O Estado de “Israel” invadiu a Cisjordânia e a Faixa de Gaza em junho de 1967. Essa ação, que levou a limpeza étnica que mais 300 mil palestinos, deu início a uma gigantesca ascensão da luta armada do povo palestino. Em dezembro do mesmo ano um grupo de palestinos fundaria uma das mais importantes organizações de luta da história do país, a Frente Popular pela Libertação da Palestina (FPLP). Seu documento de fundação é uma demonstração das tendências revolucionárias daquele momento.
O texto começa: “há cinquenta anos, as massas de nosso povo enfrentaram uma série contínua de ataques do sionismo e do colonialismo contra o povo desta nação, e nosso direito à liberdade e à vida. Cinquenta anos depois, as forças globais do sionismo e do imperialismo continuam a tramar conspirações, ataques e guerras para estabelecer a ideia de uma entidade – o Estado de Israel”. Aqui a organização relembra que a opressão imperialista na Palestina começou em 1917 quando os britânicos conquistaram o território e iniciaram o projeto sionsita.
Então os fundadores da FPLP colocam a conjuntura do momento: “a derrota militar sofrida pelos exércitos árabes serviu como o início de uma nova fase de trabalho em que as massas revolucionárias devem assumir seu papel de liderança responsável em confrontar as forças e armas do imperialismo e do sionismo, que a história provou ser a arma mais eficaz para esmagar todas as formas de agressão colonial e dar a iniciativa às massas populares para formular o futuro de acordo com sua vontade e interesses. A única arma restante para as massas para restaurar a história e o progresso e derrotar verdadeiramente os inimigos e potenciais inimigos a longo prazo é a violência revolucionária em confrontar a violência sionista e a reação”.
A percepção da FPLP se mostrou totalmente correta. Quando em 1967 “Israel” derrotou o Egito, a Síria, a Jordânia e o Iraque em uma guerra, enfraqueceu muito o nacionalismo árabe, principalmente no Egito de Nasser. Isso abriu uma nova etapa da de luta na região de decadência do nacionalismo geral, mas enorme ascenção do nacionalismo palestino. O Fatá, que já existia desde 1959, se tornou um gigantesco movimento de luta contra “Israel”. A FPLP foi criada em 1967 e em poucos anos se tornaria a segunda mais importante organização de luta dos palestinos.
Então destacam a mudança dentro da Palestina: “as massas inteiras de nosso povo palestino vivem hoje pela primeira vez desde a catástrofe de 1948 em um território palestino completamente ocupado, confrontando um inimigo voraz frente a frente, e agora devemos enfrentar esse desafio até o fim ou devemos aceitar ou nos render às ambições do inimigo e à humilhação diária de nosso povo e à absorção das riquezas de nossas vidas. O deslocamento e dispersão dos últimos vinte anos criaram uma circunstância na qual devemos confrontar os invasores sionistas”. Aqui a luta se desenvolveu de forma diferente do que o previsto.
A guerrilha palestina se fortaleceu muito nos países vizinhos a palestina, principalmente na Jordânia. Depois da repressão imperialista no país ela cresceu no Líbano e também na Síria. Foi 20 anos depois, com a Intifada, o grande levante palestino, que o foco da luta voltou a ser a própria Palestina. Mas a FPLP nunca deixou de atuar, está até hoje lutando em Gaza ao lado do Hamas.
Ao fim do documento a FPLP destaca a importância internacional de sua luta: “A luta do povo palestino está ligada à luta das forças da revolução e do progresso no mundo, o formato da coalizão que enfrentamos exige uma coalizão correspondente que inclua todas as forças de anti-imperialismo em todas as partes do mundo”.
E seguem: “este é o início de um movimento do povo levantando as bandeiras do sacrifício, firmeza e desafio. Estamos no terreno e prometemos que a luta armada não é um sonho cor-de-rosa, mas mais luta, liderada pela mobilização política das massas para defender os indefesos contra a represália e perseguição. Estamos marchando cada passo de luta hoje, preparando-nos para lutar uma batalha longa, árdua e amarga com sua liderança e compromisso como os verdadeiros donos da causa. Essa batalha não é fácil nem rápida, mas é a batalha do destino e sua presença exige nosso profundo compromisso, capacidade de continuar e firmeza”.
E concluem: “glória aos firmes de nossa nação árabe Glória à luta de nosso povo Viva a unidade de nossos combatentes na terra da Palestina Nós certamente venceremos. 11 de dezembro de 1967”.
A FPLP não conquistou a vitória final ainda, mas durante mais de 50 anos, e principalmente nas primeiras décadas, impôs grandes derrotas ao Estado de “Israel”. Mesmo não sendo a principal organização de luta dos palestinos, esta era o Fatá, apareceram com grande destaque na luta contra o sionismo. Um dos grandes méritos da FPLP foi nunca capitular ao sionismo. Quando o Fatá participou dos acordos de Oslo e aderiu ao governo fantoche da Autoridade Palestina a FPLP não abandonou a luta armada.
O seu principal dirigente em 2001, Abu Ali Mustafa, foi assassinado pelo Estado de “Israel” durante a Segunda Intifada. Ele daria o novo a brigada armada da FPLP, as Brigadas do Mártir Abu Ali Mustafa, que até hoje lutam em Gaza ao lado do Hamas e de toda a resistência palestina.