Estado sionista de “Israel”.
O foco da atividade da Irmandade na década de 1960 era nas mesquitas. Constituindo mesquitas nos territórios ocupados, o dobro do que existiam antes, as mesquitas serviram para atrair os trabalhadores, desempregados, refugiados, estudantes, camponeses e outros setores de camadas mais baixas da sociedade, fornecendo ajuda econômica, instrução e ensinamentos religiosos, enquanto a liderança oficial palestina entrava em descrença diante da população.
“Os sentidos políticos da Irmandade eram suficientemente aguçados para ligar as mesquitas numa única rede, reforçando e legitimando o estatuto do movimento face à OLP. Este estado de alerta foi justificado no primeiro dia da intifada. Naquele dia, os líderes do movimento fundaram o movimento de resistência islâmica Hamas. A nova organização formou imediatamente uma ala militar cujo objectivo principal era uma estratégia de combate à ocupação, desequilibrando-se e ofuscando a OLP.
Pouco depois, surgiu um grupo dissidente da Irmandade, tentando distinguir-se através de tácticas extremas, ao mesmo tempo que aderia ao mesmo tipo de Islão político que outros movimentos palestinianos semelhantes. Este grupo tornou-se um movimento organizado, autodenominando-se Jihad Islâmica. No início foi fácil provar o seu extremismo na luta contra a ocupação, em comparação com a cautelosa Irmandade. Mas foi mais difícil competir com a nova Irmandade, o movimento Hamas.”(Ilan Pappe, Uma história da Palestina moderna)
Durante o período dos anos 70 até a fundação do Hamas, a Irmandade estabeleceu uma fase de “construção de instituições sociais.” Assim, em 1987, após a Primeira Intifada, o Hamas foi estabelecido a partir de instituições de caridade e instituições sociais afiliadas à Irmandade que ganharam uma forte posição entre a população local.
Dessa maneira, hoje, com o Hamas, a Irmandade Muçulmana é a principal referência política da resistência palestina, organizando um laço político e ideológico entre organizações no Egito, Palestina, Iraque, Síria, Jordânia, formando um importante bloco político contra “Israel” e o imperialismo em todo Oriente Médio.