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Eleições na Inglaterra

A Inglaterra seguirá o caminho da França?

O partido trabalhista ficou fora do governo por 14 anos e, por isso, não se desmoralizou tanto e tende a vencer, mas a extrema direita pode seguir o fenômeno Le Pen

Na quinta-feira (4), acontecem as eleições parlamentares do Reino Unido. Após mais de uma década de governo do Partido Conservador, ao que tudo indica, o país passará por uma mudança de governo. No entanto, a crise do imperialismo, como observada nos Estados Unidos e na França, não deixa de assolar também o imperialismo britânico. Sendo assim, essas eleições não prometem ser mais uma repetição do que eram nos anos 1990 ou 2000. Tanto a extrema direita quanto a esquerda que não segue os ditames do imperialismo pode ganhar muita força no parlamento.

O Reino Unido possui um sistema parlamentar de eleição no qual os eleitores votam para escolher seus representantes no Parlamento, não um presidente. O país é dividido em 650 distritos, cada um com um parlamentar que representa sua área local. O líder do partido com maioria no Parlamento é convidado pelo rei Charles III a formar o governo e se torna o primeiro-ministro. O líder do segundo partido mais votado assume o papel de líder da oposição. Se nenhum partido alcançar a maioria absoluta, o partido mais votado tenta formar uma coalizão. Caso isso falhe, novas eleições são convocadas. É o parlamentarismo mais tradicional do mundo, o que não significa que é o mais democrático.

Eleições recentes tiveram resultados importantes no país. Em 2014, a Escócia votou contra a independência do Reino Unido com 55,3% dos votos em um referendo. A pressão imperialista sobre esse referendo foi gigantesca e por pouco o nacionalismo escocês não saiu vitorioso. Em 2016, os britânicos decidiram sair da União Europeia (Brexit), com 51,89% dos votos, e a saída oficial ocorreu em 31 de janeiro de 2020. Já a questão do Brexit se tornou central na política inglesa por todo o período entre a campanha do referendo e a saída oficial em 2020. Em grande medida, foi o Brexit que sustentou o governo da direita, pois o partido conservador liderou, um tanto a contragosto, o processo. Os trabalhistas, ao se colocarem ao lado da UE, perdera muita popularidade. Mas, agora, o governo conservador está liquidado, semelhante a Macron.

Desde 2010, o Reino Unido é governado pelo Partido Conservador. Nesse período, houve cinco primeiros-ministros: David Cameron, Theresa May, Boris Johnson, Liz Truss e o atual, Rishi Sunak. A crise maior aconteceu em 2022 durante o governo Boris Johnson, o principal foco de tensão era a guerra da Ucrânia. A Inglaterra é a maior apoiadora da OTAN na Europa e isso gerou uma crise gigantesca. Sunak assumiu em 2022 já com um governo totalmente impopular.

Por isso as pesquisas indicam que o Partido Trabalhista, liderado por Keir Starmer, tem boas chances de voltar ao poder, com 40% das preferências contra 20% dos Conservadores. No entanto, a burguesia inglesa preparou o terreno para essa troca de poder. A ala esquerda do partido trabalhista, liderada por Jeremy Corbyn, foi praticamente expurgada do partido. O partido atual é basicamente um partido neoliberal com uma feição esquerdista, equivalente ao PS da França e ao SPD da Alemanha, ambos liquidados também na atual conjuntura de crise. Os trabalhistas ingleses tendem a vencer, pois aparecem como principal alternativa aos conservadores que destruíram o país nesses 14 anos.

Outros partidos também estão na disputa, incluindo o Reform UK, os Liberais Democratas, o Partido Nacionalista Escocês e o Partido Verde. Um total de 4.515 candidatos de 98 partidos concorrem às 650 vagas no Parlamento, com 459 concorrendo como independentes. O mais importante desses é o Reform UK, o partido do Brexit. Esse partido de extrema direita entrou nas eleições com força total para tomar o lugar dos conservadores. Como se mostra a tendência na França e nos EUA, ele deve crescer muito.

O principal dirigente deste partido é Nigel Farage. Aos 60 anos, Farage é uma figura política controversa na Inglaterra, foi eurodeputado, mas sem nunca conseguir ser eleito para o Parlamento do Reino Unido. Donald Trump, ex-presidente dos EUA, o apelidou de “Mr. Brexit” por ser a liderança da campanha do Brexit durante o referendo de 2016. Pesquisas indicam que Farage tem até 15% das intenções de voto, aproximando seu partido do Partido Conservador e, em algumas sondagens, até o superando, mas sem ameaçar a vitória dos trabalhistas.

Por outro lado, há uma tendência de crescimento à esquerda, que ficou demonstrada pela eleição de George Galloway em fevereiro de 2024. Ele é um membro do Partido dos Trabalhadores e não segue a linha do identitarismo e nem do neoliberalismo, é um ferrenho apoiador da Palestina e, no passado, foi abertamente defensor da vitória do Hesbolá contra “Israel”. O problema é que os últimos 14 anos de governo conservador preservaram um pouco a imagem dos trabalhistas, eles não se desmoralizam completamente como seus aliados nos outros países europeus. Mesmo assim, há uma chance de crescimento da esquerda real nas eleições.

Diante desse quadro, a crise do Reino Unido não tende a se estabilizar com as eleições. Os trabalhistas, se formarem um governo, terão uma política neoliberal muito semelhante à atual. A extrema direita tende a chacoalhar o regime político. A esquerda pode se mobilizar ou não, mas os trabalhadores já têm esse tendencia independente da esquerda, basta ver o caso dos protestos da Palestina. Outro elemento é o nacionalismo escocês, que pode ter uma vitória grande e fortalecer o movimento de independência.

Fato é, a burguesia montou um esquema para não perder o controle do governo da Inglaterra. Mas a crise é gigantesca. Nos EUA e na França, as eleições mostraram que o imperialismo perdeu o controle total, na Inglaterra, pode ser que as pesquisas estejam muito erradas e aconteça uma grande surpresa, tanto para a esquerda, quanto para a extrema direita.

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