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Brasil

A infindável fé da esquerda nas instituições

Artigo de jornalista esquerdista beira o fanatismo religioso, ao dizer que plano golpista foi interrompido, mas sem mostrar o motivo da interrupção

No artigo Estivemos muito próximos do inimaginável, publicado pelo Brasil 247, Denise Assis apresenta uma análise que mais parece um exercício de futurologia religiosa do que uma avaliação política séria. A autora afirma que por pouco o Brasil não caiu novamente em um regime ditatorial, creditando o milagre a algum elemento intangível que simplesmente evitou que Bolsonaro e seus aliados executassem o suposto golpe. Mas, ao fazê-lo, escancara o profundo problema da esquerda pequeno-burguesa: sua total passividade diante das crises políticas e sua dependência de instituições antidemocráticas, como a Polícia Federal”

Assis escreve: “Nos planos estavam, depois de morto o eleito, Lula, a interrupção do processo de transição e tropas na rua”. Aqui, ela tenta pintar um cenário catastrófico que não se realizou. Mas por que não aconteceu? Ora, porque os próprios bolsonaristas deixaram o plano de lado. Isso implica que o “por pouco” não se deveu a qualquer resistência organizada da esquerda ou dos trabalhadores. Não foi a mobilização popular que impediu o golpe; foi a própria avaliação da extrema direita. O que resta à esquerda nesse cenário? Aguardar passivamente e torcer para que, da próxima vez, o golpe também não aconteça?

Esse raciocínio é uma marca da esquerda pequeno-burguesa em momentos de crise. Ao invés de atuar para organizar a classe trabalhadora, Denise Assis parece sugerir que devemos confiar em uma sorte divina ou, pior, no próprio aparato do Estado burguês. Quem teria salvado a esquerda de um golpe? A Polícia Federal? A CIA? O STF? Os mesmos que organizaram o golpe de 2016? Que permitiram a eleição de Jair Bolsonaro? Que mantêm o país sob o domínio das instituições golpistas?

Ao colocar o Judiciário e a Polícia Federal como heróis, Denise Assis ignora o papel histórico dessas instituições. Foram elas que, com Moro e a Lava Jato, destruíram empresas nacionais, perseguiram lideranças populares e ajudaram a abrir caminho para o governo Bolsonaro. E agora, segundo a autora, devemos acreditar que essas mesmas instituições estão salvando a democracia?

Pior ainda é como esse pensamento demonstra o total distanciamento da esquerda pequeno-burguesa das massas populares. Não há qualquer menção à necessidade de mobilização dos trabalhadores, greves ou organização popular para barrar tais ameaças. A autora parece acreditar que a democracia pode ser preservada de dentro de gabinetes, com relatórios e investigações, enquanto a base social fica como espectadora. Esse é o ponto mais grave: ao abandonar a luta concreta e confiar apenas em instituições controladas pela burguesia, a esquerda pequeno-burguesa se torna cúmplice da manutenção do regime político que diz combater.

Golpes de verdade só podem ser barrados pela organização e luta dos trabalhadores, que não é sequer mencionada no artigo. É necessário lembrar que, mesmo durante a ditadura militar, foi a mobilização operária nos anos 1970 que abriu o caminho para o fim do regime, e não as instituições golpistas.

O problema central do texto de Denise Assis é que ele reflete a completa impotência de uma esquerda que renunciou à ação política. Ela conclui seu artigo dizendo que precisamos de vigilância para evitar golpes futuros, mas não propõe qualquer ação prática. Vigilância, neste caso, parece significar apenas observar os acontecimentos de longe e esperar que as instituições façam seu trabalho.

Essa mesma concepção, há oito anos, levou a esquerda ser expulsa da presidência da República.

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