Às vésperas das eleições venezuelanas, o jornalista Alex Solnik publicou um artigo intitulado Maduro já ganhou (28/7/2024), dedicado a reproduzir todas as mentiras e calúnias produzidas pelo imperialismo contra o regime bolivariano, Segundo Solnik, “o bolivarianismo é um regime rumo ao socialismo, e o socialismo não admite alternância de poder por se fundamentar em projeto de longo prazo”, exibindo uma retórica que em muito se assemelha aos ataques da extrema direita ao estilo Javier Milei contra a classe operária.
Não há nada no socialismo que o torne contrário à alternância de pessoas nos postos de comando, sendo tal afirmação pura e simplesmente uma invencionice de Solnik. O jornalista tampouco se esforça para explicar o que o teria levado a escrever tamanho disparate, mas dado o teor do texto, é possível presumir que sua declaração tem como objetivo não apenas a difusão bobagens sobre o socialismo, mas atacar os regimes que, inseridos em uma situação de guerra contra o imperialismo, se reivindicam socialistas.
É o caso não apenas da Venezuela, mas também de Cuba, Nicarágua e mesmo a China, entre outros países onde o interesse nacional se instaurou pela força de uma revolução e, por isso mesmo, não conseguem conviver harmonicamente com o predatório sistema imperialista. Se há uma lição fundamental dada pelo desenvolvimento do século XX, é que a única solução para uma relação pacífica com os governos das nações desenvolvidas é a subserviência total das nações atrasadas, com o consequente esmagamento dos povos desses países.
Solnik, no entanto, simplesmente escamoteia a realidade do mundo em que vive, para, no fim, defender a política do mesmo grupo de interesses que, no Brasil, foi diretamente responsável pelos golpes de 2016 (que derrubaram a presidenta Dilma Rousseff) e de 2018, quando o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, fora atirado à prisão com base em mentiras e ilegalmente impedido de disputar as eleições presidenciais. Embora escreva em um portal de notícias de esquerda muito identificado com o PT, em seu posicionamento, o jornalista demonstra uma proximidade muito maior com os golpistas que prenderam Lula do que com a esquerda.
O caráter reacionário do artigo fica evidente também quando o jornalista diz que “não precisa esperar a contagem dos votos para saber quem vai ganhar a eleição presidencial na Venezuela”, alegando ainda que “Maduro inviabilizou candidaturas, desidratou os votos dos exilados, fechou as fronteiras, expulsou apoiadores internacionais dos oposicionistas”. Sua preocupação com os candidatos golpistas, apoiados pelos EUA, não tem outro objetivo além de buscar sensibilizar um setor da esquerda para a direita venezuelana, reconhecidamente uma das piores do continente.
O articulista continua, afirmando que Maduro “declarou várias vezes que não vai aceitar outro resultado que não a sua vitória”, e acrescentando ainda que “esse combo de atos, decisões e medidas autocráticas mostra claramente que a derrota não é uma opção”. Qualquer ser humano que viveu no Brasil e testemunhou os efeitos da derrota do PT após 2016 sabe que, de fato, para os trabalhadores e a imensa massa pobre dos povos latino-americanos, a vitória do imperialismo não é uma opção.
Os duros ataques sofridos pelo povo brasileiro durante a era Temer e a devastação econômica ocorrida durante o período deveriam servir para uma demonstração do fato de que realmente, “a derrota não é uma opção”. Ainda, mais de 700 mil vítimas fatais de uma pandemia muito melhor controlada na “ditadura” bolivariana do que no gigante latino mostraram, na prática, o que acontece quando um governo dedicado a interesses estrangeiros se instaura em um país atrasado.
Indiferente a tudo isso, Solnik simplesmente passa por cima do fundamento social da luta política, tratando-a como mera disputa eleitoral em que um homem disposto a governar como um ditador malvado simplesmente alijou um povo. Quem são os setores da sociedade venezuelana envolvidos e quais os interesses em disputa, as perguntas mais importantes, simplesmente são ignoradas no artigo do jornalista, que, longe de analisar o que realmente importa, diz:
“Maduro controla a mídia, o Judiciário, o Legislativo, o sistema eleitoral e o Exército. Ele não é apenas chefe de governo, mas de um movimento cívico-militar-policial, portanto baseado na força das armas e não das urnas.”
Porque um movimento cívico seria algo negativo é um mistério, mas a frase expressa a ojeriza típica do imperialismo contra governos populares, especialmente os apoiados por uma mobilização ativa. Solnik, no entanto, repete os preconceitos interessados da ditadura dos monopólios e, sem preocupar com as aparências, continua, destacando por fim o motivo de todos os ataques sofridos pelo governo venezuelano:
“A sua derrota [de Maduro] seria a derrota do regime, o que os militares não vão aceitar, pois o controle do petróleo está sob o seu tacão.”
Quando finalmente coloca uma questão fundamental da luta política (mesmo não sendo a única) em andamento na Venezuela, o jornalista critica o controle das imensas jazidas de petróleo pelo regime bolivariano. Trata-se de uma defesa velada da prostituição de toda uma nação aos caprichos dos monopólios norte-americanos e europeus, os únicos que se beneficiariam de uma mudança na política de controle da commodity.